scholarly journals A Política do Silêncio: arte e educação na poética do coletivo Política do Impossível

2020 ◽  
Vol 10 (2) ◽  
Author(s):  
Pedro Caetano Eboli Nogueira

Resumo: O artigo trata das articulações entre arte, política e educação no âmbito da ação Traga Sua Luz, realizada pelo coletivo Política do Impossível em 2008. Destinada a questionar o processo de gentrificação que atingia o bairro da Luz - região central da cidade de São Paulo -, ela consistiu de uma performance coletiva e silenciosa, em que velas e pequenas lâmpadas eram carregadas e depositadas em terrenos desapropriados pela prefeitura. Por meio dos subsídios teóricos de Walter Benjamin, Georges Didi-Huberman, Roland Barthes e Jacques Rancière, o presente artigo elucida de que modo a suspensão do devir meramente comunicativo da linguagem permeia arte, educação e uma política do silêncio.

2019 ◽  
Vol 3 (1) ◽  
Author(s):  
Livia De Tommasi ◽  
Leandro Dias Castro ◽  
Vinicius Defillo Pintor ◽  
VIctor Borges de Couto ◽  
Julia Souza Reis ◽  
...  

O texto apresenta os relatos de jovens estudantes da Universidade sobre suas experiências de visitação em manifestações artísticas realizadas na cidade de São Paulo. São relatos em primeira mão sobre vivências e experiências juvenis na cidade, que testemunham da diversidade de situações e também da singularidade da condição juvenil numa cidade onde existem fronteiras espaciais e simbólicas que raramente são ultrapassadas. À luz do trabalho de alguns autores, especificamente Walter Benjamin e Jacques Rancière, as reflexões abordaram, de forma geral, a relação entre arte, política e mercado.


Sala Preta ◽  
2019 ◽  
Vol 19 (1) ◽  
pp. 288-305
Author(s):  
Lucia Regina Vieira Romano

Este texto analisa espetáculos apresentados na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo 2019, evidenciando os modos diversos como as obras reinventam o papel do púbico e instituem novas relações entre arte e política, assim como revigoram o papel social da arte. Real Magic, Boca de Ferro, Cria e MDLSX_Motus, em nossa leitura, são obras de resistência à lógica neoliberal, que vem interferindo na fruição do espetáculo performativo e determinando limites para a construção da cena contemporânea. Assumimos, portanto, um tipo de análise das obras teatrais e de dança que expande os elementos da performance para outras instâncias, considerando aspectos menos tangíveis no momento mesmo da apresentação, abrangendo o que não está amplamente visível ali, mas que não deixa de interferir nas dinâmicas de recepção. Colaboram para as análises as escritas de Arthur Danto, Claire Bishop, Jacques Rancière, Jill Dollan, Milton Santos e Walter Benjamin, ao lado de relatos dos e das artistas em quadro; fontes que nos permitem descrever algumas prerrogativas dessas ações diferenciadas em frente ao espetáculo cênico, baseadas em modalidades de criação colaborativas na exposição dos recursos de produção e instituições envolvidas, na densidade estética da cena, na valorização do inacabamento, na diferenciação produtiva da comunidade de espectadores e no dissenso, entre outras operações de compartilhamento. Defendemos que são obras como estas que podem questionar a evidência do que percebemos e entendemos como o real, revogando a separação entre aqueles e aquelas que ditam o que deve ou não ser pensado e aqueles e aquelas que devem pensar em acordo com os primeiros.


Author(s):  
Pedro Caetano Eboli Nogueira

O presente artigo analisa as ações anti-racismo “Monumento Horizontal” (2004), intervenção urbana realizada na cidade de São Paulo, e “Bandeiras” (2005), série de bandeiras abertas em diversas partidas de futebol. Ambas foram realizadas pelo coletivo Frente Três de Fevereiro, grupo paulistano de arte e ativismo surgido com o intuito de combater o racismo estrutural. Partindo de entrevistas realizadas com o grupo, procuramos compreender o “caráter poético” atribuído ao ativismo do coletivo, sublinhando de que modo ele emerge a contrapelo de concepções políticas baseadas na comunicação. Para tal, mobilizamos os subsídios teóricos de Jacques Rancière, amparados por autores como Jean-Luc Nancy, Silvio Almeida e Judith Butler. Assim, tomamos a “poética” como via de acesso para compreender, no âmbito das estratégias políticas do coletivo, o entrelaçamento entre a noção de dissenso e a ideia de acontecimento, tal como pensada por Jacques Rancière e Michel Foucault. Por fim, justapomos as expectativas de eficácia política, subjacentes às ações do coletivo, àquilo que Jacques Rancière chamou de “modelos de eficácia da arte” em seu regime estético.


Revista aSPAs ◽  
2019 ◽  
Vol 9 (2) ◽  
pp. 182-200
Author(s):  
Miguel Atticciati Prata

O presente artigo toma como ponto de partida fragmentos da revista Vocacional Memória: percorrendo vozes e ecos de um projeto público e a minha memória no Programa Vocacional da Prefeitura de São Paulo. Mirando essa política pública, lançada em 2001, o texto objetiva pensar espaços para a emancipação da pessoa. Tratando com Jacques Rancière da possibilidade de invenção de espaços para uma política da igualdade e lembrando com Michel de Montaigne o que um espaço pode guardar de inútil. Este artigo é interferido por fragmentos daquela revista e por um texto de Marina Corazza.


2017 ◽  
Vol 19 (1) ◽  
pp. 6
Author(s):  
Bruno Teixeira Paes ◽  
Isaac Pipano

Esse ensaio busca explorar a experiência das ocupações nas escolas secundaristas de São Paulo por meio de algumas das imagens produzidas pelos mesmos. Seguindo uma estrutura próxima da dinâmica dos planos fílmicos, nosso trabalho propõe uma articulação entre os discursos (visuais e narrativos) das ocupações compartilhadas nas redes sociais, por meio da análise das provocações que esses novos papéis desempenhados pelos secundaristas colocaram em relação à própria ideia de representação da escola, aluno e currículo. Ao pensarmos a prática educativa neste cenário de (re)organização provocado pela resposta do movimento dos secundaristas, remetemos tal experiência aos pensamentos de Jacques Ranciére (2012) e César Migliorin (2008), quando estes refletem sobre os encontros no “sensível”, oportunizados pelos diferentes espaços escolares. Em outro ponto, buscou-se o conceito de zona autônoma temporária apresentado por Hakim Bey (2004), para pensarmos este outro espaço em transformação de tempos, espaços, posturas, relações e corpos. Ao reconfigurar o espaço sensível das escolas, os estudantes vivenciam uma experiência (corpórea e intelectualmente) emancipatória, colocando a escola como um espaço de invenção. Por fim, nosso ensaio destaca a dimensão da resistência política e dos conflitos, que foram registrados e divulgados pelos secundaristas em meio a um cenário no qual o currículo da educação básica se aproxima a um ideal quantitativo voltado para o espetáculo dos dados. O que os secundaristas nos interrogam é uma abertura para suas demandas, uma chamada por escutas dentro das políticas públicas voltadas para a educação. 


Author(s):  
Nilda Guimarães Alves ◽  
Marcio Caetano ◽  
Maria Da Conceição Silva Soares

Como existem imagens que são capazes de construir histórias também existem aquelas histórias motivadas a partir dos modos como as imagens foram produzidas ou nos atravessaram de sentidos. Ainda que aparentemente tautológico, o trocadilho produzido na primeira frase expõe questões conceituais aos estudos das imagens. Vários(as) autores(as), a exemplo de Jacques Rancière (2012), nos chamam a atenção para a compreensão de que a imagem seja entendida em sua expressão de alteridade. Esse percurso daria conta de evitar a simplicidade da visualidade e, com isso, a ideia de produção de representações da realidade. “[...] quando a imagem não é uma coisa, ela provoca o advento de alguém” (MONDZAIN, 2011, p. 106). A imagem pode aferir formas ao acontecido: ela produz aos/às olhantes a aparência que se faz emergir no lugar da ação política. Nessa lógica, a imagem pode se conformar como espaço da emergência do acontecido, ao mesmo tempo em que opera criações de cenas nas quais os modos de subjetivação são produzidos. Cada imagem se configura com a sua identidade singular que age fora das generalidades e apagamentos. Conjunções promotoras de visibilidade interacionam imagens, leituras e palavras fazendo emergir cena(s) em processos contínuos de subjetivação, por vezes denunciando mais enfaticamente seus ares políticos. A força criativa que a imagem possui de tornar visível a ausência sem produzir posições essencialistas ou verdades absolutas é o que faz com que Mondzain (2009) a veja como política. Ela encarna dimensões indissociáveis: o visível, o invisível e a visão daquele que se/a coloca em relação. Exatamente porque a imagem opera entre e com os sujeitos, estabelecendo aproximações, orientando diálogos e identificando potências políticas e criativas, que emerge nossas preocupações sobre os usos das imagens nas operações lideradas pelos movimentos e mobilização sociais populares. São também com elas que inúmeras experiências populares adquirem sobrevida sobretudo em momentos inestimáveis que contrastam silêncios e excessos antidemocráticos de governantes em suas alianças com o sistema capitalista. Quando vista como fonte de produção de conhecimento, a imagem assume dimensões ainda mais polissêmicas. As imagens de conflitos políticos, resistências populares e/ou desastres ambientais, a exemplo de Brumadinho, narram também as ausências, presenças e conservam a capacidade de leituras visuais novas porque trazem a autoria daquele que vê. O registro que se faz desafia o silêncio abundante que se impõe pela lógica operativa capitalista e elabora potências capazes de mobilizar subjetividades em torno de outros arranjos na vida e na luta pela democracia. A imagem da política associa-se neste dossiê aos modos como o audiovisual e a fotografia reconfiguraram regimes de visibilidade, potências de apresentação e questionamentos às ordens opressivas. Quando observamos a inúmeras violações aos direitos humanos no mundo percebemos que a expressão imagética se tornou, portanto, potente em difundir formas de compreensão de narrativas que disputam redes de significados em torno do acontecimento e de lutas políticas das populações que historicamente lutaram e lutam pelo aprimoramento e fortalecimento da democracia. Neste momento, mais do que nunca, precisamos reafirmar o direito ao pensamento crítico, à elaboração científica e à poética da existência imprescindível à vida. Emergido inicialmente dos diálogos de Marcio Caetano em seu pós-doc com Conceição Soares no Proped-UERJ, este dossiê na REMEA, com o qual se buscou reunir investigações que tinham a interface entre a Cultura Visual e os Movimentos e Mobilizações Sociais Populares como eixo de estudo, se fez acontecer em tessituras e registros ocorridos no Grupo de Pesquisa: Currículos, Narrativas Audiovisuais e Diferença e diante do gosto pelo trabalho coletivo, Nilda Alves se somou a organização do dossiê. Compreendendo as configurações políticas e sanitárias em que vivemos no Brasil diante da pandemia do COVID-19 que assola o mundo, e que mata os mais pobres, e das barbáries lideradas pelo Governo Bolsonaro que reiteram ataques contínuos à democracia e aos direitos conquistados por populações historicamente subalternizadas, que emergiu o dossiê IMAGENS: RESISTÊNCIAS E CRIAÇÕES COTIDIANAS. Ao recorrermos aos acontecimentos produzidos pelas mobilizações e movimentos sociais populares, buscamos com este dossiê uma história imagética construída de silêncios, existências (por vezes, fragmentadas), e resistências. Mais do que transformar a imagem em apêndice ao campo empírico, os 27 artigos de pesquisadores e pesquisadoras publicados neste dossiê entendem que a cultura visual também encontra sentido nas táticas políticas e questionamentos cotidianos feitos pelos Movimentos e Mobilizações Sociais Populares às desigualdades ambientais que nos atormentam frente a complexidade que envolve a pandemia da COVID-19 e o recrudescimento das forças neoconservadoras e neoliberais. Desse modo, ao problematizar a dimensão visual, este dossiê reuniu artigos que abordaram, amparados nas múltiplas possibilidades teórico-metodológicas de estudos, a cultura visual e seus usos políticos, éticos e estéticos aos enfrentamentos cotidianos encampados pelos Movimentos e Mobilizações Sociais Populares aos ataques à democracia e aos direitos conquistados na atualidade pelas populações historicamente subalternizadas. Em companhia de pessoas amigas que ousaram estar conosco neste dossiê, lhes fazemos o convite ao diálogo. REFERÊNCIA MONDZAIN, Marie-Jos. A imagem pode matar?. Lisboa: Nova Vega, 2009. RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens. São Paulo: Contraponto, 2012.


2020 ◽  
Vol 6 (1) ◽  
Author(s):  
MAIRA LOPES BARILLO

Este artigo trata das montações monstruosas praticadas por drag queens, dançarinas burlescas e de voguing nas cidades do Rio de Janeiro, RJ, São Paulo, SP e Salvador, BA, nos anos de 2017 e 2018 e que foram fotografadas para o projeto “m0n5+r_S”, pela autora do trabalho. A série de imagens foi realizada em concursos de performance, balls e cabarés, onde a prática performativa da montação era realizada; e editada para que se evidencie os aspectos monstruosos, estranhos e grotescos das imagens. Neste texto, serão descritos alguns aspectos dessa prática, suas implicações éticas, estéticas e políticas, além de contextualizá-la na discussão sobre o queer/cuir e a comunidade LGBTQIA+, utilizando para isso conceitos de Paul Preciado, Judith Butler, Jaqueline de Jesus, Nízia Villaça e Hija de Perra. Contextualizando também as noções de monstruosidade e grotesco nesta forma artística contemporaneamente, através das ideias apontadas por Jacques Rancière, Diego Paleólogo, Muniz Sodré e Raquel Paiva.


2017 ◽  
Vol 9 (3) ◽  
pp. 500-512
Author(s):  
Flávia Marcarine Arruda

Resumo Este artigo se concentra em discutir a especificidade e as consequências decorrentes da adoção de processos participativos na arquitetura e em intervenção urbana, os quais são entendidos aqui como as propostas que têm como ponto inicial a partilha das atividades da produção em arquitetura com o usuário. Busca-se saber se tais processos promovem, de fato, a produção de um espaço menos determinista em relação ao seu uso, a emancipação dos sujeitos e o estímulo ao sentimento de pertencimento. Com essa intenção, analisam-se, especificamente, as experiências das intervenções urbanas “O lixo não existe”, propostas pelo coletivo Basurama e realizadas em São Paulo no período de 2012-2014. Essa análise é fundamentada nas entrevistas feitas com um dos membros do coletivo e de uma participante. Para tanto, procede-se a um cruzamento entre a concepção de emancipação/dissenso de Jacques Rancière e da ética do bem-dizer da psicanálise de Jacques Lacan.


2016 ◽  
Vol 19 (2) ◽  
pp. 529
Author(s):  
Salviana de Maria Pastor Santos Sousa

Nascido em Argel em 1940, formado nos anos 1960, em Paris, e aposentado como professor emérito da Universidade de Paris VIII, Jacques Rancière é dos mais importantes filósofos da atualidade. Publicou variados trabalhos, entre os quais: O Desentendimento - Política e Filosofia, A partilha do Sensível, A Noite dos Proletários, Políticas da Escrita, O destino das Imagens, A Fábula Cinematográfica. O livro que referencia a presente resenha denomina-se O Ódio à Democracia. Foi publicado em 2005, na França e lançado no Brasil, em 2014, pela Boitempo Editorial. Como é do seu feitio, Rancière traz ao debate público, de forma densa e tensionada, nesse trabalho, o tema da democracia, fazendo um circuito letrado pela história da filosofia política. Nesse circuito ilustrado, apresentam-se vivamente autores de diferentes épocas que trazem respeitáveis contribuições para a reflexão sobre a democracia, entre os quais se destacam: Platão, Aristóteles, Rousseau, Maquiavel, Karl Marx, Friedrich Engels, Hannah Arendt, Benjamin Constant, Michel Crozier, Samuel Huntington, Pierre Rosanvallon, John Adams, Jean-Claude Milner, François Furet, Claude Lefort, Alfred Fouillée, Jules Ferry. Nas 125 páginas do texto, Rancière recupera, com maestria, a indisposição que a democracia provoca naqueles que, independentemente do tempo e do lugar de nascimento, consideram-se titulares do poder de outorgar vida e morte ao restante dos mortais. Congrega esse debate nos quatro capítulos centrais do livro, assim, nomeados: Da democracia vitoriosa à democracia criminosa; A política ou o pastor perdido; Democracia, república, representação e As razões do ódio.


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