scholarly journals A teorização da memória em Coração andarilho, de Nélida Piñon, e em As pequenas memórias, de José Saramago

2021 ◽  
Vol 32 (45) ◽  
pp. 181-197
Author(s):  
Ana Cristina Steffen
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Este trabalho propõe um estudo das obras Coração andarilho, de Nélida Piñon, e As pequenas memórias, de José Saramago. Ambos os autores, além da narrativa dos seus primeiros anos de vida, levantam uma série de questionamentos sobre a memória em si mesma: seus esquecimentos, falhas, invenções. Com isso, tanto Saramago quanto Piñon acabam por realizar uma teorização sobre a memória. Assim sendo, o objetivo central desta pesquisa é mostrar de que forma isso se realiza, usando os postulados de Aleida Assmann, principalmente, e também de Iván Izquierdo. Além disso, também foram utilizadas algumas definições acerca do que é uma teoria propriamente dita, visando expor de que forma ela se constrói, ainda que de diferentes maneiras, nas obras da escritora brasileira e do escritor português.

Sacrilegens ◽  
2020 ◽  
Vol 16 (2) ◽  
pp. 24-37
Author(s):  
Danilo Mendes
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Fazemos neste artigo uma leitura de O conto da ilha desconhecida em três passos: a) percebendo a permissão pelo mistério entre a incompletude da ciência e a presença do inominável; b) experimentando a religião enquanto alteridade; c) clareando a tensão entre terra prometida e terra permitida. Aqui, as principais referências para nossa leitura são Derrida e Lévinas, justamente por serem pensadores que fundam ontologias frente ao desconhecido (seja o inominável ou o outro). A partir dessa leitura podemos dialogar com o tema do mistério enquanto meio para fora de um si mesmo, mas, simultaneamente, como fim em si mesmo. Isso fica claro, sobretudo, no último passo, no qual a ilha desconhecida se transforma em barco, fornecendo riquíssimas possibilidades interpretativas. Salientamos que a religião só pode ser, de fato, objeto de estudo enquanto ela é busca pelo mistério e não o encontro com ele. Por fim, apresentamos uma breve incursão na teoria da religião aproximando o conto do conceito de mística em Rubem Alves. Dessa forma procuramos contribuir com a epistemologia dos estudos de religião, na medida em que postulamos para eles critérios básicos e com a teoria da religião que a compreende entre mistério e alteridade.


2011 ◽  
Vol 9 ◽  
Author(s):  
Lúcia Osana Zolin

Nos últimos anos, tem se tornado recorrente, no campo da literatura, a prática da reescrita de textos literários canônicos a partir de múltiplas perspectivas, como as que se empenham em salientar as diferenças de gênero, de raça e de classe social. No contexto dos estudos sobre literatura de autoria feminina, trata-se de uma tendência, de fato, importante, já que se caracteriza pela produção de um texto novo e autônomo que denuncia a alteridade do/a oprimido/a, no caso, a mulher, e promove o desnudamento de sua identidade. Ana Maria Machado, em A audácia dessa mulher (1999), num interessante diálogo com Dom Casmurro, de Machado de Assis, reescreve a trajetória de Capitu. Do mesmo modo, Nélida Piñon, em Vozes do deserto (2003), reescreve a história de Scherezade, personagem de As mil e uma noites, coleção de contos da literatura árabe, de origem persa e indiana. Se, nos textos originais, essas personagens não têm voz, nas referidas reescritas, elas são construídas imbuídas do direito de falar. É dessa questão que nos ocupamos neste artigo, amparados por teorias críticas feministas.


2008 ◽  
Vol 3 ◽  
Author(s):  
Amélia Cherulli Alsina
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O objetivo deste artigo é analisar conjuntamente as obras Viagens na minha terra, de Almeida Garrett, Viagem a Portugal e A jangada de Pedra, de José Saramago. A partir da temática da viagem à própria terra, pretende-se observar de que modo os autores descrevem a nação portuguesa, definindo para ela, em cada um dos textos, identidades muito particulares. As noções de nacionalismo e anti-epopéia nacionalista, História oficial e histórias populares, simultaneidade e sincronicidade serão utilizadas para comparar-se o conceito de História eleito pelos autores, definindo-se, para cada um deles, uma maneira de recorrer à memória nacional. Ver-se-á que essas viagens são, muito mais do que o simples deslocamento pelo espaço físico, verdadeiras viagens pelo passado português, constituindo-se de interessantes visões sobre a identidade pátria.


Anthropos ◽  
2021 ◽  
Vol 116 (2) ◽  
pp. 367-378
Author(s):  
Carlos Nogueira

In this article I address the problem of the definition, manifestations, characteristics, and causes of catastrophic evil (one that leads hundreds or thousands of people to exclusion, suffering and death in a short time). To this end, I start from a set of George Steiner’s theses on the nature of evil that José Saramago’s thought and literary discourse confirm and support with an eloquence and depth that is rare in both the history of ideas and and in universal literature.


Author(s):  
Maristela Scheuer Deves

O desgarramento da Península Ibérica em relação ao restante da Europa, apresentado pelo escritor português José Saramago no romance A jangada de pedra, pode parecer ao leitor uma história fantástica. Entretanto, sua publicação justamente quando Portugal e Espanha ingressavam na então Comunidade Europeia permite a leitura da obra como alegoria – o que, segundo as teorias de Tzvetan Todorov, eliminaria a classificação de fantástico. Utilizando-se, porém, a lente do neofantástico tal como proposto por Jaime Alazraki, é possível admitir o enquadramento do livro nesse gênero. Com o afastamento temporal de mais de três décadas e a consciência de que nem todos os leitores carregam o conhecimento do contexto em que a obra foi escrita, este artigo propõe que as duas leituras de A jangada de pedra são admissíveis: a (neo)fantástica e a alegórica. 


Protrepsis ◽  
2018 ◽  
pp. 81-94
Author(s):  
Jorge Manuel González Hernández
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Este artículo presenta una reflexión sobre la categoría del silencio en la obra Ensayo sobre la ceguera, de José Saramago. Parte de la aceptación de que la sociedad contemporánea está dominada por el sonido y, sobre todo, por el ruido. Depositaria de la tradición filosófica griega, la sociedad contemporánea discrimina al silencio de forma ontológica y lingüística porque su aparición despierta sospechas en tanto no dice nada. Esta ausencia de sentido que se le otorga al silencio marca una dualidad interpretativa coloquial que necesita de una revisión profunda respecto de la relación que guarda con la palabra. Aquí se revisa esa relación desde la hermenéutica analógica de Mauricio Beuchot con la intención de explicar la dimensión ontológica y la dimensión lingüística del silencio a partir de los ejemplos tomados de la obra de Saramago. El silencio se entiende como un valor que se encarna en lo real y en lo verbal de maneras polisémicas y polimorfas. El resultado del análisis funda una base de clasificación de los modos del silencio que permite identificar su intencionalidad y sus distintas formas de ser a través del lenguaje.


2011 ◽  
Vol 7 (2) ◽  
Author(s):  
Maiquel Röhrig
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Este artigo analisa três obras de José Saramago, nas quais, segundo a perspectiva aqui adotada, o autor levanta e critica a problemática relação entre o sistema dito democrático ocidental e a vida do indivíduo, a qual deve submeter-se à pretensa coletividade, quando, na verdade (e ao contrário), alimenta os interesses de minorias, submetendo-se ainda às leis e ao ideal do bem comum (um paradoxo capitalista). A interpretação alegórica é marxista (Jameson), mas o referencial teórico ancora-se em Sloterdijk, Agambem, Althusser e Foucault.


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