scholarly journals Crise do romance – crise de um país: Berlin Alexanderplatz, de Alfred Döblin

1969 ◽  
Vol 23 (27) ◽  
pp. 77-94
Author(s):  
Willi Bolle

A obra principal de Döblin, publicada em 1929, é analisada simultaneamente como um romance de formação e uma epopeia moderna. Ao acompanhar o caminho de vida do protagonista Franz Biberkopf, passamos a conhecer a praça central que simboliza a capital da Alemanha. A metrópole moderna é apresentada através de uma montagem de elementos múltiplos, em que se destacam os botecos como lugares de encontro e os jornais, proporcionando uma imersão na atmosfera social e política da República de Weimar, na época da grande crise econômica de 1929, que acabou levando o país para a ditadura nazista. Paralelamente aos crimes cotidianos comuns, nos quais se envolve também o protagonista, são evocados os crimes na esfera política. A narração do assassinato de uma moça tem como pano de fundo a visão de um ataque aéreo, sugerindo que a guerra de 1914-1918 teria continuidade numa segunda guerra mundial. Com base no principal traço de caráter de Franz Biberkopf – a burrice, ligada à soberba e à ingenuidade – é estabelecida uma analogia com a burrice de um povo, descrita por Robert Musil, em 1937. A análise termina com uma discussão crítica da postura moralizante do narrador de Döblin.

2019 ◽  
Vol 14 (1) ◽  
pp. 37
Author(s):  
Izabela Baptista do Lago

Resumo: A partir de ensaios de Alfred Döblin sobre o romance, publicados entre 1913 e 1930, o presente artigo examina as considerações críticas e teóricas do autor sobre o romance enquanto gênero literário e obra de arte em consonância com seu tempo. Considerando em especial a proposta romanesca de Döblin na forma do romance épico, uma breve análise do romance Berlin Alexanderplatz, publicado em 1929, verificará em que medida os elementos presentes nesta obra se adequam com o posicionamento expressado por seu autor. Por fim, conclui-se que Döblin concilia suas propostas teóricas com a sua prática artística, transformando-se no crítico-romancista do romance épico, alinhado com as transformações e aspirações culturais do século XX.Palavras-chave: Döblin; romance épico; crítico-romancista.Abstract: Based on Alfred Döblin’s essays on the novel, published between 1913 and 1930, this article examines the author’s critical and theoretical considerations of the novel as a literary genre and work of art in accordance with its time. Chiefly considering Döblin’s novelistic proposal in the form of the epic novel, a brief analysis of the novel Berlin Alexanderplatz, published in 1929, will verify the extent to which the elements present in this work can correspond with the position expressed by its author. Finally, it can be concluded that Döblin conciliates his theoretical proposals with his artistic practice, which turns him into a critic-novelist of the epic novel, aligned with the transformations and cultural aspirations of the 20th century.Keywords: Döblin; epic novel; critic-novelist.


1969 ◽  
Vol 1 (10) ◽  
Author(s):  
Gesa SINGER

O objetivo deste trabalho é confrontar as obras revolucionárias de dois dos mais significativos romancistas do século 20. Tanto Alfred Döblin (1878-1957), em Berlin Alexanderplatz (1929), como Fernando Pessoa (1888-1935), em O livro do desassossego do ajudante Bernardo Soares (publicação póstuma em 1982), apresentam duas metrópoles, nas quais o indivíduo - seja no submundo do crime, seja no ambiente pequeno burguês - pode existir apenas sob extrema tensão nervosa e com cisões múltiplas de personalidade. O herói tradicional é decomposto em vozes múltiplas de figuras e identidades, cujas ações nem sempre são fáceis de acompanhar. A análise a seguir das inovações narrativas e das particularidades dos dois autores procura oferecer uma impressão do "eco" literário dos desdobramentos socioculturais tanto na metrópole alemã como na portuguesa e seus efeitos sobre a consciência imaginativa dos sujeitos no começo do século 20.


Author(s):  
María del Carmen GÓMEZ GARCÍA

El presente artículo aborda la relación entre la angustia y el miedo y el concepto de lo unheimlich en la literatura escrita en lengua alemana durante el decenio expresionista (1910-1923). La profunda crisis del yo desencadenada por la inestabilidad consustancial a esta época hizo especialmente prolífico el tratamiento de la angustia —como muestra la relevancia del texto de Kierkegaard El concepto del miedo— en autores como Alfred Döblin, Georg Heym, Robert Musil o Georg Trakl. Asimismo, se analizará la obra de Kafka en tanto continúa siendo paradigmática de dicha relación, a la que ha de sumarse la noción de culpa. Abstract: This article presents the relationship between anxiety and fear and the unheimlich concept in the German literature of the Expressionist Decade (1910-1923). The deep crisis of the ego brought about by the inherent instability of this period made the treatment of anxiety especially prolific. Its relevance is clearly shown in Kierkegaard’s text The Concept of Fear, but it also had a great impact on such authors as Alfred Döblin, Georg Heym, Robert Musil or Georg Trakl. Furthermore, the paper focuses on Kafka’s literature as it is paradigmatic of this relationship, to which guilt should be added.


Author(s):  
Élcio Cornelsen

O objetivo do presente artigo é esboçar, a partir da interpretação do escrito Das Ich über der Natur (1927), uma breve imagem de Alfred Döblin enquanto filósofo da natureza. Trata-se de uma faceta do famoso autor do romance Berlin Alexanderplatz, que, até o presente momento, recebeu muito pouca atenção também na Alemanha e, em virtude disso, sempre esteve à sombra de suas obras de ficção. Após a Primeira Guerra Mundial teve início a fase em que Döblin se ocupou intensamente de questões filosóficas sobre a natureza. Determinadas questões, como, por ex emplo, a questão do papel do homem na natureza, ou ainda a questão em torno de uma postura justa nas ações humanas figuram no centro de seus ensaios de filosofia da natureza escritos e publicados nos anos 20. Das Ich über der Natur , publicado em 1927 pela editora Fisc her, foi o primeiro ensaio de maior fôlego em torno das especulações döblinianas orientadas pela filosofia da natureza. Nessa obra, Döblin procura discutir alguns con ceitos como “Ur-Ich” (“Eu-Primevo”) e “Ur-Sinn” (“Sentido-Primevo”) na qualidade de instância suprema da natureza.


Epígrafe ◽  
2021 ◽  
Vol 10 (2) ◽  
pp. 8-37
Author(s):  
Dawyd Thiago de Oliveira Almeida ◽  
Thawanny Victoria Santos Costa

O presente artigo pretende discutir de que forma a liberdade sexual desenvolvida na Alemanha, durante a República de Weimar, tendo sido Berlim o seu epicentro, é representada no romance alemão Berlin Alexanderplatz (1929), escrito pelo autor e psiquiatra Alfred Döblin. A partir da análise da representação em questão, discutiremos a forma como determinados elementos construídos pelo autor destoam do discurso elaborado e reproduzido sobre a Berlim weimariana, o qual instaurou no imaginário ocidental uma imagem da capital alemã marcada pela devassidão sexual. Também procuramos tecer hipóteses sobre por qual motivo o autor do romance prioriza determinadas formas de retratar a liberdade sexual em detrimento de outras. As suas representações parecem ter sido feitas sobretudo devido a determinadas convicções que ele parece ter tido em vida e transpareceu em suas obras. Utilizando o romance como fonte primária, tentaremos erigir alguns olhares sobre a história de Berlim durante a República de Weimar, contribuindo para a desconstrução do seu mito que já não pode ser mais cabível no desenvolvimento de novas narrativas.


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