Antonio Paulo Lafayette Stockler da Cruz Nunes
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Ivan Penaloza Toledano
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Tais Vieira Ribeiro
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Priscilla Gilvaz Pontes
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Luciana Lizak Bestle Pereira
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Introdução: A pré-eclâmpsia ocorre em cerca de 10% de todas as gestações. É doença complexa, que pode ocasionar disfunção de órgãos e grande severidade. A síndrome HELLP pode complicar 10-20% dos casos de pré-eclâmpsia e é caraterizada pelo aumento de transaminases, plaquetopenia e hemólise. A taxa de mortalidade varia de 2 a 3%, porém pode chegar a 59-62% quando associada a rotura hepática, e geralmente ocorre no terceiro trimestre de gestação. A rotura hepática é rara e sua incidência na literatura varia entre 1:45.000 e 1:225.000 partos. Decorre da lesão endotelial grave e da vasoconstrição típicas da pré-eclâmpsia, que provocam depósitos de fibrina no interior dos vasos periportais, culminando com congestão hepática massiva, necrose e hematomas subcapsulares. Relato do caso: Paciente P.S.O.A., 36 anos, GIV PII CII, com passado de pré-eclâmpsia grave precoce em duas gestações, com parto prematuro com 30 semanas com iminência de eclâmpsia e neomorto por prematuridade extrema em parto com 24 semanas, com crescimento intrauterino restrito e oligo severa. A investigação de trombofilia evidenciou deficiência de proteína S funcional. A paciente iniciou o pré-natal com o uso de AAS e enoxaparina. Os exames laboratoriais seriados no pré-natal não evidenciaram pré-eclâmpsia ou alterações fetais. Com 36 semanas, apresentou epigastralgia, cefaleia e pressão arterial de 160x100 mmHg, e a avaliação fetal de emergência não mostrou alterações ao doppler ou cardiotocografia. Exames laboratoriais apontaram o aumento de transaminases, relação proteinúria/creatinúria alterada, sem outras alterações. Iniciou-se sulfato de magnésio, sintomáticos e hidralazina venosa e indicou-se cesariana depois da estabilização clínica. Após cerca de quatro horas com pressão arterial controlada, a paciente apresentou súbita dor em ombro direito de forte intensidade e agitação motora, evoluindo para choque hipovolêmico. Foi submetida à laparotomia de emergência, com achado de hemorragia intra-abdominal volumosa e nascimento de feto vivo, Apgar 7/8. Identificou-se rotura hepática com volumoso hematoma, e foi realizado o tratamento cirúrgico conservador. No pós-operatório, apresentou plaquetopenia, aumento de desidrogenase láctica e transaminases e necessidade de hemotransfusão. Evoluiu com bom controle pressórico e regressão das alterações laboratoriais, sem necessidade de nova abordagem cirúrgica. Conclusão: Embora rara, a rotura hepática deve ser suspeitada em gestantes ou puérperas com pré-eclâmpsia e dor epigástrica intensa, dor abdominal, palidez súbita e choque hipovolêmico (hipotensão, taquicardia, sudorese ou diminuição do nível de consciência). A instabilidade hemodinâmica exige conduta imediata. Portanto, o diagnóstico clínico é fundamental. O parto deve ocorrer imediatamente e, em caso de instabilidade hemodinâmica, a laparotomia exploradora deve ser realizada. O manejo cirúrgico varia de acordo com a gravidade do quadro, com tamponamento mecânico com compressas, uso de tela hemostática, suturas, ligadura de artéria hepática, embolização ou hepatectomia parcial.