scholarly journals Sociedade de consumidores e o desinteresse pela esfera pública: escravização invisível e a política instrumental em Hannah Arendt

2019 ◽  
Vol 19 (2) ◽  
pp. 218-229
Author(s):  
Kelly Janaína Souza da Silva
Keyword(s):  

Erigir o aumento da riqueza e da abundância como um objetivo primordial para a vita activa já se desenhava como premissa axiomática da economia política clássica, além do sonho idealizado dos pobres e despossuídos. Havia, no entanto, certa esperança utópica de que, ao viver em uma sociedade com maior abastança, as pessoas cidadãs buscariam mais plenamente o desenvolvimento de apropriada abstenção consciente do trabalho e do consumo em seu tempo livre, ou seja: que isento da dor e do esforço de trabalhar e consumir, o animal laborans tornar-se-ia produtivo para si próprio, nutrindo-se de atividades “superiores”. No entanto, de quanto mais horas vagas dispõe o laborans, maiores são seus apetites de consumo e, sobretudo, uma sociedade abundante expõe devidamente a falácia do raciocínio anterior, uma vez que tudo pode ser reificado e comercializado. Esse artigo pretende analisar o fenômeno da sociedade de consumo contemporânea como engrenagem do ciclo vital, descrevendo de que modo, presas em seus próprios processos de trabalho e consumo, as pessoas cidadãs desfrutam apenas de uma política instrumental. Essa alienação promove a vitória do animal laborans sobre o zoon politikon.

2019 ◽  
Vol 17 (1) ◽  
pp. 57-68
Author(s):  
Daniella Ribeiro Do Vale e Silva Vieira ◽  
Sônia Aparecida Siquelli ◽  
Armindo Quillici Neto

Este artigo objetiva abordar as reverberações entre o conceito de diálogo em Paulo Freire e a visão sobre a formação política humana presente na obra “A Condição Humana” de Hannah Arendt. Freire aponta o diálogo como condição existencial do homem no mundo e a sua capacidade de transformá-lo por meio do pensar, refletir e assim realizar escolhas. Arendt, ao ser imbuída das discussões sobre o conceito de vita activa e de ação política, possibilita a reflexão para uma ética do agir humano e a constituição de agir ético docente. A partir de uma pesquisa de natureza qualitativa e com análise descritiva e crítica, foi realizado um levantamento bibliográfico e comparativo entre o significado e suas reflexões em obras dos autores e seus princípios éticos quanto à condição política docente e a ética do agir pautada na constituição da postura política da condição humana. Identificou-se na análise destes significados, elementos presentes na formação ética docente intrinsicamente ligada à sua formação política. A partir do pensar e da capacidade humana de reflexão sobre as possíveis respostas sobre que ética deve ser forjada em suas ações, torna-se possível abordar o fazer educativo escolar através do diálogo, apresentando a possibilidade de compreensão ético-crítica-política da educação e formação de cidadãos conscientes que possam transformar a ordem social.


2017 ◽  
Vol 42 ◽  
Author(s):  
Alain Bouldoires ◽  
Christine Larrazet

Cette communication propose de rendre compte des résultats d’une enquête, la « Caravane des medias d’initiative populaire », centrée sur la prise de parole dans l’espace public de citoyens ayant créé, à leur seule initiative, un espace de communication et de délibération sur internet (webradio, webTV, webmagazine). En prise directe avec leur territoire local, ces sujets media-actifs, ici nommés média-acteurs de proximité, cherchent à concilier parole individuelle et action collective. Ils se saisissent de l’arène démocratique locale, rurale ou urbaine, comme un commun qu’ils estiment pouvoir et devoir investir, aux côtés d’autres paroles dominantes, qu’elles soient institutionnelles ou professionnelles. Mettant en pratique la vita activa promue par Hannah Arendt, ces citoyens parviennent à articuler l’espace informationnel virtuel avec la matérialité du monde réel.


2018 ◽  
Vol 31 (1) ◽  
pp. 79
Author(s):  
Danilo Arnaldo Briskievicz

Investigamos no pensamento de Hannah Arendt a possibilidade de uma ontologia da singularidade relacionada diretamente com a educação, como protomomento da ontologia da pluralidade, iniciada com o nascimento e ampliada pela chegada ao mundo comum, ao espaço da ação. Destacamos alguns pontos de sua teoria política, inter-relacionando-os com apontamentos sobre a educação do texto A Crise da Educação, de 1958. Apresentamos a educação como espaço privilegiado de formação da vida do espírito, essencial, por ser inicial, em tempo e espaço para o exercício pleno da vita activa. A ontologia da singularidade é fundamentada a partir de seis pontos em que é preciso: acolher, preparar e incluir os singulares; fomentar espaços para o discursar, valorizar as diferenças e preservar a tradição. Apresentamos dois antimodelos para a ontologia da singularidade: na educação escolar, os campos de concentração, pela prerrogativa do uso da violência e da mudez; para os educandos, Adolf Eichmann, por causa de seu vazio de pensamento e incapacidade de agir criativamente no mundo. Propomos que a duração da educação é proporcional à criatividade narracional da tradição pela autoridade dos professores.Palavras-chave: Hannah Arendt; Ontologia da singularidade; Filosofia da educação; Vida do espírito ABSTRACTWe investigate in Hannah Arendt's thinking the possibility of an ontology of singularity directly related to education, as protomoment of the ontology of plurality, initiated with the birth and enlarged by the arrival to the common world, to the space of action. We highlight some points of her political theory interrelating them with notes on education of the text The Crisis of Education, 1958. We present education as a privileged space of formation of the life of the mind, essential, for being initial, in time and space for the full exercise of the vita activa. The ontology of the singularity is based on six points in which it is necessary: to welcome, to prepare and to include the singular ones; to create spaces to promote discourse, to value differences, and to preserve tradition. We present two antimodels for the ontology of singularity: in school education, the concentration camps, by the prerogative of the use of violence and dumbness; for the pupils, Adolf Eichmann, due to  his emptiness of thought and incapacity to act creatively in the world. We propose that the duration of education is proportional to the narrative creativity of tradition by the authority of teachers.Keywords: Hannah Arendt; Ontology of singularity; Philosophy of education; Life of the spirit


2018 ◽  
Vol 9 (17) ◽  
pp. 79-89
Author(s):  
Lucas Barreto Dias
Keyword(s):  

Ao escrever A condição humana, Hannah Arendt realiza duas grandes tarefas: 1) explicita alguns de seus princípios políticos e 2) faz uma leitura crítica da nossa tradição a fim de compreender a atual situação de decadência política. Dado o fato de nos encontrarmos frente à falência dos antigos princípios que regiam a vida pública, Arendt entende ser preciso que se busque por novos critérios e princípios políticos no lugar de repetir aqueles do passado. Neste trabalho, dou foco à tarefa arendtiana de compreensão do nascimento e gênese da nossa antiga tradição política a fim de pensar quais são os elementos que levaram à perda de dignidade da política e de sua decadência até os regimes totalitários e antipolíticos do século XX. Sob tais aspectos, defendo que a fenomenologia arendtiana procede tanto através de um desmantelamento genealógico da vita activa, quanto fazendo suas distinções conceituais. Minha proposta não é desenvolver, neste espaço, os passos fenomenológicos de Arendt, mas de apontar para esta via interpretativa, isto é, proponho uma leitura de A condição humana através do duplo aspecto de crítica da decadência da política junto a um apelo para se pensar uma nova moldura conceitual para o pensamento político. Nesse sentido, meu trabalho se coloca na posição mais de apresentar uma possibilidade de leitura do que descortinar os elementos que ela possa propiciar; isso significa que não vou em direção propriamente à novidade da teoria política arendtiana, mas dou ênfase em parte de seu método fenomenológico.


Tradterm ◽  
2012 ◽  
Vol 19 ◽  
pp. 214
Author(s):  
Carlos Alberto Rizzi
Keyword(s):  

O termo <em>capoeira</em> é um vernáculo, uma sentença tupi no português do Brasil. De <em>kaá-uêra</em> procede a noção de “mato que já não é o mesmo que foi”. Essa sentença demonstra a elegante interpretação da tradição indígena acerca dos dados da paisagem. Atualmente, o termo <em>capoeira</em> é muito utilizado no discurso científico ao lado de seu homônimo da tradição ocidental<em>: mata secundária. </em>Pretendeu-se aqui desenvolver a seguinte indagação: porque há uma estranha diferença intelectual entre o sentido de <em>capoeira </em>e <em>mata secundária? </em>Essa estranheza reside no fato do termo <em>capoeira </em>possuir um campo léxico-semântico que abarca, não somente a formação vegetacional correspondente, como também ampla gama homóloga e complementar de fenômenos do ambiente, da fauna e da flora. Algo similar não ocorreu com o termo <em>mata secundária</em>. Para tentar entender o porquê dessa constatação, supôs-se que o primeiro termo é resultado de um pensamento totalizante, de uma tradição contínua repassada desde o passado ancestral, ao passo que o segundo termo é herdeiro de uma recente ruptura: a da fragmentação do pensamento helênico. No Ocidente, essa fragmentação possui um momento simbólico: o julgamento de Sócrates. Munidos dos estudos de Hannah Arendt, foram vistos elementos dessa fragmentação na “<em>separação entre o filósofo e a vida na polis </em>[que]<em> significou a separação entre o pensamento e a ação</em>” (Wagner 2002), o que teve como consequência a “<em>separação entre pensamento e política </em>[...] <em>entre filósofo e realidade</em>” (Wagner 2002). O resultado maior dessa cisão foi a instalação, na tradição ocidental, da dicotomia entre a <em>vita activa</em> e a <em>vita contemplativa</em> que oficializou a própria cisão entre pensamento e ação. Acreditou-se ser esse o cerne da diferenciação intelectual entre o termo <em>capoeira</em> e <em>mata secundária</em>, dicotomia linguística produzida pela consequente cisão do espaço em absoluto e relativo e em natureza e sociedade, questão observada por Smith (1988).


2016 ◽  
Vol 2 (1) ◽  
pp. 286
Author(s):  
Gustavo Dantas Carvalho ◽  
Andréa Galvão Rocha Detoni

O artigo analisa a temática da condição humana teorizada por Hannah Arendt em consonância com o direito de resistência ao estado de exceção à luz da compreensão de Giorgio Agamben. Exemplifica-se o estudo com a questão da reformulação do ensino nas escolas públicas de São Paulo, elaborada em 2015, e a crise do sistema carcerário nacional. São feitas considerações acerca da necessidade de reação da sociedade civil em relação às questões complexas que a rodeiam. Utilizou-se o método dedutivo, com a revisão bibliográfica e a análise de dispositivos legais servindo de base para o presente estudo.


2020 ◽  
Vol 73 (1) ◽  
Author(s):  
Yanna Gomes de Sousa ◽  
Soraya Maria de Medeiros ◽  
Viviane Euzébia Pereira Santos ◽  
Rayrla Cristina de Abreu Temoteo ◽  
Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho

ABSTRACT Objective: This study intends to analyze how the human condition of the nurse is established in the context of Psychosocial Care Centers (Caps). Method: theoretical-reflexive study, anchored in three essential parts: 1) Theoretical and philosophical conception of the human condition from Hannah Arendt’s perspective; 2) The nurse’s work in the Caps; and 3) Human condition to think about the work of the nurse. Results: in the context of the Caps, the work can be represented by the psychic significations; the work, through the production of nurses’ practice of care; and the action by the relations established between worker and institution, worker and user. Final considerations: the understanding of the vita activa allows to reflect on the human condition of the nurse in their work context and (re) considers a better understanding about the impact of the work on the life of these mental health workers in the contemporaneity.


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