Este artigo examina alguns lugares-chave da obra de Vico De antiquissima Italorum sapientia ex linguae latinae originibus eruenda (1710), na qual a distinção entre física e metafísica nunca é transformada em distância absoluta, assim como a heterogeneidade do infinito com relação ao finito não é dissolvida. Esse é o grande tema da nova metafísica, preocupada em se reconciliar com ‘nossa religião’, o cristianismo, e com os limites da razão humana, em polêmica com ‘a primeira verdade meditada por René Descartes’. O homem não é apenas o ponto de encontro da natureza e do espírito, mas também o lugar do mal, do pecado original, e ainda da vis veri, de acordo com a lição de Agostinho, que ajuda a corrigir Malebranche. A novidade teórica reside na assimilação da faculdade do engenho às forças formativas (memória, imaginação e fantasia) capazes de realizar operações sintéticas, desvalorizadas pela gnoseologia e psicologia cartesianas. Se o verum é o factum, este é fruto de fictiones, isto é, de construções mentais, produzidas pelo ingenium e seu ‘olho’, a ‘fantasia’, capazes de referir o protótipo metafísico da verdade divina às operações humanas.