Introdução: O advento da operação de Manchester (OM) ocorreu durante a Revolução Industrial, em razão da inserção feminina no mercado de trabalho para o desempenho de funções laborais pesadas e a manutenção do alto número de gestações, o que gerou aumento da frequência de prolapsos genitais. Ainda hoje, mesmo com a opção da realização da histerectomia vaginal (HV), essa cirurgia deve ser tida como opção e deve ser oferecida às pacientes. Relato de caso: 73 anos, G0P0, do lar, sexualmente ativa, menopausa aos 45 anos, sem uso de terapia de reposição hormonal. Nega comorbidades, etilismo ou tabagismo. Comparece ao ambulatório queixando-se de “bola na vagina há dois anos que piora ao longo do dia” associada a perda urinária aos esforços. Ao exame: índice de massa corporal 28; Pelvic Organ Prolapse Quantification (POP-Q): prolapso anterior e apical grau 3, posterior grau 1 e hipertrofia de colo - 9 cm. Optou-se pela operação de Manchester ao se discutirem as opções (OM x HV) com a paciente. Preferiu-se corrigir o prolapso e avaliar posteriormente se a queixa urinária iria permanecer. No ato operatório, confirmou-se cervicometria de 9 cm, histerometria de 11 cm e palpação do ligamento cardinal em 4 cm. Cirurgia sem intercorrências. Paciente evoluiu bem, com discreto sangramento, sem queixas álgicas. Retirou-se a sonda vesical no dia seguinte ao procedimento, com diurese espontânea sem queixas. A paciente teve alta dois dias após a cirurgia, com prescrição de promestrieno via vaginal. No retorno, 40 dias depois, a paciente estava em uso de promestrieno à noite, satisfeita com o resultado cirúrgico, negando queixa de prolapsoe episódios de perda involuntária de urina. Conclusão: A OM é tida por muitos especialistas como obsoleta em comparação com a histerectomia vaginal. Porém, deve ser considerada como uma opção cirúrgica viável e eficaz, caso não haja patologia uterina. Deve-se levar em conta esse procedimento para mulheres com desejo reprodutivo e para aquelas que desejem permanecer com o útero. Além disso, diversos estudos comparativos entre as duas técnicas cirúrgicas demostraram que ambas possuem resultados semelhantes quanto à recorrência do prolapso e à necessidade de nova intervenção cirúrgica. Porém, a HV apresenta maiores índices de perda sanguínea com necessidade de hemotransfusão, infecções pós-operatórias e lesões de bexiga, além de maior tempo operatório. Perante tais dados, a OM deve ser considerada como tratamento e oferecida às pacientes como opção cirúrgica eficaz e segura para aquelas que desejam permanecer com o útero e não tenham doença uterina, bem como para pacientes idosas e/ou com comorbidades que agregam risco quanto maior for o tempo cirúrgico.