scholarly journals A autoestima piauiense, os usos políticos e as repercussões na memória

2021 ◽  
Vol 13 (33) ◽  
pp. e0210
Author(s):  
Cláudia Cristina da Silva Fontineles

O presente texto discute em que medida os meios de representação produzidos pelo e sobre o governo de Alberto Silva, em sua primeira gestão como governador do estado do Piauí (1971-1975), contribuíram para difundir a crença sobre este governo ser o principal responsável pela construção da autoestima piauiense, e por conseguinte, pela formação da identidade piauiense. O texto visa a discutir como esses discursos repercutiram na memória e na história da comunidade local a ponto de se irradiarem até entre os adversários políticos do referido administrador. Defendemos que esse projeto de construção de um ideal otimista não estava restrito ao Piauí, e que tampouco ocorreu de forma isolada e inusitada, como fruto da decisão de um só homem, pois estava articulado à configuração histórica vigente no país. Para tanto, recorremos aos conceitos de identidade – a partir das contribuições formuladas por Stuart Hall e por Zygmunt Bauman; memória – a partir dos estudos realizados por Paul Ricœur e por Michel de Certeau –; e de representação, nas discussões de Roger Chartier. A partir da crítica documental e da metodologia da História Oral, analisamos os documentos oficiais, matérias jornalísticas publicadas em veículos midiáticos impressos de circulação nacional e em televisivos locais, que abordaram esse tema, durante e após o término de seu governo, além de relatos do próprio governador, de seus aliados e de seus adversários políticos, visando a entender como essas construções discursivas influenciaram a história e a memória piauiense. Palavras-chave: História; política; identidade; memória.

Author(s):  
Alex Villas Boas ◽  
Jefferson Zeferino ◽  
Andreia Cristina Serrato

O campo de estudos em Teologia e Literatura está consolidado no contexto brasileiro. A proposta do grupo teopatodiceia visa situar este diálogo da teologia como pergunta pelo sentido de Deus na busca de sentido humana e oferta de uma racionalidade crítica a um sistema de crença tendo a literatura como interlocutora privilegiada, mas também outras formas de narrativas e expressões artísticas da condição humana. Nesse sentido, o elemento antropológico visa não somente o diálogo com a antropologia literária mas considera também, desde um projeto de arqueologia do saber teológico, a produção de subjetividades implicadas (pathos) nos saberes em diálogo e nos modelos epistemológicos que melhor favorecem a elaboração de uma teologia pública, plural e contrahegemônica a fim de discernir modos de se responsabilizar por uma agenda pública desde uma sensibilidade ética (diké) comum aos dilemas contemporâneos. A literatura ocupa um papel importante de heterologia no diálogo com a teologia. Como uma abordagem interdisciplinar, o projeto arqueológico se nutre dos percursos teóricos de autores como Antonio Manzatto, Paul Ricoeur, Michel Foucault, Michel de Certeau e David Tracy. Numa crítica à autorreferencialidade teológica, a via dialógica, interdisciplinar e intercultural da perspectiva teológica do grupo se aloca no conjunto das ciências humanas.


Author(s):  
Nazaré Torrão

O ser humano é um animal social. A atual situação pandémica e as limitações que impõe aos contactos sociais lembram-nos esta realidade a cada dia que passa. O indivíduo estabelece relações com o Outro, desde o dia em que nasce, primeiro com a família próxima, para pouco a pouco ir alargando o seu mundo de relações e se inserir numa matriz social, que cria o sentido de pertença a um grupo, um Nós. É no seio dessa matriz que cada indivíduo vai formar a sua identidade, através das trocas, contactos e relações que vão orientando as suas escolhas identitárias, quer estas se alinhem com o coletivo, quer se demarquem do mesmo. É nesse sentido que os filósofos da identidade afirmam que o Eu só se pode formar por confronto com o Outro. Como o explicou Paul Ricoeur, entre vários filósofos, só pode ter uma forma narrativa, pois definir-se é, em última instância, contar-se. Indivíduos ou coletividades definem-se através das histórias que contam a si e aos outros sobre si (Ricoeur, 1991). Stuart Hall confirma-o afirmando que a identidade se constrói no interior e não no exterior da representação.


2019 ◽  
pp. 201-216
Author(s):  
Celeste-Marie Bernier ◽  
Alan Rice ◽  
Lubaina Himid ◽  
Hannah Durkin

‘Naming the Money’ has become Himid’s signature installation, consisting of 100 colourfully painted figures interacting with each other across a large gallery space accompanied by a soundscape. It speaks to the history of Transatlantic Slavery and to modern modes of labour, which have in common the destruction of identities through the movement across geographies. Scraps of text on accounting paper on the backs of each figure tell poetically the journey of these people through the change in their names when in the new place. The figures act as a guerrilla memorialisation of multiple African diasporic figures who have been forgotten by history. Through the theoretical writings of Paul Ricoeur, Michael Rothberg, Stuart Hall, Dionne Brand, Hershini Bhana Young, Saidiya Hartman and Giorgio Agamben the chapter explicated the ways in which Himid uses her installation to comment on historical and contemporary trauma and those who are lost and displaced, then and now.


Author(s):  
João Rodolfo Munhoz Ohara

O funcionamento da verdade no texto de história não depende apenas de suas condições epistemológicas, mas também de uma relação ética entre historiador e leitor. Paul Ricoeur indicou que nessa relação se estabelece um pacto tácito de leitura, um contrato em que o historiador garante ao leitor que a narrativa apresentada é “verdadeira”. Michel de Certeau, de outro lado, trabalhou tanto sobre o funcionamento interno dessa maquinaria de produção de verdades (a operação historiográfica) quanto sobre o caráter ativo da leitura. Cruzando tais insights, proponho que devemos pensar a respeito dessa relação ética entre autor e leitor, considerada aqui nas categorias de confiança e expectativa.


2020 ◽  
Vol 45 ◽  
pp. 16
Author(s):  
Conceição Leal da Costa ◽  
Maria Da Conceição Passeggi ◽  
Simone Maria da Rocha

Admitindo que a criança tem o direito assegurado de se expressar sobre questões que lhe dizem respeito, o objetivo deste artigo é discutir a importância de tomar em consideração a palavra de crianças com doenças crônicas, implicando escutar o que têm a dizer sobre as experiências vividas nas travessias entre a saúde e o adoecimento, a escola e o hospital. A pesquisa foi realizada com seis crianças hospitalizadas, recorrendo a uma situação de faz de conta. A base teórica fundamenta-se nas propostas de Jerome Bruner sobre a capacidade da criança em se tornar narradora, nos estudos de Paul Ricoeur sobre a atividade humana de se compreender ao dar sentido à experiência vivida e numa certa visão de aprender para o bem-estar (KICKBUSCH, 2012). As análises permitem discutir a agentividade da criança, sua capacidade para acolher o outro, a importância das classes hospitalares para o seu bem-estar e como se tornam “experts” no convívio com a doença nas transições peculiares de sua condição de criança no convívio com o adoecimento. 


Tangence ◽  
2005 ◽  
pp. 9-19
Author(s):  
Bernard Andrès

Prenant appui sur les travaux de Pierre Nora, de Jacques Le Goff, de Michel de Certeau, de Paul Ricoeur et de Michel Foucault, cet article évalue les conditions de possibilité d’une histoire littéraire des Canadiens au xviiie siècle. Comment, de nos jours, « faire de l’histoire », comment « inventer une littérature » à partir d’un corpus hétérogène d’archives manuscrites et imprimées dont les auteurs n’avaient pas toujours conscience de « faire oeuvre » ni de passer à la postérité ? Quelle mémoire pouvons-nous opposer aujourd’hui à l’oubli dans lequel l’institution littéraire a longtemps plongé cette production ? De Lahontan à Bailly de Messein, en passant par Charlevoix, Lafitau, Bégon, mais aussi les textes de la Conquête, la richesse et la variété de cette archive justifient-elles vraiment notre entreprise d’exhumation ?


Author(s):  
Norma Sueli De Araújo Menezes ◽  
Julia Morena Costa

Este ensaio objetiva apresentar uma análise da violência presente no livro “Amuleto” do escritor chileno Roberto Bolaño. O romance está contextualizado no início da década de 1970, momento de grandes tensões políticas e de significativa violência no México e do início da ditadura militar-empresarial chilena (1973-1990). Os regimes ditatoriais, embora em circunstâncias diferentes, foram (e são ainda) episódios marcantes que unem os países latino-americanos. Identificaremos as diversas formas de violência ocorridas na América Latina, especificamente, no Chile e no México durante o período mencionado, assim como, qual a relação entre a política e a literatura presentes na referida obra. Os atuais discursos políticos que circulam em nossa sociedade sinalizam que grande parte da população brasileira provavelmente ignora parte significativa da história, inclusive do Brasil, nas décadas de 1960/1970, ou seja, a memória produzida sobre este período não deu conta de fazer conhecer os horrores e as atrocidades cometidos durante os mais de 20 anos de governo militar no país. A partir da abordagem do lugar da poesia e dos poetas na década de 1970, a narradora de Amuleto versa sobre seu papel de defensora da poesia e da memória política do México e do Chile de meados do século XX, de forma indissociável. Com seu discurso circular, calcado na reiteração de eventos traumáticos que presenciou, em especial, à invasão à UNAM, o Massacre de Tlatelolco (1968) e o golpe militar chileno (1973). Neste último fato, relatado pelo personagem Arturo Belano, há um trabalho de escavação memorialística, tanto nas ocorrências históricas mencionadas, como dos intentos poéticos do distrito federal mexicano. Os jovens poetas narrados pela protagonista defendiam o livre trânsito entre vida e poesia, se opunham aos moldes acadêmicos vigentes encarnados na figura de Octavio Paz, como também do poder hegemônico. O movimento poético desses jovens latino-americanos da década de 1970 agrega as muitas inquietações dos seus integrantes. A paixão pela poesia é o princípio básico que dá unidade ao grupo que buscava em cada ato e em cada verso um novo modo de explicar o mundo através de uma poesia sem burocracias, sem espaços de poder e legitimações padronizadas. Este estudo contribui para a indispensabilidade de se manter vivos os horrores e traumas que aconteceram durante os regimes autoritários e as ditaduras militares na América Latina e suas reverberações, considerando, sobretudo, que a memória pode ser um potente instrumento utilizado na reconstrução da história. Serão utilizados textos teóricos e críticos de Paul Ricoeur (1996), Nascimento (2008), Seligmann-Silva (2003), Sarlo (2007) e Rojo (2012), Bolognese (2009), Villarreal (2011), entre outros.


2011 ◽  
Vol 27 (1) ◽  
pp. 347-368 ◽  
Author(s):  
Michel Fabre
Keyword(s):  
De Se ◽  

A expressão "fazer de sua vida uma obra" tornou-se um slogan que necessita ser questionado. Com efeito, se lembrarmos a distinção aristotélica entre ação e produção, práxis e poiese, não se trataria de uma confusão de categorias? Podemos conceber a vida como um modo de produção? Se for de fato uma produção artística, o que significa então pensar a vida sob uma modalidade estética? Não seríamos levados a explicitar as tensões que não deixam de se manifestar entre estética, ética e moral? Enfim, "fazer uma obra de sua vida" supõe antes de tudo desdobrá-la sob a forma de narrativa para poder avaliar o que nos conduz a explorar - na direção de Paul Ricoeur (1984; 1985) - os dilemas da escrita de si.


Author(s):  
Tomás Elias Zeitler

During the past four decades, the studies concerning the historiographical production have adopted, as a favorite reference, what Michel de Certeau called “historiographical operation” in his well-known work L’Ecriture de l’Histoire. On the basis on some comments on it provided by Paul Ricoeur, we shall examine the main aspects of this proposal and discuss its possible adaptation to the current requirements of the writing of history and the practice of historians.Key WordsHistoriographical operation, social place, practice, writing, structuralism, hermeneuticsResumenEn las últimas cuatro décadas, los estudios relativos a la producción historiográfica han tomado, como referencia predilecta, lo que Michel de Certeau denominó “operación historiográfica” en su famoso libro L’Ecriture de l’Histoire. Tomando algunos comentarios de Paul Ricoeur sobre dicha propuesta, nos proponemos examinar los principales aspectos de la misma y discutir su posible adaptación a las actuales exigencias de la escritura de la historia y de la práctica de los historiadores.Palabras clavesOperación historiográfica, lugar social, práctica, escritura, estructuralismo, hermenéutica


2012 ◽  
Vol 32 (64) ◽  
pp. 341-350
Author(s):  
Marieta de Moraes Ferreira

François Dosse, historiador francês, nasceu em Paris numa família de classe média, e desde cedo se interessou por política, vinculando-se quando jovem ao trotskismo. Estudou sociologia e história na Université de Vincennes - Paris VIII. Aprovado no exame de Agrégation, lecionou vários anos nos liceus de Pontoise e Boulogne-Billancourt. Foi Maître de conférences no IUFM (Instituto de Formação de Mestres) de Versailles e no de Nanterre. Foi aprovado no exame para dirigir pesquisas em 2001, quando produziu um trabalho sobre Michel de Certeau e consolidou sua orientação para a área de teoria da história e historiografia. A convite de Henri Rousseau, vinculou-se ao IHTP, onde participou de vários seminários voltados à epistemologia dos estudos sobre o tempo presente. Publicou inúmeros trabalhos nessa área, focalizando especialmente biografias de intelectuais como Paul Ricoeur e Pierre Nora. Atualmente é Professor no IUFM de Créteil.


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