Literatura afrofeminina: a construção de novos significados
O objetivo deste artigo é analisar os elementos que permitem identificar o corpus da poética afrofeminina, estabelecendo uma discussão a respeito do conceito de escrevivência, cunhado pela escritora mineira Conceição Evaristo, e o processo de ressignificação da noção de identidade da mulher negra no Brasil por meio da literatura. A compreensão dos paradigmas e da perspectiva epistemológica negra presentes na materialidade textual desta poética pautou-se nos três temas estabelecidos pela teórica Patricia Hill Collins (2016), quais sejam: 1) a autodefinição e autoavaliação, que permitem uma autonomia de pensamento e resistência à objetificação inerente aos sistemas de dominação; 2) a intersecção entre múltiplas estruturas de dominação, que permite ao sujeito negro identificar o entroncamento e as nuances de um jogo estabelecido arbitrariamente pelo discurso hegemônico; 3) a redefinição e explicação da importância da cultura da mulher negra. A partir deles, estas mulheres exploram suas próprias vivências, identificando áreas concretas de relações sociais onde são criadas e transmitidas autodefinições e autoavaliações. A contrapelo, personagens e toda uma semântica irrompem, conduzindo um fio de memórias e revelando especificidades identitárias.