O solipsismo memorial de Anton Lavriéntievich G-v em Os demônios, de Dostoiévski
O artigo analisa como o estatuto da memória garante verossimilhança ao romance Os demônios, a despeito da complexa disposição do foco narrativo dessa obra. A análise parte da concepção fenomenológica de tempo literário a partir de três instâncias ficcionais: histórica, discursiva e narrativa. Depois, é examinado como o realismo dostoievskiano se vale da memória e de sua lógica própria, avessa à dinâmica causal naturalista, para construir o protagonismo sutil do narrador Anton Lavriéntievich G-v. A partir das concepções filosóficas de tempo e de memória de Santo Agostinho e de Henri Bergson, é investigado como o discurso do romance pode ser intrinsecamente vinculado às associações significativas da memória de G-v, o que viabiliza outra leitura da obra: a de uma crônica majoritariamente composta por solipsismos confessionais