Vozes do gênero - a inscrição da mulher e mãe no romance Cabra-cega de Lúcia Miguel Pereira

2011 ◽  
Vol 9 ◽  
Author(s):  
Edwirgens A. Ribeiro Lopes De Almeida
Keyword(s):  

O presente artigo propõe fazer uma breve explanação sobre uma das maneiras utilizadas pela escritora mineira Lúcia Miguel Pereira para inscrever, na ficção, a condição social de desprestígio a que era submetida a mulher ainda nos anos 50. Centrando-se na personagem Sara, esposa e mãe, integrante de um grupo familiar que apresenta sintomas do rompimento da família nuclear patriarcal, pode ser entrevista, na inscrição dessa personagem, uma estratégia narrativa para criticar e problematizar a situação das relações de gênero. Com esse intuito, o romance Cabra-cega põe em destaque a escrita de uma mulher que centraliza suas abordagens nas inquietações femininas revelando o estreito limiar existente entre imaginação e observação. Trazendo em si o dinamismo da época, embora coloque em cena um novo modelo de família por meio do comportamento da mãe e dos irmãos, é possível notar traços do discurso predominante, o que denota a necessidade de mudança permeada pelos perigos que tais posturas podem desencadear.

Author(s):  
Edwirgens Aparecida Ribeiro Lopes de Almeida

Em Surdina (1933) é o segundo romance publicado por Lúcia Miguel Pereira. Como explica Luís Bueno (2006), essa obra apresenta forte tendência documental, comum nos romances sociais da década de 30. Assim, põe em destaque as contradições do tempo, desde a desagregação de valores, passando aos costumes, ao papel mediador do trabalho na construção das identidades, à economia e às relações internacionais. Contudo, o mais evidente diálogo com o contexto pode ser entrevisto na postura das personagens, sobretudo no temor de viver a vida por algumas mulheres. Há, na narrativa, aquelas criaturas que experimentam diversos tipos de sensações, porém a narrativa é protagonizada por Cecília. Esta tem sua existência questionada a partir do pedido de casamento. Se no discurso tradicional, o casamento constitui uma forma de controle do homem sobre a mulher, contraditoriamente, nessa narrativa, o casamento é posto, na perspectiva crítica do narrador, como a única forma encontrada pela mulher para gozar a vida. Esse convite ao carpe diem provoca em Cecília certo questionamento sobre si mesma e sobre o contexto tradicional que condiciona as práticas, sobretudo das mulheres. Portanto, a narrativa nos apresenta mecanismos de reflexões sobre o modo de vida da mulher e o lugar ocupado por ela naquela sociedade, tanto a ficcional quanto a real. 


2017 ◽  
Vol 18 (1) ◽  
pp. 190
Author(s):  
Edwirgens Aparecida Ribeiro Lopes de Almeida
Keyword(s):  

O presente texto tem o propósito de estudar as relações de poder configuradas pela educação religiosa católica e pela sedução masculina exercidas sobre a personagem Maria Luísa, na obra homônima, de Lúcia Miguel Pereira. Publicada em 1933, Maria Luísa traz intensa sintonia com os princípios ideológicos daqueles tempos e conserva, de certo modo, uma preocupação com a ordem social, prevista e reiterada pelos meios de difusão do pensamento católico, como a revista A Ordem, a quem Lúcia contribui como escritora


Signo ◽  
2018 ◽  
Vol 43 (78) ◽  
pp. 149-157
Author(s):  
Edwirgens Aparecida Ribeiro Lopes de Almeida ◽  
Regina Queiroz de Oliveira
Keyword(s):  

RESUMO: A presente pesquisa integra o projeto “A literatura infantil de Lúcia Miguel Pereira- uma escrita da tradição?” que investiga os recursos adotados pela autora e crítica literária na composição de suas narrativas destinada aos pequenos leitores. Este texto tem como objetivo estudar a relevância da família e da configuração do espaço para a educação infantil nas viagens imaginárias da criança nas obras Maria e seus bonecos, de Lúcia Miguel Pereira comparando com as estratégias literárias adotadas pelo seu contemporâneo, Érico Veríssimo, quando compôs a narrativa As aventuras do avião vermelho. Para isso, serão revisitadas leituras sobre os dois autores citados acima, bem como nos cercaremos de discussões críticas e teóricas em torno da literatura infantil tendo como referência o pensamento de Antonieta Cunha, Philippe Àries, Regina Zilberman e Nelly Novaes Coelho, dentre outros.


2020 ◽  
Vol 1 (39) ◽  
Author(s):  
Sheila Maria dos Santos

O Brasil é um dos poucos países no mundo a possuir duas traduções integrais da obra maior de Marcel Proust, À la Recherche du temps perdu (1919-1927), ambas realizadas por escritores-tradutores renomados, a saber, Mario Quintana, tradutor dos quatro primeiros volumes, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Lucia Miguel Pereira, pela Livraria do Globo, entre 1948 e 1957, bem como a retradução, assinada integralmente por Fernando Py, publicada pela Ediouro, em 2001. Além de conferir prestígio e credibilidade à tradução, a presença do escritor-tradutor suscita uma série de questionamentos quanto à identificação das vozes poéticas presentes nesse novo texto traduzido. Em vista disso, este trabalho pretende analisar a forma como os escritores-tradutores lidaram com aspectos fundamentais do texto proustiano, tais como o ritmo, a pontuação e o componente cultural, no segundo volume da Recherche, À l’ombre des jeunes filles en fleurs (1919). Para tanto, serãoutilizadas como base teórica as contribuições de Henri Meschonnic, no que concerne à questão rítmica do texto literário, bem como os aportes de Isabelle Serça, particularmente a respeito da pontuação e do ritmo proustianos. Outrossim, no que tange ao componente cultural da Recherche, a reflexão partirá do pressuposto da transculturação para explicar as diversas transformações culturais identificadas nas traduções de Mario Quintana e Fernando Py, com base nas reflexões propostas por Fernando Ortiz e que foram, posteriormente, aplicadas à literatura, por Ángel Rama. Palavras-chave: Escritor-tradutor. Tradução rítmica. Marcel Proust.


2020 ◽  
Vol 4 (1) ◽  
pp. 188-192
Author(s):  
Roberto Acízelo De Souza
Keyword(s):  

O presente texto objetiva trazer luz ao romance Dona Guidinha do Poço, do escritor cearense Manuel de Oliveira Paiva (1861-1892), que permaneceu praticamente desconhecido até 1950, quando Lúcia Miguel-Pereira descobriu alguns fragmentos dele nas páginas da Revista Brasileira. O volume foi publicado na íntegra apenas em 1952, pela editora Saraiva. O artigo, entre outros pontos, põe em relevo o modo pelo qual a narrativa figura a moral patriarcal típica da sociedade rural nordestina, de maneira avessa às ênfases sentimentais do romantismo.


2016 ◽  
Vol 3 (6) ◽  
Author(s):  
Andréa Camila de Faria Fernandes ◽  
Marcia De Almeida Gonçalves
Keyword(s):  

2021 ◽  
Vol 29 (3) ◽  
Author(s):  
Andrea Angel Baquero

Resumen: Las luchas de las mujeres por adquirir independencia y autonomía respecto a sus cuerpos y sus vidas han sido una constante histórica. Desde la colonia, el cuerpo de la mujer y el control de su sexualidad se atribuyó a la potestad masculina. Amanhecer (1938) es una novela de formación con protagonista femenina. La novela, escrita por Lúcia Miguel Pereira, narra el proceso madurativo de Maria Aparecida, una mujer idealista y romántica que atraviesa por la angustia existencial y la crisis que generó el cambio de paradigma sobre lo femenino en la primera mitad del siglo XX en Brasil. Con esta transformación, muchas mujeres encontraron otros espacios fuera del hogar en los que desempeñarse. Sin embargo, tuvieron que enfrentar el peso de la herencia cultural, adversa a los cambios, y el anquilosamiento de las prácticas e imaginarios sociales.


2018 ◽  
Vol 11 (23) ◽  
pp. 3-10
Author(s):  
EDGARD CAVALHEIRO

Resumo Considerando, com Lúcia Miguel Pereira, ter sido medíocre a produção teatral machadiana, Edgard Cavalheiro procura entender, no contexto brasileiro, o caminho do escritor entre o entusiasmo pelo teatro e seu abandono precoce. O ensaio deixa ver a força do crítico Machado de Assis e sua concepção de arte, que permitem a Cavalheiro relativizar o propalado ceticismo machadiano.


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