scholarly journals Educação física e tecnologia: o processo de “tecnização” educacional, Evandro Antonio Corrêa, Dagmar Hunger Curitiba, Appris, 2020. 229 p.

Dialogia ◽  
2020 ◽  
pp. 288-290
Author(s):  
Priscila Fátima Da Silva Fiel

O livro Educação física e tecnologia: o processo de “tecnização” educacional, organizado em quatro capítulos, discute as inquietações sobre a utilização de tecnologias tanto por professores quanto por alunos, dentro das temáticas de educação física. A nomenclatura “tecnização” é utilizada mediante diferentes discursos no ensino escolar.O prefácio, escrito por Thais Cristina Rodrigues Tezani, destaca a inserção tecnológica no espaço e tempo na educação física contemporânea e a apresentação da obra aponta as experiências e estratégias tecnológicas utilizadas no processo de ensino e aprendizagem, em diferentes nuances na educação do ensino fundamental II, desmistificando a “modinha” e agregando a utilização de novas tecnologias com o intuito de desenvolver diferentes saberes na educação. Os autores se baseiam nas ideias de Norbert Elias (2006), Pierre Lévy (1999), que compreendem a tecnização como processo civilizatório que se configura entre sociedade, tecnologia e indivíduos.No primeiro capítulo intitulado “Delineamentos da pesquisa e método de abordagem”, Corrêa e Hunger discutem como o ser humano se envolveu e se envolve com a tecnologia e sobre as pessoas que não têm acesso à linguagem tecnológica. Para a coleta de dados da pesquisa contaram com a participação de nove professores, sendo dois de Educação Física, três de Língua Portuguesa, três de História e um de Ciências. O estudo foi realizado com 238 alunos que cursam do sexto ao nono ano do ensino fundamental, e foram utilizados como recursos a sala de informática e computadores.Segundo os autores, a escola, cenário da pesquisa, como espaço tecnológico, limitava-se à sala de informática e à sala de multimídia. Após solicitação, a equipe gestora autorizou a utilização de tablets e celulares nas aulas e foi feito um questionário sobre o emprego destes aparelhos. Evidenciou-se que o maior conhecimento dos alunos está vinculado às redes sociais, jogos e vídeos.A partir dessa verificação foram aplicadas atividades de conhecimento sobre o corpo (conteúdo da educação física) mediado por jogos educativos, jogos eletrônicos e redes sociais. A linha de estudo foi sobre ótica conceitual, procedimental e atitudinal. A proposta durou dois semestres e meio, e, no final do segundo semestre, houve aplicação de novo questionário para alunos e professores. Para a realização das atividades foram disponibilizados links, whatsapp, pixton (história em quadrinhos) Google drive, ebook, escola digital, sites, facebook. Cada grupo os utilizava de acordo com sua necessidade. As técnicas de pesquisa dos alunos foram: questionário, fonte documental, entrevista e observação.Para caracterização de pesquisa-ação houve intervenção constante com alunos e professores. O questionário foi composto por perguntas fechadas e abertas para os alunos e professores. O roteiro realizado para os alunos envolvia perguntas sobre as tecnologias utilizadas e como (e se) propiciavam a aprendizagem; para os professores foram utilizadas perguntas sobre a inserção das tecnologias em sua formação, e se nos últimos cinco anos houve participação em formação continuada que tinha como tema tecnologias.No capítulo segundo, denominado “Processo de “tecnização” e educação: a figuração das tecnologias no contexto escolar”, Corrêa e Hunger discorrem sobre a civilização que compreende as transformações do comportamento humano durante a história. É apresentado o processo de civilização que se refere como uma variedade de fatos, tecnologias diferentes e maneiras de conhecimento, sendo a tecnologia uma extensão do ser humano que afeta ricos e pobres.No terceiro capítulo “Configurações no espaço escolar e a inserção das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem”, os autores propõem que deve haver uma compreensão dos processos humanos e um desenvolver de conhecimentos mais sólidos, e para isso, precisa-se estudar interdependência e estrutura de sociedade. Corrêa e Hunger citando Koehler e Mishra (2006) apresentam a teoria Conhecimento Tecnológico Pedagógico de Conteúdo (TPACK) apontando que a tecnologia não é somente algo a ser aprendida pelo docente, mas sim, vista como um conjunto de representações de conhecimentos dos professores nas disciplinas que utilizam as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) em sala de aula.No quarto e último capítulo intitulado “Saberes, necessidades e desafios percebidos pelos professores no ensino e aprendizagem com a tecnologia”, os autores descrevem sobre a logística da escola, que ficará do jeito que já está: a sala, giz, lápis, cadernos e que o saber tecnológico não pode se separar dos outros conhecimentos pertencentes ao professor, pois esse saber está atrelado à sua identidade e experiência de vida. Para a atualidade, segundo os autores, são necessários conhecimentos básicos (mínimos) das tecnologias para dar aula, pois os alunos não têm hábito de pesquisa e não utilizam os recursos tecnológicos continuamente. Nesse capítulo, Corrêa e Hunger também discutem o conceito de corpo civilizado construído pela presença de pais e professores, do outro e pela expressão de emoções.Em suma, o livro traz uma discussão bastante interessante sobre inserções e apropriação das tecnologias na educação, o que nos faz refletir o quanto recursos tecnológicos bem empregados à escola podem aumentar a produtividade das aulas. A tecnização educacional ainda está em desenvolvimento e em constante movimento, porém, um cuidado se faz necessário para que o papel do professor não se resuma a ser um facilitador que satisfaz os modismos dos alunos.  Cite como: (ABNT NBR 6023:2018) FIEL, Priscila Fátima da Silva. Educação física e tecnologia: o processo de “tecnização” educacional, Evandro Antonio Corrêa, Dagmar Hunger. Dialogia, São Paulo, n. 35, maio/ago. 2020. Resenha, p. 283-290. Disponível em: https://doi.org/10.5585/dialogia.n35.17180.  American Psychological Association (APA) Fiel, P. F. da S. (2020, maio/ago.). Educação física e tecnologia: o processo de “tecnização” educacional, Evandro Antonio Corrêa, Dagmar Hunger. Resenha. Dialogia, São Paulo, 35, p. 283-290. https://doi.org/10.5585/dialogia.n35.17180.

Dialogia ◽  
2020 ◽  
pp. 3-6
Author(s):  
Adriana Aparecida de Lima Terçariol ◽  
Rosiley Aparecida Teixeira

Angela Aparecida da Cruz Duran - Graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pelas Faculdades Integradas de Guarulhos/SP-FIG (1987), Especialização em Didática e Metodologia do Ensino pelas Faculdades Integradas Urubupungá-FIU (1999), Mestrado em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP (2004), Doutorado em Direito pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco da Universidade de São Paulo. Professora do Ensino Superior, nos Cursos de Direito e Especialização Lato Sensu em Direitos Humanos da UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - Unidade Universitária de Paranaíba/MS. Tem experiência na área de Direito. É pesquisadora de temáticas nas seguintes áreas de conhecimento: Antropologia, História, Filosofia, Sociologia e Teoria Geral do Direito. Direitos Humanos e Direitos Fundamentais. Direito e Políticas Públicas para o Ensino Superior. Ensino Jurídico. Educação em ou para os Direitos Humanos. Cite como(ABNT NBR 6023:2018)TERÇARIOL, Adriana Aparecida de Lima; TEIXEIRA, Rosiley Aparecida. Educação como direito humano e social. Entrevistado: Angela Aparecida da Cruz Duran. Dialogia, São Paulo, n. 35, p. 3-6, maio/ago. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.5585/dialogia.n35.17802.American Psychological Association (APA)Terçariol, A. A. de L., Teixeira, R. A. (2020, maio/ago.). Educação como direito humano e social. Entrevistado: Angela Aparecida da Cruz Duran. Dialogia, São Paulo, n. 35, p. 3-6. https://doi.org/10.5585/dialogia.n35.17802. 


Dialogia ◽  
2020 ◽  
pp. 1-2
Author(s):  
Adriana Aparecida de Lima Terçariol ◽  
Rosiley Aparecida Teixeira

A Revista Dialogia publica o número 35, contemplando o Dossiê “Educação como Direito Humano e Social”. Este número agrega pesquisas que retratam temáticas que circundam a Educação em sua contemporaneidade, como por exemplo: Educação e Direitos Humanos; Inclusão no Ensino Superior; Função Social da Escola; A Educação de Jovens e Adultos no Brasil; Conquistas e Retrocessos do Direito à Educação; Formação de Professores; Direitos Humanos e Linguísticos; Educação de Surdos; A Pesquisa em Educação; Direitos Humanos, Educação Inclusiva e EJA; Direito ao Espaço Escolar de Qualidade, Homeschooling no Contexto Político Brasileiro; Medidas Socioeducativas;  Educação do Campo, entre outras. Entendemos assim, que esse Dossiê engloba os direitos humanos e sociais em diferentes perspectivas e abordagens.Desejamos que esses textos ofereçam subsídios teóricos e práticos para uma releitura da Educação enquanto Direitos Humanos e Sociais, em nuances políticas, históricas e sociais, englobando reflexões voltadas ao público infantil, jovem e adulto. Compartilhamos neste número textos inéditos relacionados a pesquisas e experiências desencadeadas em diferentes espaços educacionais, retratando fundamentos, metodologias, superações, desafios, entre outros elementos. Nesse sentido, o número 35, da Revista Dialogia, foi organizado com textos desenvolvidos por autores renomados de instituições nacionais de diferentes regiões do país.O Dossiê apresentado neste número ainda é complementado com artigos que abordam assuntos de extrema relevância para o cenário atual, como: Currículo Prescrito; Espaço Maker; Sofrimento Psíquico; Hospitalidade e Hostilidade.Lembramos ainda, que o número 35 dispõe de três resenhas, a saber: Pensando Educação: com os pés no chão, autoria de Tânia Zagury; Educação Física e Tecnologia: o processo de “tecnização” educacional, autoria de Evandro Antônio; Habilidades Socioemocionais na Escola: guia prático da Educação Infantil ao Ensino Fundamental, autoria de Roseli Bonfante.Por fim, salientamos que a entrevista deste número foi cedida por Angela Aparecida da Cruz Duran. Professora do Ensino Superior, nos Cursos de Direito e Especialização Lato Sensu em Direitos Humanos da UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - Unidade Universitária de Paranaíba/MS. É pesquisadora de temáticas nas seguintes áreas de conhecimento: Antropologia, História, Filosofia, Sociologia e Teoria Geral do Direito. Direitos Humanos e Direitos Fundamentais. Direito e Políticas Públicas para o Ensino Superior. Ensino Jurídico. Educação em ou para os Direitos Humanos. Em seu depoimento nos leva a refletir sobre a educação como direito humano, sua importância e as possibilidades para que essa perspectiva seja efetivada atualmente, dentre outros aspectos da temática.Esperamos que esta publicação amplie e contribua com os diálogos na área, propiciando a divulgação do conhecimento sobre os temas relacionados, bem como oferecendo novos olhares, dimensões e percepções.  Excelente leitura! Adriana Aparecida de Lima TerçariolRosiley Aparecida Teixeira(Editoras) Cite como (ABNT NBR 6023:2018)TERÇARIOL, Adriana Aparecida de Lima; TEIXEIRA, Rosiley Aparecida. Educação como direito humano e social. Editorial. Dialogia, São Paulo, n. 35, p. 1-2, maio/ago. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.5585/dialogia.n35.17932. American Psychological Association (APA)Terçariol, A. A. de L. Teixeira R. A. (2020, maio/ago.). Educação como direito humano e social. Editorial. Dialogia, São Paulo, 35, p. 1-2. https://doi.org/10.5585/dialogia.n35.17932.


2011 ◽  
Vol 16 (6) ◽  
pp. 2877-2887 ◽  
Author(s):  
Luiza Sterman Heimann ◽  
Lauro Cesar Ibanhes ◽  
Roberta Cristina Boaretto ◽  
Iracema Ester do Nascimento Castro ◽  
Emilio Telesi Júnior ◽  
...  
Keyword(s):  
De Novo ◽  

Este artigo apresenta resultados de estudo de caso na Região Metropolitana de São Paulo (SP) desenvolvido no âmbito de estudo multicêntrico na Argentina, no Brasil, no Paraguai e no Uruguai. O objetivo é analisar a Atenção Primária em Saúde (APS) como estratégia para alcançar sistemas integrais e universais. A abordagem metodológica se pautou em cinco dimensões de análise: condução política; financiamento; provisão; integralidade e intersetorialidade. As técnicas incluíram revisão bibliográfica, análise documental e entrevistas com informantes-chave: gestores, especialistas, usuários e profissionais. Os resultados foram organizados em função dos desafios e das possibilidades da APS como estruturante do sistema segundo as cinco dimensões. Das entrevistas emergiram: distintas interpretações do conceito e papel da APS e o consenso como porta de entrada do sistema; debilidades no financiamento; desafios na gestão do trabalho e a necessidade de novo desenho jurídico-institucional para a gestão regional. Como potencialidades: a extensão de cobertura/universalidade, base da organização do sistema, na vinculação com o território e na compreensão das especificidades da população.


2019 ◽  
Vol 19 (3) ◽  
pp. 896-922
Author(s):  
Margareth Rodrigues de Carvalho Borella ◽  
Guilherme Cardoso Da Silva

O objetivo desse trabalho é fazer um estudo logístico, utilizando técnicas qualitativas e métodos matemáticos, para definição da localização de um novo CD (Centro de Distribuição) e de sua operacionalização, por equipe própria ou de terceiros, de uma empresa distribuidora de componentes pneumáticos, localizada na cidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Foram utilizadas, observações in loco no atual CD da empresa para identificar as movimentações de transporte envolvidas, informações da internet sobre mapas rodoviários contendo as distâncias entre as localidades candidatas, dados de volumes transportados, áreas de armazenamento, custos por quilômetro rodado, registros e documentos da empresa. Foram utilizadas técnicas de localização industrial, cálculos de demanda futura e dados de custos logísticos na condução das análises de decisão. A alternativa mais viável envolve a instalação do novo CD na cidade de São Paulo, e as operações internas de movimentação, e externas para o atendimento aos clientes, em relação a esse CD, devem ser conduzidas por equipe terceirizada na figura de operadores logísticos. 


Author(s):  
Suênio Campos de Lucena

Esse artigo analisa “Nada de Novo na Frente Ocidental”, narrativa que encerra o livro Invenção e memória (2000), da escritora Lygia Fagundes Telles. A partir do hibridismo que conjuga fatos reais e ficção, a autora realiza um conto/testemunho que inclui a abordagem em torno da lembrança e do esquecimento. Assim, esta análise destaca tanto a questão das tensões entre verdade e criação literária, quanto à relação da autora/protagonista, ao relembrar o passado com saudosismo e nostalgia, no caso, a São Paulo dos anos 1950, quando foi legionária. Um episódio marcante norteará um corte e tentativa de esquecimento a todo custo: a morte do pai, fazendo com que ela tente bloquear e sobrepor tristes recordações. Tendo por base a Psicanálise, a discussão deste conto possibilita reflexões sobre a lembrança, o esquecimento e, também, sobre a passagem do tempo e a morte.


Revista CPC ◽  
2019 ◽  
Vol 14 (27) ◽  
pp. 114-143
Author(s):  
Eduardo Bacani Ribeiro
Keyword(s):  
De Novo ◽  

Esta reflexão crítica tem por objetivo discutir o patrimônio ferroviário da Estrada de Ferro Araraquara (EFA) presente na região de São José do Rio Preto, noroeste do estado de São Paulo. Por meio de imagens, tabelas, comparações, relatos orais, levantamentos in loco e referências bibliográficas, pretende-se compreender a carga histórica e a condição hodierna de estações, casas de turma e armazéns. Instalados em áreas privilegiadas do ambiente citadino, esses signos da memória urbana – que, vinculados à cafeicultura, foram responsáveis por um significativo desenvolvimento regional e estadual – sofreram, ao longo dos anos, uma total inversão em seu valor social, não apresentando, nos dias de hoje, nenhuma função e/ou previsão de novo uso, o que torna alarmante a permanência de tal situação não apenas pela carga histórica desses elementos, como também pela potencialidade de se converterem em áreas que ofereçam uma melhor qualidade de vida aos meios urbanos em que estão inseridos.    


2021 ◽  
Vol 21 (31) ◽  
pp. 596-604
Author(s):  
Eduardo dos Santos Chaves ◽  
Vitória Tiscoski Ramos
Keyword(s):  
De Novo ◽  

Resenha da obra: BIROLI, Flávia; VAGGIONE, Juan Marco; MACHADO, Maria das Dores Campos. Gênero, neoconservadorismo e democracia: disputas e retrocessos na América Latina. São Paulo: Boitempo, 2020. 222p.


2015 ◽  
Vol 17 (3) ◽  
pp. 585-605
Author(s):  
Rita de Cássia Bortoletto-Santos ◽  
Alice Helena Campos Pierson
Keyword(s):  
De Novo ◽  

RESUMO: A pesquisa realizada,entre 2009e 2013, teve como objetivo investigar como os professores de ciências da rede estadual de ensino de São Paulo reagiram diante da implantação de uma nova proposta curricular para o Ensino Fundamental. Adotou-se uma abordagem qualitativa para o desenvolvimento da pesquisa, utilizando-se de entrevistas semiestruturadas que foram analisadas sob a perspectiva da análise do conteúdo, procurando dar voz aos agentes do currículo, e a partir das ideias de Sacristán, particularmente no que se refere à relação entre o currículo prescrito e as ações dos professores. Neste artigo são apresentadas as reações dos professores diante da nova proposta e analisados seus posicionamentos, sejam eles: favoráveis, desfavoráveis ou pragmáticos.


2021 ◽  
Vol 7 (1) ◽  
Author(s):  
Carlos de Matos Bandeira Junior
Keyword(s):  

O filme documentário Memórias de Velho possui duração de 48 minutos e foi produzido com recursos do Governo do Estado do Pará, via o edital de seleção cultural Prêmio Preamar de Arte e Cultura 2020 (Secult-Pa). A proposta da produção é retratar as narrativas e reflexões de vida de homens e mulheres idosos, acima de 60 anos, residentes em comunidades rurais e em bairros da zona urbana do município de Santarém, Pará.O filme é inspirado no livro Memória e Sociedade: lembranças de velho, da escritora Ecléa Bosi. Nesta obra, Bosi (1994) debruça suas análises sobre as lembranças narradas por idosos moradores da cidade de São Paulo. Com críticas à sociedade do capital em que o velho não possui valor e é relegado ao esquecimento, a escritora abre espaço protagonista e publica relatos biográficos sensíveis de homens e de mulheres que dedicaram suas vidas ao trabalho e vivenciaram as mudanças da sociedade paulistana.Este ponto, suscita as reflexões de Norbert Elias (2001) em Solidão dos Moribundos, ao abordar o tema a partir da experiência do envelhecimento e morte. Elias, percebe o processo de envelhecer tratado coletivamente como desvio da norma social e identifica negação aos signos que o velho representa, principalmente como recalque de gerações de outras faixas etárias. O envelhecimento, traz consigo a mudança de posição social da pessoa em todos os campos da vida, nas relações com outros entes no cotidiano, com a família, representada, muitas vezes, pelo isolamento do afetivo do velho no seio familiar. Destituído das forças produtivas, as experiências e conhecimentos dos velhos são postos ao esquecimento e suas ações ou vontades são tratadas de maneira infantilizadas sob a tutela dos adultos, como se regredissem a primeira idade, porém sem a paciência e afeições comuns às crianças. Ou autor pontua que o maior medo na velhice é perder as forças e a independência para as tarefas básicas do dia a dia e tornar-se refém do tempo de terceiros.O documentário Memórias de Velho pauta-se na oralidade. Propõe um retrato da memória coletiva (HALBWACHS, 1968) da cidade de Santarém a partir da experiência viva homens e mulheres, hoje velhos entre 65 e 99 anos, que participaram efetivamente das transformações da sociedade santarena. Cabe salientar que Santarém é uma das principais cidades da Amazônia. Tida como uma das mais antiga da região (PY-DANIEL, 2017) sua demografia expressa um quadro pluriétnico composto por indígenas, quilombolas, ribeirinhos. Em períodos históricos recentes, Santarém passou por alterações políticas, culturais, sociais, motivadas pelos ciclos econômicos da borracha (1939–1945), das políticas de integração do Estado para ocupação da Amazônia, da abertura da estrada Transamazônica (1950-1970) e da efervescência da exploração aurífera (1950-1980). O fato de ser reconhecida por possuir melhores condições de estrutura, de serviços públicos e de comércio atraiu grande parte dos investimentos e de trabalhadores migrantes vindos de outras regiões com o propósito de mudança de vida. Há diversas comunidades no planalto do município compostas primordialmente por cearenses, maranhenses e piauienses. No entanto, cabe-nos questionar qual lugar das pessoas comuns nas narrativas históricas sobre esse lugar? E quem são essas pessoas? Quais as opiniões, os caminhos, as trajetórias desses personagens dentro das histórias narradas? Pensando em aludir a esses questionamentos o documentário reflete a história dos que vem de baixo (THOMPSON, 1992), neste caso, imaginado na figura do velho, que praticamente não aparece nas narrativas oficiais, mas é detentor de saberes ancestrais e capaz de intercambiar experiências de vida entre gerações e comunicar os fatos que contam a história local por um outro ponto de vista. Palavras-chave: Memórias. Velho. Audiovisual


2021 ◽  
Vol 7 (1) ◽  
Author(s):  
Carlos de Matos Bandeira Junior
Keyword(s):  

O filme documentário Memórias de Velho possui duração de 48 minutos e foi produzido com recursos do Governo do Estado do Pará, via o edital de seleção cultural Prêmio Preamar de Arte e Cultura 2020 (Secult-Pa). A proposta da produção é retratar as narrativas e reflexões de vida de homens e mulheres idosos, acima de 60 anos, residentes em comunidades rurais e em bairros da zona urbana do município de Santarém, Pará.O filme é inspirado no livro Memória e Sociedade: lembranças de velho, da escritora Ecléa Bosi. Nesta obra, Bosi (1994) debruça suas análises sobre as lembranças narradas por idosos moradores da cidade de São Paulo. Com críticas à sociedade do capital em que o velho não possui valor e é relegado ao esquecimento, a escritora abre espaço protagonista e publica relatos biográficos sensíveis de homens e de mulheres que dedicaram suas vidas ao trabalho e vivenciaram as mudanças da sociedade paulistana.Este ponto, suscita as reflexões de Norbert Elias (2001) em Solidão dos Moribundos, ao abordar o tema a partir da experiência do envelhecimento e morte. Elias, percebe o processo de envelhecer tratado coletivamente como desvio da norma social e identifica negação aos signos que o velho representa, principalmente como recalque de gerações de outras faixas etárias. O envelhecimento, traz consigo a mudança de posição social da pessoa em todos os campos da vida, nas relações com outros entes no cotidiano, com a família, representada, muitas vezes, pelo isolamento do afetivo do velho no seio familiar. Destituído das forças produtivas, as experiências e conhecimentos dos velhos são postos ao esquecimento e suas ações ou vontades são tratadas de maneira infantilizadas sob a tutela dos adultos, como se regredissem a primeira idade, porém sem a paciência e afeições comuns às crianças. Ou autor pontua que o maior medo na velhice é perder as forças e a independência para as tarefas básicas do dia a dia e tornar-se refém do tempo de terceiros.O documentário Memórias de Velho pauta-se na oralidade. Propõe um retrato da memória coletiva (HALBWACHS, 1968) da cidade de Santarém a partir da experiência viva homens e mulheres, hoje velhos entre 65 e 99 anos, que participaram efetivamente das transformações da sociedade santarena. Cabe salientar que Santarém é uma das principais cidades da Amazônia. Tida como uma das mais antiga da região (PY-DANIEL, 2017) sua demografia expressa um quadro pluriétnico composto por indígenas, quilombolas, ribeirinhos. Em períodos históricos recentes, Santarém passou por alterações políticas, culturais, sociais, motivadas pelos ciclos econômicos da borracha (1939–1945), das políticas de integração do Estado para ocupação da Amazônia, da abertura da estrada Transamazônica (1950-1970) e da efervescência da exploração aurífera (1950-1980). O fato de ser reconhecida por possuir melhores condições de estrutura, de serviços públicos e de comércio atraiu grande parte dos investimentos e de trabalhadores migrantes vindos de outras regiões com o propósito de mudança de vida. Há diversas comunidades no planalto do município compostas primordialmente por cearenses, maranhenses e piauienses. No entanto, cabe-nos questionar qual lugar das pessoas comuns nas narrativas históricas sobre esse lugar? E quem são essas pessoas? Quais as opiniões, os caminhos, as trajetórias desses personagens dentro das histórias narradas? Pensando em aludir a esses questionamentos o documentário reflete a história dos que vem de baixo (THOMPSON, 1992), neste caso, imaginado na figura do velho, que praticamente não aparece nas narrativas oficiais, mas é detentor de saberes ancestrais e capaz de intercambiar experiências de vida entre gerações e comunicar os fatos que contam a história local por um outro ponto de vista. Palavras-chave: Memórias. Velho. Audiovisual


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