scholarly journals Clarice Lispector e a escrita de ninguém / Clarice Lispector and the Writing of Nobody

2021 ◽  
Vol 30 (1) ◽  
pp. 189
Author(s):  
Alex Keine De Almeida Sebastião

Resumo: Trata-se de abordar a questão da autoria, tópico já clássico em teoria da literatura, recorrendo-se, inicialmente, a algumas formulações de Roland Barthes, Michel Foucault e Maurice Blanchot. Todos eles contribuíram para desconstruir a noção de autor como aquele que detinha autoridade sobre a obra. Começando por perguntar “quem escreve?” e passando pela questão “que importa quem escreve?”, o artigo propõe o exame da afirmação “ninguém escreve”, considerando o ocaso do sujeito no processo da escrita. Neste percurso, aponta-se para a dupla valência do termo “ninguém”, em que as funções positiva e negativa podem se alternar, como ocorre, por exemplo, na Odisseia, de Homero. Ao final, recolhem-se algumas passagens da obra de Clarice Lispector que sugerem tratar-se ali de uma escrita de ninguém.Palavras-chave: autoria; escrita de ninguém; Clarice Lispector.Abstract: This work approaches the issue of authorship, an already classic topic in literature theory, by using some elaborations by Roland Barthes, Michel Foucault and Maurice Blanchot. All of them contributed to deconstruct the notion of author as the one who had authority over the work. Starting by asking “who writes?” and going through the question “what does it matter who writes?”, the article proposes to examine the statement “nobody writes”, considering the subject’s decline in the writing process. Along this path, the double valence of the term “nobody”, in which the positive and negative functions can alternate, as occurs, for instance, in Homer’s Odyssey. In the end, some passages from Clarice Lispector’s work are collected to suggest the presence of a writing of nobody.Keywords: authorship; writing of nobody; Clarice Lispector.

CounterText ◽  
2019 ◽  
Vol 5 (1) ◽  
pp. 1-18 ◽  
Author(s):  
Benjamin Noys

Utopias of the text are the moments of the emergence of a new and radical concept of the text as overflowing all limits and boundaries. Here these utopias are traced in the writings of Roland Barthes, Jacques Derrida, and Michel Foucault. They often emerge at the margins of these texts, in fragments or boundaries at which the utopia can be glimpsed before disappearing. These utopian moments can be reconstructed as a form of thinking the post-literary and its limits. They can also be traced to the explosion of speech during May 1968 and Maurice Blanchot is a key figure who links together this political moment with the ‘neutral’ form of writing. This article explores the fading of these utopias of the text alongside this draining of political energies. These processes of critique and waning suggest the inversion of utopias of the text into dystopias of the text. Now the sign or signifier appears dispersed or even insignificant compared to the powers and forces of post-literary domination. In this situation, however, the article suggests, the persistence of the utopias of the text as a critical horizon that can still inform how we grasp the equivocations of our post-literary moment.


2009 ◽  
Vol 21 (28) ◽  
pp. 87
Author(s):  
Leonardo Pinto de Almeida

A partir das reflexões de Roland Barthes, Maurice Blanchot, Gilles Deleuze e Michel Foucault sobre as vicissitudes da linguagem, analisaremos o caráter transgressivo da literatura no seio da linguagem. Para tanto, partiremos da relação entre a linguagem e as palavras de ordem, mostrando a rigidez de seu uso que estaria do lado do poder, da homogeneidade, da ordem e da constância. O estereótipo e a informação são formas de atualização do ser da linguagem em seu uso costumeiro, fazendo a linguagem funcionar a partir da padronização e da noção de utilidade. No entanto, a literatura seria uma linguagem sem poder, apontando para um modo de resistir aos padrões e aos códigos linguísticos. Ela seria um modo de resistência ao fascismo da língua – uma espécie de desvio que combate o enrijecimento e o poderio da linguagem estereotipada. Uma luta tecida nas paragens da própria linguagem. Este entendimento da literatura como resistência aponta para ela como uma potência a serviço da vida que se contrapõe ao poder, exercido por mecanismos transcendentes à experiência. Com a literatura, as palavras tecem relações intensas e, às vezes, incomuns que proporcionam uma ruptura nos usos costumeiros da linguagem. Assim, concluímos que a literatura é uma escrita a serviço da vida em sua contraposição aos elementos transcendentes à experiência que os aprisiona em sua dinâmica de coerção e captura.


2018 ◽  
Vol 23 ◽  
Author(s):  
Rosa Maria Bueno Fischer ◽  
Tatielle Rita Souza da Silva

RESUMO Neste texto, tratamos de como a linguagem literária pode fazer-se espaço de abertura e resistência em meio a práticas escolares rotineiras nos currículos formais. Metodologicamente, entrecruzamos literatura e educação: de um lado, recolhemos registros de práticas de leitura e escrita, protagonizadas à margem do sistema, em escolas públicas do Rio Grande do Sul; de outro, tomamos como objeto de análise o “acontecimento literário”, articulando pontos de afetação entre texto e narrativa. Roland Barthes, Michel Foucault, Walter Benjamin, Alberto Manguel e Clarice Lispector sustentam nossas análises teórico-metodológicas. Por fim, apostamos na potência do gesto literário como experiência de formação, já que a literatura promove outras formas de aprender, desloca o sentido e a direção do ensino, altera relações formais com o tempo e o espaço escolar, remaneja lugares de saber e não-saber, colocando em questão o que somos e aquilo em que nos tornamos.


2018 ◽  
Vol 24 (1) ◽  
pp. 283-290
Author(s):  
Fernando Scheibe

Com base em um enunciado de Michel Foucault (“A possibilidade de falar e a possibilidade de ser louco são contemporâneas”), este artigo investiga as relações entre linguagem, loucura e literatura, dialogando com autores como Clarice Lispector, Machado de Assis, Gilles Deleuze, D. H. Lawrence, Peter Stoterdjik, Michel Leiris, Jorge Luis Borges, Roland Barthes e Georges Bataille. Se a língua “é simplesmente fascista”, se somos falados por ela, o delírio é inevitável e somente nos resta modulá-lo. O delírio a bico de pena é um delírio menor e, ao mesmo tempo, “histórico mundial”, desenha a criança (o ser) em seu impuro devir, não busca fixá-la(o) nem impor limites. Esgarça a linguagem, constitui aquilo que Foucault, numa conversa com Duccio Trombadori, nomeava uma experiência.


2015 ◽  
Vol 2 (1) ◽  
pp. 191
Author(s):  
Maria Elenice Costa Lima ◽  
Vera Lucia Albuquerque de Moraes

ResumoO presente trabalho tem por objetivo suscitar a questão da autoria na obra da escritora brasileira Clarice Lispector, partindo, sobretudo, da leitura e análise das crônicas do livro A descoberta do mundo (1999) e das cartas publicadas em Cartas perto do coração (2001) que diz respeito às correspondências trocadas entre Clarice e Fernando Sabino. Para isso, serão discutidas, principalmente, as ideias de Roland Barthes que tratam da morte do autor e as de Michel Foucault acerca da função autor.Palavras-chaveAutoria, Clarice, escritura.


2019 ◽  
Vol 4 (2) ◽  
Author(s):  
Cacio José Ferreira ◽  
Norival Bottos Júnior ◽  
Akashi Hashimoto ◽  
Rebecca Abensur Bastos

Este artigo analisa algumas possibilidades de interpretação da obra 1Q84, de Haruki Murakami, utilizando-se o procedimento de investigação e descrições imagéticas como experiências literárias, discutindo, a partir dos três tomos que compõem a obra, as relações entre linguagem escrita e imagens produzidas pelo leitor. Trabalha-se, sobretudo, a noção de cartografia de imagens, a intertextualidade que a produção de imagens proporciona ao descrever o devir-imagem na literatura. Como aporte teórico, utiliza-se as reflexões de autores como Maurice Blanchot, Georges Didi-Huberman, Michel Foucault e Roland Barthes, entre outros.


Author(s):  
Hilary Radner ◽  
Alistair Fox

In this section of the interview, Bellour describes how he began to engage in film analysis in the 1960s, beginning with a sequence from Alfred Hitchcock’s The Birds, with the aim of establishing the way it worked as a “text.” He proceeds to describe his personal encounters with major figures like Roland Barthes, Claude Lévi-Strauss, Michel Foucault, and his friendship with Christian Metz, suggesting how his interchanges with them helped to shape his own thinking, and how it diverged from theirs.


Ícone ◽  
2013 ◽  
Vol 15 (1) ◽  
Author(s):  
Eduardo Queiroga

Este artigo reflete sobre a relação entre fotografia e autoria. Parte de algumas passagens da história da fotografia, observando o distanciamento entre a fotografia documento – aquela em que se busca uma abordagem mais neutra e objetiva do tema – e o “estilo documental”, termo cunhado por Walker Evans e estudado por Olivier Lugon, que dá conta de uma apropriação da estética do documento mas com objetivos que estão além do registro do assunto fotografado. Articula a pesquisa de Lugon com conceitos de Laura González Flores, Michel Foucault, Roland Barthes e Giorgio Abamben. Aqui trabalhamos com a premissa de que a autoria ganha espaço na medida em que há um distanciamento do tema.


2013 ◽  
Author(s):  
Franco Masciandaro

The principal aim of this study is to participate in the current renewed discourse on the meaning of friendship, initiated in 1994 by the French philosopher Jacques Derrida with his Politics of Friendship, by combining the philosophical method of inquiry with the hermeneutical approach to poetic representations of friendship in the Iliad, the Divine Comedy, and the Decameron. It examines friendship not only as the unique love between two persons based on familiarity and proximity, but as the love for the one who is far away, the stranger, for this is a natural extension of the implicit love of the distant other, of the other-as-stranger – what Emmanuel Levinas has called "the infinity of the Other" – which is concealed in our friend, and which, in the words of Maurice Blanchot, puts us "authentically in relation" with him or her.


2011 ◽  
Vol 37 (3) ◽  
pp. 613-628 ◽  
Author(s):  
Cintya Regina Ribeiro

O presente trabalho visa problematizar a suposta constituição virtuosa entre educação e conhecimento oriunda de certa herança cultural da modernidade ocidental. A problemática ancora-se na indagação difusa, porém insistente, a ecoar no campo educacional: "o que é o ato do pensar, em educação, na contemporaneidade?". A tomada das condições atuais do pensamento como um problema de pesquisa educacional coloca em questão a histórica articulação entre conhecimento e pensamento reflexivo, obrigando ao confronto de certos amálgamas pedagógicos caros ao campo educacional moderno. Tal enfrentamento se realiza na companhia dos pensadores Michel Foucault e Friedrich Nietzsche, dada a relevância estratégica de suas produções, particularmente acerca da linguagem, da produção da verdade e de suas implicações nos modos de conhecer e pensar. Busca-se operacionalizar uma crítica da linguagem em direção a uma crítica do pensamento em educação, na chave de uma problematização ético-política. Nesse trabalho, tal plataforma analítica configura-se a partir das discussões de Michel Foucault - tanto em relação à questão do pensamento do fora, tal como elaborada por Maurice Blanchot, como em relação ao pensamento da diferença, tal como formulado por Gilles Deleuze. Sugerimos que a exploração desse debate possa atuar como um exercício de exterioridade ou de pensamento diferencial no jogo com o conhecimento e com o pensamento reflexivo presentes no campo educacional - seja no âmbito dos fazeres pedagógicos cotidianos da escola, seja no campo da produção da pesquisa educacional.


Sign in / Sign up

Export Citation Format

Share Document