O Livro das Mil e uma Noites chegou ao Ocidente em 1704, na tradução francesa de Antoine Galland. A partir daí, o texto nunca tomou uma forma definitiva, nunca constituiu uma versão canônica. Os manuscritos não coincidem, assim como as sucessivas edições e traduções. Trata-se de um livro eternamente inacabado, cujo destino é o de ser, também, eternamente reescrito. O artigo procura interpretar o movimento de algumas versões, as querelas entre tradutores e comentadores, a obsessão pela busca da versão original, do verdadeiro autor, ou do texto mais legítimo, questões que, ao fim e ao cabo, terminam por negar a dimensão do imaginário e da fantasia, que são, afinal, as mais essenciais do livro.