O presente artigo objetiva analisar brevemente como The Penelopiad (2005) da escritora canadense Margaret Atwood, dialoga e revisa a Odisseia de Homero. Buscar-se-á apontar de que forma Atwood ressignifica os episódios, desarticulando a figura do herói épico e re-visando, na perspectiva de Adrienne Rich (1972), as imagens cristalizadas em torno do feminino criadas pela tradição literária ocidental. Através de duas vozes narrativas, que põem em xeque, ao mesmo tempo, a benevolência de Penélope e o episódio do enforcamento das doze escravas, The Penelopiad traz a tomada da pena pela mulher não apenas como possibilidade da construção da identidade e experiência feminina, mas também, enquanto uma problematização da própria categoria “mulher”. As manifestações literárias, enquanto práticas sociais, estão conectadas com o momento histórico da sua emergência. A dupla narração na obra de Atwood, desempenha um papel na constituição da estrutura da narrativa e se relaciona com a multiplicidade do ser mulher na contemporaneidade. O externo se torna interno, como dispõe Antonio Candido (2011).