TÉDIO E SENTIDO NA PANDEMIA: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PENSAMENTO DE VIKTOR FRANKL
Segundo pesquisa feita nos meses de Abril e Maio de 2020, pelo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, 20,5% dos brasileiros que quebraram a quarentena alegaram ter feito isso por um motivo específico: o tédio. Esses dados são preocupantes quando comparados aos altos índices de mortes por COVID-19 nestes mesmos meses. Em outras palavras, muitos brasileiros preferiram arriscar a vida frente à possibilidade de contágio pelo novo coronavírus, do que conviver com o tédio. Neste sentido, este artigo buscará entender tal comportamento humano, visando explorar de forma fenomenológica as características do tédio tendo por base as análises do pensador austríaco Viktor Frankl, em sua obra Em busca de sentido. Segundo Frankl, o tédio se apresenta não como uma neurose psicogênica gerada por conflitos psíquicos, mas sim como neurose noogênica, isto é, relacionada com a questão do fracasso existencial e a questão do sentido da existência. Sendo assim, Frankl revela que o tédio – a faceta mais explícita do vazio existencial – pode apresentar uma noodinâmica, ou seja, um conflito entre a realidade concreta e os ideais do individuo que o levam a questionar-se sobre o sentido de sua existência. Este sentido não se caracteriza como uma invenção abstrata do sujeito, muito menos como algo externo dado pela cultura e suas tradições. Mas o sentido se mostra e é dado pela própria realidade concreta, que interpela o ser humano e lhe solicita uma resposta. Quando o ser humano responde a partir da autotranscendência, tal resposta é capaz de conferir sentido à sua existência.