Resumo: A ficção portuguesa no século XXI parece inclinar-se maioritariamente para as distintas formas que autoriza o romance na pós-modernidade. Por razões de vária ordem, que vão desde a nossa tradição literária à criação de um mercado editorial que fomenta este género, os escritores surgidos após a passagem do milénio e publicados nas grandes casas editoriais portuguesas têm recorrido pouco ao conto. Em contrapartida, o trabalho realizado por editoras independentes tem trazido a lume outros possíveis caminhos para a ficção portuguesa que não desaguam no universo de tendências dominantes do mercado cada vez mais global (carácter mais universal da intriga, inclinação para mobilidade constante das personagens e dos espaços, alusões de natureza livresca, recusa a referências locais ou regionais, etc.). Neste sentido, este trabalho tem como objetivo analisar o contributo de Teatro Vertical, livro de contos de Manuel Alberto Vieira, que em sentido quase oposto às tendências dominantes, permite repensar a potencialidade do conto como género na atualidade, ao mesmo tempo que reconfigura um dos elementos mais problematizados da nossa sociedade: a família. Após uma breve contextualização da subalternização do género na nossa tradição literária, procura analisar-se a estrutura narrativa destes contos – partindo das reflexões de Ricardo Piglia sobre as formas breves –, assim como estudar o modo em que um dos temas dominantes, a família, é evidenciado nas suas complexas mutações através das estruturas mais simples, próprias do conto.Palavras-chave: Manuel Alberto Vieira; conto; narrativa; família; crueldade. Abstract: Portuguese fiction in the 21st century seems to lean mostly towards the different forms that authorize the novel in postmodernity. For various reasons, ranging from our literary tradition to the creation of an editorial market that fosters this genre, writers who emerged after the passing of the millennium and published in the major Portuguese publishing houses have made little use of the short-story. On the other hand, the work carried out by independent publishers has brought to light other paths for Portuguese fiction that do not lead to the universe of dominant trends in the increasingly global market (a more universal character of intrigue, inclination towards constant mobility of characters and spaces, allusions of a bookish nature, refusal of local or regional references, etc.). In this sense, this work intends to analyze the contribution of Teatro Vertical, a short story book by Manuel Alberto Vieira, which, in an almost opposite sense to the dominant trends, allows us to rethink the potential of the literary short-story as a genre today, while reconfiguring one of the elements most problematized in our society: the family. To this end, this work, after a brief contextualization of the subordination of gender in our literary tradition, seeks to analyze the narrative structure of these short-stories - based on Ricardo Piglia’s reflections on short forms - as well as studying the way in which one of the dominant themes, the family, is evidenced in its complex mutations through the simplest structures, typical of the short-story.Keywords: Manuel Alberto Vieira; short story; narrative; family; cruelty.