A FACILIDADE DO ACESSO (OU O ACELERADO EMPOBRECIMENTO DO GESTO DE MONTAR)

2021 ◽  
Vol 10 (1) ◽  
pp. 13-28
Author(s):  
Rodrigo Amboni
Keyword(s):  

Em Depois do futuro, Franco Berardi propõe que vivemos uma verdadeira mutação antropológica na infraestrutura social, que afeta tanto o psiquismo individual quanto o coletivo. Segundo ele, nossa incapacidade de absorver o excesso de informações que recebemos do ciberespaço faz do presente um tempo tão denso que o cérebro encontra dificuldades de se projetar para fora do momento presente, desembocando no que Berardi chama de o século sem futuro. Este ensaio propõe pensar essas questões trazidas por Berardi a partir de alguns conceitos de Walter Benjamin – em especial os de história, experiência e progresso – e encontrar brechas, através de uma noção de montagem como gesto inerente ao pensamento, para articular com os espectros do passado, que rondam o século XXI, presentes que permanecem em estado de latência.

2019 ◽  
Vol 7 (1) ◽  
pp. e00053
Author(s):  
Luiz Augusto Fernandes Rodrigues
Keyword(s):  

Meus estudos de doutorado desenvolvidos nos anos 1990 me levaram a concluir/constatar que o modelo urbano e arquitetônico modernista se revelou falacioso, mesmo que tendo se constituído como modelo cristalizado no Brasil (Autor, 2001). Falacioso tanto no sentido de que uma das máximas da arquitetura modernista "a forma segue a função" produziu campus e cidades universitárias povoadas de edifícios-ícones muitas vezes com graves deficiências de utilização (como questões sonoras e ambientais do Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB), projetado por Oscar Niemeyer, entre outros exemplos), assim como a preconização de se ter o espaço universitário como um dos setores conformadores da planejada cidade moderna (conforme preceituada pela Carta de Atenas, de 1933) promoveu, em muitos casos, uma ruptura desastrosa e elitizada entre cidade e universidade. Em complemento a isso, os ideários do planejamento estratégico contemporâneo da virada do século XX para o XXI, ao invés de se afastar de soluções que já vinham se mostrando desagregadoras, vão na direção de acirrar determinadas características setorizantes e excludentes (mesmo que travestidas de inclusivas e diversificadas) que privilegiam as relações econômicas em detrimento das relações socais, produzindo espaços de forte atratividade turística e de investimentos de capitais internacionais globais, mas que não potencializam relações de sociabilidade e de apropriação espacial mais efetiva. Pode-se observar tais resultados tanto nos estudos que desenvolvi sobre as soluções urbanas implementadas na cidade de Niterói/RJ, a partir de projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer (Autor, 2015a; 2015b), assim como diversos estudos sobre regeneração de áreas portuárias pelo mundo afora, como no caso da região do Porto Maravilha (Rio de Janeiro/RJ) que apontam o mesmo tipo de solução: espaços de forte atratividade turística e de consumo estruturados a partir de soluções arquitetônicas emblemáticas "assinadas" pelos mais reconhecidos arquitetos internacionais. Se o campus moderno/modernista se mostrou um modelo falacioso uniforme/uniformizador, o modelo urbano atual se mostra regido por lógica similar. Este texto busca reforçar a necessidade de soluções urbanas capazes de se contrapor a esta lógica, se configurando como alternativas que possam justificar a expressão de Walter Benjamin ao propor "varrer a história a contrapêlo". Busca-se refletir sobre a produção do espaço e as práticas socioculturais resultantes e vislumbrar/flagrar formas de produção de espaço que tragam reforço à sociabilidade.


2017 ◽  
Vol 13 (1) ◽  
pp. 47
Author(s):  
Leonardo Barci Castriota
Keyword(s):  

A realidade contemporânea parece marcada pela “estetização”, que perpassaria todas as esferas do vivido, chegando a própria realidade, no limi- te, a ser percebida como um “construto estético”. Ao procurar explicar esse fenômeno, o filósofo alemão Wolfgang Welsch argumenta que essa hiperes- tetização da realidade corresponderia a uma necessidade insaciável de se ter cada vez mais “vivências” (Erlebnisse), estando o mundo sendo crescente- mente transformado num “espaço de vivências” (Erlebnisraum). Ao tomar esse caminho explicativo, Welsch nos remete a uma discussão tradicional no pensamento alemão, muito bem representada pela abordagem de Walter Benjamin (1893-1940), que relaciona a temática da vivência às mudanças trazidas pela modernidade aos domínios da percepção, da recepção da arte e da própria memória.


2013 ◽  
Vol 12 (25) ◽  
pp. 189
Author(s):  
Cláudio Márcio Oliveira

Este trabalho é uma síntese de Tese de Doutorado, defendida junto a Faculdade de Educação da UFMG em 2011, e aborda a experiência formativa dos deslocamentos urbanos de trabalhadores pela Região Metropolitana de Belo Horizonte. Como pressuposto fundamental deste estudo defende-se a idéia de que os deslocamentos urbanos não são apenas um hiato ou um simples ato funcional, mas constituem processos de subjetivação e experiência das pessoas que se deslocam pela cidade. Neste sentido, tomo como conceitos fundamentais para a realização da investigação as idéias propostas por Walter Benjamin de Experiência (Erfahrüng) e Vivência (Erlebnis) para compreender a construção de sensibilidades nas tramas da cidade. Conceito de Experiência que, por sua vez, mantém vínculo indissociável com as narrativas produzidas pelos sujeitos pesquisados. O material empírico constituiu-se de três tipos diferentes de fontes. A primeira delas trata-se da observação participante dos deslocamentos de quatro trabalhadores residentes na cidade de Belo Horizonte (mais particularmente na região do Barreiro), com ênfase no ato de caminhar e nos usos cotidianos do transporte coletivo. O segundo conjunto de fontes de análise tratou de dois suportes letrados presentes nos ônibus que circulam pela cidade de Belo Horizonte: o “Jornal do Ônibus” e os “Quadros de Horários”, entendidos neste estudo como portadores de representações acerca de como os usuários de ônibus se apropriam da cidade. A terceira parte do material empírico foi composta de entrevistas semi-estruturadas, nas quais se buscou elementos da história de vida dos sujeitos, suas relações com a cidade de Belo Horizonte ao longo dos tempos e suas percepções acerca do cotidiano do deslocar-se pela cidade. De posse destas fontes, a experiência do deslocar-se pela cidade foi analisada a partir dos seguintes eixos: as relações que sujeitos estabelecem com os múltiplos tempos da cidade; os usos e percepções do espaço do ônibus; as relações que os sujeitos estabelecem com os estranhos que se apresentam nas viagens; o lugar do corpo e das sensibilidades nos deslocamentos. As experiências dos trabalhadores pesquisados suscitaram um conjunto de pautas de reflexão e ação. Entre elas, destaco a necessidade de se tratar a temática da velocidade como questão pública junto aos processos sociais; o questionamento dos critérios de funcionalidade que orientam o provimento do transporte público em Belo Horizonte; e principalmente, uma necessária abertura para a dimensão estética dos deslocamentos urbanos, condição fundamental para a construção de uma cultura pública de encontros que materialize o Direito à Cidade aos seus habitantes.


2019 ◽  
Vol 26 (3) ◽  
pp. 151
Author(s):  
Eduardo Oliveira Sanches ◽  
Divino José da Silva
Keyword(s):  

Tem-se por objetivo neste estudo analisar a noção de experiência na obra de Walter Benjamin como resultado de reflexões realizadas pelo autor sobre o tema desde sua sua juventude e até sua maturidade. Demonstou-se variações sobre qualidades do conceito de experiência, que foram sendo construídas, gradualmente, conforme o autor mudava seu foco de análise e observação social para falar de experiência e modernidade. Deste trânsito, foram feitas inferências para demonstrar que a noção desenvolvida pelo autor se caracteriza por meio dos desvios que ele mesmo faz durante a vida e que o ajudaram a construir seu entendimento sobre a ideia de experiência. Deste modo, Benjamin voltou-se para o conhecimento como um exercício que evoca o acontecimento, os agoras, os sentidos da aura. Essa dimensão conceitual congrega em si o conhecimento que se constitui a partir de se ter experiências e não apenas de fazê-las como visa a ciência moderna (AGANBEN, 2005). Foram utilizados seis ensaios para estabelecer esta análise, são eles: “Experiência” (1913); “Sobre o programa da filosofia do porvir” (1918); “Experiência e pobreza” (1933); “O narrador. Considerações sobre a obra de Nicolai Leskov” (1936); “Sobre alguns temas em Baudelaire” (1940) e “Infância Berlinense: 1900” (escrito entre 1926 e 1938).


2019 ◽  
Vol 15 (1) ◽  
pp. 203
Author(s):  
Francisco Camêlo

Resumo: Propõe-se uma reflexão cruzada entre Walter Benjamin e Robert Walser, a partir de suas micrografias. Dentre os muitos objetos que colecionou durante a vida, Benjamin tinha especial apreço por livros infantis, miniaturas e brinquedos. Esse interesse pelo diminuto também se manifestava na extrema pequenez de sua letra e no desejo de chegar a cem linhas numa folha de carta de tamanho convencional, feito conseguido por Walser, que escrevia microtextos com uma grafia minúscula e sobre quem o próprio Benjamin redigiu um curtíssimo ensaio em 1929. Se, por um lado, a letra miniaturizada de Benjamin e de Walser aponta para um gesto de escrita que parece cifrar o conteúdo do texto, por outro lado, a micrografia de ambos diz do interesse mútuo de se esconder nas malhas textuais através de um apequenamento do eu pela escrita. Pode-se, ainda, aproximar a miniaturização da letra de uma estreita vinculação com o universo da infância, seja pelos personagens crianças e fracassados presentes na obra de Walser; seja pelo protagonismo que a infância como Denkbild (imagem de pensamento) assume nos escritos de Benjamin. A partir dessas afinidades eletivas, o artigo procura mostrar a miniaturização como um procedimento de escrita de Benjamin e de Walser através de paralelos entre suas micrografias e de comentários analítico-especulativos de ensaios de Benjamin e de contos de Walser.Palavras-chave: Walter Benjamin; Robert Walser; escrita; miniaturização, infância.Abstract: The article proposes a cross-reflection between Walter Benjamin and Robert Walser and finds its first intersection in the micrographs produced by them. Among the many objects collected during his lifetime, Benjamin seems to have had a special appreciation for children’s books, miniatures and toys. This interest in small items was also manifested in the extreme smallness of his handwriting and in the desire to write one hundred lines in a conventional-size paper – this last one achieved by Walser, who wrote microtexts in a miniscule handwriting and was also the subject of a short essay Benjamin wrote in 1929. If, on the one hand, the miniaturized handwritings of both Benjamin and Walser point to a manner of writing that seems to encrypt the content of texts, on the other hand, the micrographies constructed by both men state a mutual interest in hiding amongst the textual mesh through the suppression of the self in writing. One can, still, liken the miniaturized handwriting with the universe of childhood, be it by the character of the child or the character of the so-called underdog (both present in the works of Walser) or by the protagonism that a childhood-as-Denkbird (image of thought) assumes in Benjamin’s work. Based on these elective affinities, the article seeks to show the miniaturization as a writing procedure employed by both Benjamin and Walser, and it will do so by establishing parallels between the micrographs of the latter and the analytical-speculative commentaries present in Benjamin’s essays and in Walser’s tales.Keywords: Walter Benjamin; Robert Walser; writing; miniaturization; childhood.


2012 ◽  
Vol 13 (2) ◽  
Author(s):  
Gustavo Racy

A partir de uma consideração de Roger Bastide, a saber, o da necessidade de um novo princípio para o estudo sociológico e antropológico das religiões na contemporaneidade, este artigo tem como objetivo analisar o olhar sociológico sobre as religiões partindo da relação entre mitologia, religião e capitalismo - fenômeno intimamente relacionado à religião nas sociedades contemporâneas, segundo o autor e a tradição. Para isso, toma-se o pensamento de Bastide acerca da religião na contemporaneidade - de sua relação com o mito e o capitalismo – aliado ao pensamento de Walter Benjamin que postulou, em texto póstumo de 1921, a hipótese de se compreender o capitalismo como um fenômeno em-si religioso, subvertendo o dogma religioso e tornando-se, por isso, uma religião absoluta. O artigo também alia à reflexão o pensamento de Giorgio Agamben, que parte da premissa de Benjamin para parte de suas reflexões acerca da sociedade contemporânea.


Linha D Água ◽  
2017 ◽  
Vol 30 (2) ◽  
pp. 35
Author(s):  
Helba Carvalho
Keyword(s):  
De Novo ◽  

O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados de uma experiência prática de incentivo à leitura de textos literários em projetos que coordeno, durante quatro anos, com os alunos do Curso de Letras da Universidade Cruzeiro do Sul, para o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista. Todas as atividades propostas no evento buscam resgatar a tradição oral de contar histórias e “a arte de contá-las de novo”, conforme Walter Benjamin (1994) e ressignificar o espaço público (a praça), onde ocorre o Festival, transformando-o em um espaço lúdico com intervenções literárias e artísticas que promovam transformações ou reações, sejam elas intelectuais, sensoriais ou físicas no público, em sua maioria, alunos de escolas públicas e privadas da Zona Leste. Neste sentido, o futuro professor, aluno do Curso de Licenciatura em Letras, tem a oportunidade de se relacionar com jovens e crianças, durante três dias ininterruptos, em um espaço fora do ambiente escolar, criando situações de interação que exijam dele conhecimento sobre a literatura, gosto pela leitura, criatividade, capacidade de trabalhar em equipe e interagir com o público e, sobretudo, de responsabilidade social nas ações propostas, a fim de sensibilizar o público participante por meio da literatura.


Author(s):  
Cláudia Silvana Saldanha Palheta

ResumoPensando sobre a sobrevivência da imagem, o artigo propõe a análise da obra “Vento sul com chuva” (1957), de Hassis (1926-2001), artista catarinense, a partir das articulações engendradas por ela. Buscou-se as contribuições de Didi-Huberman e Walter Benjamin no intuito de se compreender as imagens como sintomas de uma memória que é particular e historicamente construída, constelando a obra com outras duas de expressiva simbologia: a fotografia do paraense Luiz Braga e o desenho de catarinense Susano Correia. O modo de estar e perceber o mundo, influenciaram, sobremaneira, a trajetória artística de Hassis, que passou a vida organizando e reorganizando imensurável arquivo de suas obras; objetos e documentos (hoje preservados pelo Instituto Hassis), que só tem significado se entendermos sua obra, enquanto imagem, como sintoma da relação dialética do próprio artista em seu espaço e tempo.AbstractThinking about the survival of the image, the article proposes the analysis of the work “South Wind with Rain” (1957), by Hassis (1926-2001), a Santa Catarina artist, based on the articulations engendered by it. The contributions of Didi-Huberman and Walter Benjamin were sought in order to understand the images as symptoms of a memory that is particular and historically constructed, constellating the work with two others of expressive symbology: the photograph of the Paraense Luiz Braga and with the drawing by Susano Correia, artist from Santa Catarina.The way of being and perceiving the world, influenced, the artistic trajectory of Hassis, who spent his life organizing and reorganizing the archive of his works; objects and documents (now preserved by the Hassis Institute), which is meaningful only if we understand his work as an image, as a symptom of the artist’s dialectic relation in space and time.


2018 ◽  
Vol 11 (24) ◽  
pp. 111-126
Author(s):  
Mônica Guimarães Teixeira do Amaral ◽  
Cristiane Correia Dias ◽  
Daniel Bidia Olmedo Tejera
Keyword(s):  
Hip Hop ◽  

Vilém Flusser (1985,1987) anuncia a falência do universo da escrita, dado o predomínio da tecnoimagem na era pós-histórica, que pode conduzir a um estado de irreflexão e de desumanização do Homem em contraposição à estética do jogo. Estas contradições e ambiguidades apontadas por Flusser remetem-nos ao debate entre Adorno e Benjamin sobre a função da arte na era da reprodutibilidade técnica nos anos 1930, que é retomado por Adorno nos anos 1960, em que este admite que o filme possa conter algo de liberador. Inspirados nesse debate, analisaremos como o choc póstumo propiciado pela fotografia e pelo cinema de vanguarda (Benjamin, 1936) e hoje, pelos videoclipes, emergem como “reposição objetivadora de uma experiência” (Adorno, 1967). E, ainda, como os cenários de declínio da escrita e de emergência das tecnoimagens, ressaltados por Flusser, apontam para a atualidade da ideia de “reversão dialética” para se pensar a “liberdade de se jogar contra o aparelho”, por meio da estética do hip-hop. 


2011 ◽  
Vol 4 (1) ◽  
pp. 93-106
Author(s):  
Gustavo Racy

Segundo Michel Foucault, o sexo é um grande produtor de verdade e falsidade. No Oriente, essa verdade se dá no sexo por meio de arte. No Ocidente, ele vem sendo usado como uma ciência, oposta, pela confissão católica, aos segredos e iniciações da arte erótica oriental. No entanto, há possibilidade de se instaurar essa ciência como um discurso poderoso de busca pela verdade. No caso do sexo, de busca pela verdade do prazer. Giorgio Agamben dá seguimento a essa possibilidade, aliando a Foucault o pensamento de Walter Benjamin, traçando a tarefa política das gerações vindouras como a tarefa de profanar o improfanável, de restituir à vida humana aquilo que nos foi destituído: a possibilidade de busca pelas verdades veladas pelos discursos repressores produtores de verdades e mentiras.


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