EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS E PARRHESIA NOS ENSAIOS DE MONTAIGNE
Em seus últimos trabalhos, Michel Foucault destacou a importância da parrhesia (libertas, franc-parler, “dizer-verdadeiro”) nas práticas filosóficas da Antiguidade, em uma reflexão mais ampla sobre a “espiritualidade”, inspirada em grande medida na obra de Pierre Hadot. A noção de parrhesia mostra-se interessante também na abordagem dos Ensaios de Montaigne, nos quais podemos reconhecer uma série de “exercícios espirituais”, no sentido dado à expressão por Hadot: práticas, não apenas intelectuais, que visam a efetuar uma transformação no sujeito. O “ensaio”, em Montaigne, se apresenta como um exercício de “escrita de si” apoiado na leitura dos antigos, sobretudo dos filósofos do período helenístico. Essa ascese filosófica do gênero ensaístico também interessou a Foucault.