scholarly journals Euclides da Cunha, Os Sertões e a invenção de um Brasil profundo

2002 ◽  
Vol 22 (44) ◽  
pp. 511-537 ◽  
Author(s):  
Ricardo de Oliveira
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Há um século nascia Os Sertões, verdadeiro monumento da cultura literária brasileira. Indissociável à própria idéia de Brasil, o livro foi considerado, ao longo desse período, como obra essencialmente nacional, a desvelar um Brasil profundo e autêntico. No entanto, poucas vezes se questionaram as conflituosas relações entre os conceitos de sertão e nação existentes no pensamento de Euclides da Cunha. Neste sentido, propomo-nos aqui a discutir esse problema, tomando como ponto de referência boa parte do corpus textual euclidiano. Procuramos compreender como o escritor, ao mesmo tempo em que constrói o mito da brasilidade sertaneja, vivencia-o de forma singularmente dramática.

1996 ◽  
Vol 10 (26) ◽  
pp. 275-291 ◽  
Author(s):  
Roberto Ventura
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A revisão da República é central na obra de Euclides da Cunha, presente em seus artigos de jornal e na maior parte de seus livros. Analisou o regime republicano não só em Os sertões (1902), em que tratou da guerra de Canudos, como em Contrastes e confrontos (1907) e em Á margem da história (1909). Foi testemunha e intérprete dos rumos do novo regime, que ajudara a fundar com artigos de propaganda política no jornal A Província de S. Paulo.


2014 ◽  
Vol 26 (2) ◽  
pp. 253-260
Author(s):  
Edilane Ferreira da Silva ◽  
Érika Maria Asevedo Costa ◽  
Geraldo Jorge Barbosa de Moura
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Em 1902, o jornalista Euclides da Cunha publicou a obra Os Sertões que, além de iniciar o Pré-Modernismo brasileiro, colocou em evidência o sertão baiano, a partir da retratação da Guerra de Canudos. Este trabalho volta-se ao capítulo “A Terra” do livro euclidiano, com o objetivo de analisar, à luz do método de análise do discurso e da perspectiva ecocrítica - que concerne às imbricações entre a literatura e a ecologia -, a visão que o autor traça entre os sertanejos e o sertão, bem como o seu próprio sentimento com relação a esse espaço, tendo em vista os conceitos de topofobia – aversão ao ambiente físico - e topofilia – familiaridade ou apego, propostos pelo geógrafo chinês Yi-Fu Tuan e referentes à geografia humanista. Assim, os discursos presentes na narrativa demonstram a predominância do sentimento de aversão e horror à Caatinga no que diz respeito à subjetividade do escritor e o oikos referenciado por ele.


2019 ◽  
Vol 20 (1) ◽  
pp. 36-52
Author(s):  
Carlos Henrique Armani
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O presente artigo pretende mostrar uma investigação sobre a contribuição que a virada ontológica na antropologia contemporânea pode proporcionar para a história intelectual. Trata-se de pensá-la como uma resposta à virada linguística ao se evocar o primado ontológico conferido aos existentes, incluindo não humanos, o que reforça seu caráter materialista, por vezes antinarrativista e antitextualista. O artigo divide-se em três partes: a primeira apresenta algumas características da história intelectual no interior da virada linguística e para além dela; a segunda apresenta algumas ideias da virada ontológica na antropologia, consubstanciadas na antropologia simétrica, no perspectivismo ameríndio e na antropologia da natureza; por fim, lança mão de um exemplo empírico da história intelectual no Brasil que pode permitir uma leitura da obra como presença de duas ontologias: a naturalista e a animista. Trata-se da obra Os sertões, de Euclides da Cunha.  


Anos 90 ◽  
2018 ◽  
Vol 25 (47) ◽  
Author(s):  
Eduardo Wright Cardoso
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Publicada em 1902, a obra Os sertões, de Euclides da Cunha, tornou-se um clássico da reflexão e interpretação da realidade brasileira e, por extensão, ensejou o desenvolvimento de uma extensa fortuna crítica e analítica. O objetivo desse artigo é sugerir, pois, uma chave de leitura adicional que consiste em refletir sobre a produção euclidiana a partir do recurso narrativo da cor local. Embora amiúde associada à questão da construção da nacionalidade, o mecanismo da cor local dispõe igualmente de outras implicações e efeitos textuais que dizem respeito à dimensão imagética da narrativa. A partir dos critérios da nacionalidade e da visibilidade textual, procura-se investigar não somente a produção de Euclides, mas também parte de sua fortuna crítica ao longo do século XX. Como hipótese, então, sugere-se que a cor local é parte constitutiva do campo discursivo que compreende não somente a escrita euclidiana, mas também é perceptível nas avaliações de seus comentadores. Por sua vez, a presença do critério da cor local permite sugerir a importância do investimento imagético na prosa do autor e identificar um topos específico na fortuna crítica relativa à produção euclidiana.


2010 ◽  
Vol 39 ◽  
Author(s):  
Marilene Weinhardt

Euclides da Cunha imortalizou o episódio de Canudos emsua magistral obra Os Sertões, publicada em 1902. Mas os acontecimentos ocorridos no interior da Bahia em 1896-97, Já tinham merecido representação literária. O monarquista Afonso Arinos percebera o potencial dramático dos fatos e. ainda em fins de 1897, publica, em folhetins diários do Comércio de São Paulo, a "novela sertaneja" Os Jagunços, que aparece em livro no ano seguinte. O presente estudo busca apreender a dimensão histórica e estética de tal texto.


2019 ◽  
Vol 16 (2) ◽  
pp. 57-74
Author(s):  
José Wellington Souza
Keyword(s):  

Pretendo analisar os usos de tipos humanos na formação de termos, como “raça nacional”, cristalizados em dois tipos literários presentes na literatura nacional, pensados como tipos humanos raciais muito caros ao imaginário do pensamento social. Para isso, tomo o Sertanejo de Euclides da Cunha e o Jeca Tatu de Monteiro Lobato. É notória a contribuição dos termos literários e biológicos elencados por Euclides, em Os Sertões, sobre a constituição da primeira fase da obra de Lobato, especialmente em Urupês e Cidades Mortas, na sua figura do caipira, ambos concorrentes a modelo de homem brasileiro.


2013 ◽  
Vol 10 (15) ◽  
Author(s):  
MARCOS EDILSON DE ARAÚJO CLEMENTE
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Terra Ignota. A expressão clássica de Euclides da Cunha remete para a configuração sócio- econômica e cultural da região Nordeste do Brasil, em especial de sua zona sertaneja. Na primeira metade do século XX, os sertões foram objeto de intensos debates acerca de sua natureza, de sua gente, de seus costumes, de sua religiosidade. Sertão ”arcaico”, ”região doente”, conforme fora caracterizado e classificado segundo as teorias deterministas em voga. Este trabalho objetiva analisar aspectos do debate relacionado ao cangaço do ciclo lampiônico.  Pressupomos que, á  medida que se discutia publicamente as causas do cangaço, elaborava-se, ao mesmo tempo, um conjunto de representações para o sertão, para os sertanejos e para os nordestinos.


2015 ◽  
Vol 35 (69) ◽  
pp. 301-318
Author(s):  
Valter Gomes Santos de Oliveira
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O artigo aborda as autoimagens urbanas construídas pela pequena intelectualidade sertaneja na Bahia do início do século XX. Por intermédio de textos de memorialistas e da imprensa de suas cidades, bem como do uso que fizeram da fotografia, investigo algumas dessas autoimagens do sertão como contraponto àquelas cristalizadas no imaginário nacional, principalmente após a repercussão de Os sertões, de Euclides da Cunha. O objetivo é identificar como as cidades aparecem nessas imagens e de que forma elas contribuíram para a construção de um espaço público urbano no sertão baiano identificado com a civilização, ideia a meu ver distante daquelas construídas pelos olhares externos.


2010 ◽  
Vol 5 (1) ◽  
pp. 85
Author(s):  
Jorge H. Wolff

O texto abaixo apresenta o ensaio de Florencia Garramuño, que introduz sua própria tradução espanhola de Vidas secas, de Graciliano Ramos, lançada em 2001, e procura contextualizá-lo brevemente no âmbito das trocas culturais entre Argentina e Brasil. Após esta apresentação segue a versão brasileira de "El regionalismo equívoco de Vidas secas", em que a autora propõe uma reavaliação das relações entre os conceitos de modernismo, regionalismo e realismo no âmbito da cultura brasileira da primeira metade do século XX. Diretora do Programa de Cultura Brasileira da Universidad de San Andrés, em Buenos Aires, e autora de Modernidades primitivas. Tango, samba e nação (Editora da UFMG, 2009) e La experiencia opaca (FCE, 2009), Florencia Garramuño traduziu, entre outros, Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa (com Gonzalo Aguilar), Em liberdade de Silviano Santiago, e coordenou a versão espanhola de Os sertões, de Euclides da Cunha para a editora Fondo de Cultura Económica.


2020 ◽  
Vol 29 (1) ◽  
pp. 199
Author(s):  
Ricardo Pedrosa Alves

Resumo: O artigo analisa de modo comparativo o romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, e o ensaio de interpretação social Os sertões, de Euclides da Cunha. Através da comparação das estratégias compositivas e narrativas presentes nos dois livros, como o “narrador sincero” de Os sertões e o uso do indireto livre em Vidas secas, o artigo mostra aproximações e diferenças entre os dois clássicos brasileiros. Também são comparadas as perspectivas intelectuais que orientam o romance e o ensaio, no cientificismo de Euclides da Cunha e na perspectiva sociologicamente crítica adotada por Graciliano Ramos. O artigo ressalta as diferenças também na perspectiva social dos autores, através da análise da representação da violência institucional do Estado nas duas obras. As análises foram realizadas com o apoio de discussões presentes em Willi Bolle, Luís Bueno, Antonio Candido, Miriam Gárate e Luiz Costa Lima, entre outros.Palavras-chave: Vidas secas; Os sertões; ensaio de interpretação social; narrador sincero; indireto livre.Abstract: The article compares Graciliano Ramos’ novel Vidas secas and Euclides da Cunha’s essay on social interpretation Os sertões. By comparing the compositional strategies and the narratives present in both books, such as “the sincere narrator” in Os sertões and the use of free indirect speech in Vidas secas, the article shows approximations and differences between the two Brazilian classic works. The intellectual perspectives that guide the novel and the essay are also compared, analysing Euclides da Cunha’s scientificism and in the sociologically critical perspective adopted by Graciliano Ramos. The article also highlights the differences in the social perspective of the authors, analysing the representation of the institutional violence performed by the State in both works. The present analysis took as theoretical background the works by Willi Bolle, Luis Bueno, Antonio Candido, Miriam Gárate and Luiz Costa Lima.Keywords: Vidas secas; Os sertões; social interpretation essay; sincere narrator; free indirect speech.


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