Um padrão de pronúncia para mudar o status da língua falada no Brasil
Este artigo analisa pela perspectiva da História das Ciências o Primeiro Congresso da Língua Nacional Cantada, que foi organizado por Mário de Andrade em 1937. A reconstrução historiográfica se baseia nos debates sobre a padronização da pronúncia realizados durante o evento. Naquele momento, estava em jogo o status ontológico da variedade brasileira em relação ao português europeu, e a iniciativa de padronização protagonizada por Mário de Andrade colocava o saber linguístico em circulação no país a serviço desse debate. O trabalho apresenta uma leitura crítica das fontes, situa o evento no contexto intelectual da década de 1930 e examina como nele se articularam as interpretações políticas, estéticas e científicas daquilo que se entendia como “língua nacional”. A conclusão é que, apesar de pouco conhecido, esse foi um dos eventos mais importantes da história dos estudos linguísticos no Brasil. Embora não seja simples distinguir um legado, sua relevância se traduz, sobretudo, na permanência, nas décadas seguintes, dos problemas discutidos durante o evento.