O surgimento do romance gótico em meados do século XVIII provocou uma pequena revolução literária, não reconhecida imediatamente pela crítica, mas que traria inumeráveis frutos nos dois séculos e meio seguintes. A publicação do seminal Castelo de Otranto, de Horace Walpole, provocaria e desequilibraria a balança literária do período, mexendo com a imaginação do público e de escritores que seguiriam a tradição do gênero. A maquinaria gótica incluía, a princípio, castelos medievais, torres fantasmagóricas, fantasmas reais ou imaginados, e toda uma figuração que seria seguida e transformada posteriormente. Este ensaio propõe-se a fazer um voo panorâmico por um aspecto muitas vezes negligenciado na narrativa gótica: o som, analisado aqui desde O Castelo de Otranto até O Retrato de Dorian Gray. Assim como o aspecto visual incluía elementos peculiares, também os aspectos sonoros possuíam características bem definidas, posteriormente imitadas, modificadas e ampliadas de acordo com a gênese de cada obra.