Récits idéologiques et logique démocratique : pour une réévaluation de l'idéologie à partir de Claude Lefort et Paul Ricoeur

2013 ◽  
Vol 46 (1) ◽  
pp. 115-134
Author(s):  
Myrtô Dutrisac

Résumé.Mon objectif est de mettre de l'avant une dimension souvent négligée du discours idéologique, dimension positive qui en fait un type de récit politique permettant à un groupe de se nommer et de se définir. Je cherche plus précisément à compléter l'analyse de l'idéologie proposée par Claude Lefort en m'appuyant sur les observations qu'offre Paul Ricoeur sur ce phénomène. Lefort, lecteur de Marx, semble mettre essentiellement de l'avant la dimension dissimulatrice de l'idéologie. Pourtant, il aurait selon moi tout à gagner à reconnaître sa dimension positive, dimension jouant un rôle essentiel dans la construction de l'imaginaire social collectif. Mon hypothèse est la suivante : il ne faut pas négliger cet apport positif du discours idéologique, reconnu par Ricoeur, puisque ce discours, aussi longtemps qu'il reste bien visible, est un moteur essentiel du jeu démocratique. Même quand l'idéologie s'expose comme pur discours de domination, servant à défendre les intérêts d'une classe dominante, elle nourrit la compétition ou la logique démocratique en s'offrant comme un discours d'autorité auquel on peut réagir. L'étude du mouvement du discours idéologique, mouvement entre affirmation et dissimulation, permettrait même d'offrir de nouvelles perspectives de réponse au problème de la crise de l'imaginaire social qui occupe Lefort à l'époque où il publie ses textes sur l'idéologie, à la fin des années soixante-dix.Abstract.Ideology is often perceived as an instrument used by a group of people to secure its domination over others. It is used to disguise certain aspects of social reality. I want to bring forward another dimension of ideology, a positive dimension that makes it a necessary component of the affirmation, and therefore the births, of social groups. To do this, I wish to supplement French philosopher Claude Lefort's analysis of ideology with the addition of a few ideas inspired by the work of one of his peers, Paul Ricoeur. Lefort, a reader of Marx, focuses essentially on the dissimulative dimension of this phenomenon. By doing so, he does not take into consideration its role in the construction of social imaginaries. I wish to argue that this positive aspect of ideology, acknowledged by Ricoeur, plays an essential role in the democratic experience, as long as the ideological discourse remains visible for everyone. Even when this discourse presents itself solely as an instrument of domination used by a class in order to preserve its own interests, it sustains the internal logic of democracy. By establishing itself as the main discourse of authority, its legitimacy will undoubtedly be put into question in the course of the democratic competition for power. It nourishes this competition. I feel that the study of this movement of ideology between affirmation and dissimulation can even offer new solutions to the crisis of the social imaginary diagnosed by Lefort during the 1970s, when he wrote his essays on ideology.

Author(s):  
Alex Villas Boas ◽  
Jefferson Zeferino ◽  
Andreia Cristina Serrato

O campo de estudos em Teologia e Literatura está consolidado no contexto brasileiro. A proposta do grupo teopatodiceia visa situar este diálogo da teologia como pergunta pelo sentido de Deus na busca de sentido humana e oferta de uma racionalidade crítica a um sistema de crença tendo a literatura como interlocutora privilegiada, mas também outras formas de narrativas e expressões artísticas da condição humana. Nesse sentido, o elemento antropológico visa não somente o diálogo com a antropologia literária mas considera também, desde um projeto de arqueologia do saber teológico, a produção de subjetividades implicadas (pathos) nos saberes em diálogo e nos modelos epistemológicos que melhor favorecem a elaboração de uma teologia pública, plural e contrahegemônica a fim de discernir modos de se responsabilizar por uma agenda pública desde uma sensibilidade ética (diké) comum aos dilemas contemporâneos. A literatura ocupa um papel importante de heterologia no diálogo com a teologia. Como uma abordagem interdisciplinar, o projeto arqueológico se nutre dos percursos teóricos de autores como Antonio Manzatto, Paul Ricoeur, Michel Foucault, Michel de Certeau e David Tracy. Numa crítica à autorreferencialidade teológica, a via dialógica, interdisciplinar e intercultural da perspectiva teológica do grupo se aloca no conjunto das ciências humanas.


2020 ◽  
pp. 24-41
Author(s):  
Albena Yaneva

This chapter reviews several developments in the social sciences and the arts that date back to the 1990s and motivated this study of archives as practice. It refers to Jacques Derrida and Paul Ricoeur as key protagonists that led to the rethinking of the role of archiving as a tool of memory. It also details the emergence of the trend of “archival ethnography,” which witnessed the advent of the archival turn in anthropology. The chapter elaborates how archival scholarship took an empirical turn in the mid-1990s, coinciding with the “archive fever” in the arts and the “archival turn” in anthropology that opened venues for investigating architectural archiving. It explores the realm of architectural practice wherein the computer radically changed working dynamics and led to the practice's own archival turn in the mid-1990s.


2012 ◽  
Vol 3 (1) ◽  
pp. 67-85
Author(s):  
Gonçalo Marcelo

This paper aims to rationnally reconstruct a project of social philosophy in Paul Ricoeur. It argues that there is an intrinsic connection between hermeneutics and social philosophy, and that Ricoeurian hermeneutics is well suited to provide the interpretative background in which the emancipatory interest of social philosophy can successfuly unfold.


2020 ◽  
Vol 45 ◽  
pp. 16
Author(s):  
Conceição Leal da Costa ◽  
Maria Da Conceição Passeggi ◽  
Simone Maria da Rocha

Admitindo que a criança tem o direito assegurado de se expressar sobre questões que lhe dizem respeito, o objetivo deste artigo é discutir a importância de tomar em consideração a palavra de crianças com doenças crônicas, implicando escutar o que têm a dizer sobre as experiências vividas nas travessias entre a saúde e o adoecimento, a escola e o hospital. A pesquisa foi realizada com seis crianças hospitalizadas, recorrendo a uma situação de faz de conta. A base teórica fundamenta-se nas propostas de Jerome Bruner sobre a capacidade da criança em se tornar narradora, nos estudos de Paul Ricoeur sobre a atividade humana de se compreender ao dar sentido à experiência vivida e numa certa visão de aprender para o bem-estar (KICKBUSCH, 2012). As análises permitem discutir a agentividade da criança, sua capacidade para acolher o outro, a importância das classes hospitalares para o seu bem-estar e como se tornam “experts” no convívio com a doença nas transições peculiares de sua condição de criança no convívio com o adoecimento. 


Author(s):  
Norma Sueli De Araújo Menezes ◽  
Julia Morena Costa

Este ensaio objetiva apresentar uma análise da violência presente no livro “Amuleto” do escritor chileno Roberto Bolaño. O romance está contextualizado no início da década de 1970, momento de grandes tensões políticas e de significativa violência no México e do início da ditadura militar-empresarial chilena (1973-1990). Os regimes ditatoriais, embora em circunstâncias diferentes, foram (e são ainda) episódios marcantes que unem os países latino-americanos. Identificaremos as diversas formas de violência ocorridas na América Latina, especificamente, no Chile e no México durante o período mencionado, assim como, qual a relação entre a política e a literatura presentes na referida obra. Os atuais discursos políticos que circulam em nossa sociedade sinalizam que grande parte da população brasileira provavelmente ignora parte significativa da história, inclusive do Brasil, nas décadas de 1960/1970, ou seja, a memória produzida sobre este período não deu conta de fazer conhecer os horrores e as atrocidades cometidos durante os mais de 20 anos de governo militar no país. A partir da abordagem do lugar da poesia e dos poetas na década de 1970, a narradora de Amuleto versa sobre seu papel de defensora da poesia e da memória política do México e do Chile de meados do século XX, de forma indissociável. Com seu discurso circular, calcado na reiteração de eventos traumáticos que presenciou, em especial, à invasão à UNAM, o Massacre de Tlatelolco (1968) e o golpe militar chileno (1973). Neste último fato, relatado pelo personagem Arturo Belano, há um trabalho de escavação memorialística, tanto nas ocorrências históricas mencionadas, como dos intentos poéticos do distrito federal mexicano. Os jovens poetas narrados pela protagonista defendiam o livre trânsito entre vida e poesia, se opunham aos moldes acadêmicos vigentes encarnados na figura de Octavio Paz, como também do poder hegemônico. O movimento poético desses jovens latino-americanos da década de 1970 agrega as muitas inquietações dos seus integrantes. A paixão pela poesia é o princípio básico que dá unidade ao grupo que buscava em cada ato e em cada verso um novo modo de explicar o mundo através de uma poesia sem burocracias, sem espaços de poder e legitimações padronizadas. Este estudo contribui para a indispensabilidade de se manter vivos os horrores e traumas que aconteceram durante os regimes autoritários e as ditaduras militares na América Latina e suas reverberações, considerando, sobretudo, que a memória pode ser um potente instrumento utilizado na reconstrução da história. Serão utilizados textos teóricos e críticos de Paul Ricoeur (1996), Nascimento (2008), Seligmann-Silva (2003), Sarlo (2007) e Rojo (2012), Bolognese (2009), Villarreal (2011), entre outros.


2011 ◽  
Vol 27 (1) ◽  
pp. 347-368 ◽  
Author(s):  
Michel Fabre
Keyword(s):  
De Se ◽  

A expressão "fazer de sua vida uma obra" tornou-se um slogan que necessita ser questionado. Com efeito, se lembrarmos a distinção aristotélica entre ação e produção, práxis e poiese, não se trataria de uma confusão de categorias? Podemos conceber a vida como um modo de produção? Se for de fato uma produção artística, o que significa então pensar a vida sob uma modalidade estética? Não seríamos levados a explicitar as tensões que não deixam de se manifestar entre estética, ética e moral? Enfim, "fazer uma obra de sua vida" supõe antes de tudo desdobrá-la sob a forma de narrativa para poder avaliar o que nos conduz a explorar - na direção de Paul Ricoeur (1984; 1985) - os dilemas da escrita de si.


2021 ◽  
Vol 13 (33) ◽  
pp. e0210
Author(s):  
Cláudia Cristina da Silva Fontineles

O presente texto discute em que medida os meios de representação produzidos pelo e sobre o governo de Alberto Silva, em sua primeira gestão como governador do estado do Piauí (1971-1975), contribuíram para difundir a crença sobre este governo ser o principal responsável pela construção da autoestima piauiense, e por conseguinte, pela formação da identidade piauiense. O texto visa a discutir como esses discursos repercutiram na memória e na história da comunidade local a ponto de se irradiarem até entre os adversários políticos do referido administrador. Defendemos que esse projeto de construção de um ideal otimista não estava restrito ao Piauí, e que tampouco ocorreu de forma isolada e inusitada, como fruto da decisão de um só homem, pois estava articulado à configuração histórica vigente no país. Para tanto, recorremos aos conceitos de identidade – a partir das contribuições formuladas por Stuart Hall e por Zygmunt Bauman; memória – a partir dos estudos realizados por Paul Ricœur e por Michel de Certeau –; e de representação, nas discussões de Roger Chartier. A partir da crítica documental e da metodologia da História Oral, analisamos os documentos oficiais, matérias jornalísticas publicadas em veículos midiáticos impressos de circulação nacional e em televisivos locais, que abordaram esse tema, durante e após o término de seu governo, além de relatos do próprio governador, de seus aliados e de seus adversários políticos, visando a entender como essas construções discursivas influenciaram a história e a memória piauiense. Palavras-chave: História; política; identidade; memória.


2010 ◽  
Vol 14 (2) ◽  
pp. 291-299
Author(s):  
Cláudia Alquati Bisol ◽  
Eduardo Scarantti Bremm ◽  
Carla Beatris Valentini
Keyword(s):  
De Se ◽  

A aprendizagem e a apropriação significativa da língua escrita por surdos podem ser promovidas por meio da utilização de tecnologias de comunicação amplamente difundidas. Este trabalho apresenta a análise dos recursos narrativos utilizados por três adolescentes surdos fluentes em LIBRAS para organizar sua experiência vivida através de produções escritas em weblogs (utilizando a língua portuguesa, sua segunda língua). Trata-se de um estudo qualitativo, do tipo exploratório. Propôs-se uma análise hermenêutica das narrativas baseada em Paul Ricoeur. Apesar dos erros na escrita, as produções puderam ser consideradas como narrativas, pois exprimem tentativas de tecer histórias. Porém, nem sempre a transmissão do sentido foi bem sucedida, indicando dificuldades na aprendizagem da língua escrita e na compreensão de que esta pode ser um meio de comunicação com o outro. Ressalta-se a necessidade de se criar estratégias que reforcem a noção da língua escrita como meio de produção de sentido.


2017 ◽  
Vol 17 (70) ◽  
pp. 93-105
Author(s):  
Nelson Camatta Moreira ◽  
Rodrigo Francisco de Paula

As narrativas sobre a história do constitucionalismo brasileiro ainda predominantes na dogmática constitucional são marcadas por um ressentimento quanto ao passado constitucional, no sentido de que as experiências brasileiras representam a história de um fracasso, ou de uma tragédia, do processo de constitucionalização no Brasil. Assim, pretende-se, neste artigo, a formulação de uma crítica a essa perspectiva da dogmática constitucional, apontando-se, com Hannah Arendt, os pressupostos que justificam a história de um constitucionalismo, com o esforço de recordação do ato de fundação, por meio de narrativas que procuram encontrar uma linha de continuidade, entrecortada por avanços e retrocessos, entre o ato de fundação e os atos seguintes como novos começos que o rememoram. Depois, com Paul Ricœur, aponta-se que o ressentimento encontrado nas narrativas sobre a história do constitucionalismo brasileiro impede a memória do passado constitucional, resultando na impossibilidade de se fazer uma história do constitucionalismo brasileiro, o que mantém a eternidade e a permanência do fracasso, ou da tragédia, da Constituição e do processo de constitucionalização no Brasil. 


2010 ◽  
Vol 1 (1) ◽  
pp. 87-98 ◽  
Author(s):  
Anna Borisenkova

The analysis of events has been a central issue for social sciences for a long time. The problem of an event's definition and distinction is still at stake in sociological debates. The purpose of this paper is to demonstrate the contribution of Paul Ricoeur's narrative theory to social events studies. First, this is done through the explication of the concept in the framework of narrative approach. Secondly, the paper highlights the narrative's capacity of 'refiguring' the social by re-describing social events, subordinating their succession to the logic of story-telling and transforming temporal characteristics as well. Apart from some insights, interpretative explanations and illustrations the paper provides critical arguments concerning the limitations of Paul Ricoeur's narrative approach with respect to sociological event-analysis.     L'analyse des événements a toujours été une question centrale pour l'histoire et les sciences sociales. Le problème de la définition et de la distinction des événements est encore en jeu dans les débats sociologiques contemporains. L'objectif de cet article est de s'attarder sur la contribution de la théorie de Paul Ricœur aux études des événements sociaux.  Après avoir montré les limites d'une conception impersonnelle de l'événement, l'auteur se penche sur la solution narrative proposée par Ricœur, à savoir la capacité du récit à “refigurer” du Social par la re-description des événements sociaux. Il s'agit de soumettre la logique de la succession temporelle à la logique de la narration. Tout en rendant justice à la valeur heuristique de telles analyses (à travers une série d'explicitations et d'illustrations), l'article pointe les limites de l'approche narrative de Paul Ricœur au regard des analyses sociologique des événements.  


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