A literatura científica amazônica, amplíssima, reflete bem a fisiografia amazônica: é surpreendente, preciosíssima, desconexa. Quem quer que se abalance a deletreá-la, ficará, ao cabo desse esforço, bem pouco além do limiar de um mundo maravilhoso. (Euclides da Cunha). O livro intitulado “Interdisciplinaridade em áreas protegidas e suas proximidades: usos e sustentabilidade” nos convida a uma reflexão necessária e importante neste momento singular da história da conservação ambiental brasileira e amazônica. Acaba-se de realizar a tão esperada 26ª Conferência das Partes (COP26), também denominada Conferência do Clima, organizada desde 1995 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com objetivo de combater às mudanças climáticas em uma perspectiva de colaboração entre os países preocupados com a temática. Objetivamente, a COP26 pretende zerar as emissões de carbono até 2050 e, consequentemente, reprimir o aumento da temperatura da terra e mantê-la inferior a 1,5ºC. Neste conjunto, o esforço intelectual de professores, cientistas e profissionais que atuam na gestão, na pesquisa e na produção acadêmica sobre as áreas protegidas é condição mais do que louvável, é imprescindível. Também é digno de nota, que as questões ambientais não cabem em uma perspectiva disciplinar, uma vez que envolve olhares e saberes múltiplos. Nesse sentido, a utilização da abordagem interdisciplinar envolve a busca de parcerias, a confrontação de ideias, a percepção das experiências e o seu cotejamento por semelhanças ou diferenças. Assim, a interdisciplinaridade toma força motriz para desvendar problemáticas nas Ciências Ambientais, fazendo relembrar a organização de textos realizadas por Arlindo Philippi Junior (2000), bem como o “Fio que une as pedras”, outra organização de textos conduzidos por Aliana Fernandes (2002). Não cabem dúvidas de que se debruçar sobre um tema tão instigante envolve esforços que não se esgotam em si mesmo, muito pelo contrário, abrem possibilidades novas e que devem ser “perseguidas” – aqui relembrando um termo muito utilizado por Euclides da Cunha (1866-1909) – permanentemente. Por falar em Euclides da Cunha e em Paraíso Perdido, a Amazônia, infelizmente, há muito deixou de sê-lo e o processo do desmatamento é um objetivo perseguido por diversas organizações com intuito de interrompê-lo. A inserção da Amazônia ao capital internacional, via as atividades de globalização dos mercados, transformou o território em produtor de commodities trazendo consequências nefastas para a Amazônia e para os amazônidas. Tal inserção, como se observará nos textos deste estimulante livro, desvenda a fixação da globalização corroendo e subtraindo os recursos naturais em todo o território brasileiro. Nesta perspectiva, os usos e a sustentabilidade dos recursos naturais prescindem de um novo olhar sobre o valor da floresta em pé e a prospecção de alternativas que possam levar à resoluções de conflitos entre os povos originários e o advento de novas práticas de reprodução social. Tais práticas dizem respeito às possibilidades de inclusão em atividades menos poluidoras como, por exemplo, o Turismo. Nessa arena de reflexão, o Turismo tem demonstrado ser um campo fértil para estudos interdisciplinares como demonstram os textos a seguir, que unem disciplinas diversas como a Biologia, o Direito e a Ciência Ambiental. Os escritos aqui reunidos e as análises propostas contribuem para a democratização dos debates acerca do processo de criação das áreas protegidas brasileiras e as orientações para a determinação dos seus tipos de manejo. É um debate de amplo espectro, pois propõe um olhar aguçado às possibilidades de administração e gestão participativas, bem como convidam a pensar às inovações técnicas e comunicacionais. Não cabem dúvidas de que a coletânea, projetada para o formato de e-book, lançará questões pertinentes às crises climáticas que atingem o planeta de norte a sul. Por fim, parabeniza-se aos colegas envolvidos no desafio de publicizar e oportunizar a democratização dos conhecimentos adquiridos na produção acadêmica do Grupo de Pesquisa “Áreas Protegidas da Amazônia: usos e sustentabilidade”.