scholarly journals O NASCIMENTO DO DIREITO À ALTERIDADE NA CIDADE

Author(s):  
Émilien Vilas Boas Reis ◽  
Bruno Torquato de Oliveira Naves

Com a Reforma Protestante e as grandes navegações, a consideração com o outro e o diferente passa por alterações, especialmente, frente aos considerados infiéis e aos nativos do Novo Mundo. Por outro lado, no século XVI, a Península Ibérica vivia a Era de Ouro, com o renascimento da Escolástica e o florescimento de importantes universidades jurídicas, com acentuado desenvolvimento da Ciência do Direito. O dominicano espanhol Francisco de Vitória é um expoente desses movimentos filosófico e jurídico. Este artigo objetiva compreender a contribuição de Vitória para o desenvolvimento da relação com os índios e, por consequência, para a reelaboração da alteridade. Por meio de pesquisa bibliográfica e método qualitativo, buscaram-se nos escritos de Vitória e nos contextos histórico, filosófico, teológico e jurídico, os elementos necessários para a reconstrução de sua concepção acerca do direito natural e para a verificação da possibilidade de se reconhecer, em relação aos índios, a racionalidade e o direito de domínio sobre suas terras. O projeto de construção dos direitos humanos está presente em Vitória, na defesa da universalidade da razão para todos os seres humanos e no reconhecimento do direito dos índios a não serem expropriados. Com isso, Vitória amplia a noção ética de alteridade vigente à época.

Author(s):  
Jorge Alves Santana
Keyword(s):  
De Se ◽  

Contextos diaspóricos funcionam como dispositivos produtores de subjetivações múltiplas e heterogêneas. No caso das famílias marranas da Península Ibérica, tais quadros psicossociais, que também perfazem a diáspora, são alegorizados por narrativas literárias, como ocorre em O Alma-Grande, de Miguel Torga. Nesse quadro ficcional, com lastros factuais, refletiremos sobre o campo existencial de um abafador e as negociações multiculturais e intergeracionais feitas entre tal personagem e certo núcleo familiar, no qual a infância é colocada em perspectiva central. Essas negociações ocorrem na tentativa de se preservar certa rostidade e, ao mesmo tempo, deslocar tradições para a dimensão das identidades transversais.  


Author(s):  
Rômulo Bulgarelli Labronici

O presente trabalho busca discutir, a partir de uma experiência etnográfica realizada durante a travessia do “Caminho de Compostela”, situado na região da Galícia/ Espanha, o processo de caminhar como uma atividade que engloba uma tríplice perspectiva de sentidos: turísticos, religiosos e esportivos, que se reconfiguram continuamente. Aqui, os conceitos de peregrinação religiosa, turismo transnacional e do esporte de aventura e desafio se apresentam como fontes analíticas para o entendimento de experienciação na qual os indivíduos realizam em suas jornadas. Além, disso, objetiva-se apreender o caminho como um percurso que se estrutura a partir de uma “malha” circuncêntrica que cobre grande parte da península Ibérica, onde o processo de andar o caminho vai permitir a ultrapassagem de fronteiras liminares (TURNER, 2005, 2008). Tais fronteiras aqui são entendidas como a da busca pela aproximação com o sagrado, para o peregrino; da superação individual do corpo e mente, para o esportista; e da experiência habitual e do desconhecido, para o turista. A viagem pode ser interpretada como uma forma de ritual, na qual o viajante sai de sua rotina e tem uma experiência “extraordinária”, liminar e, após esse período, retorna ao seu mundo cotidiano de certa forma transformado. Se por um lado a noção de “turista” absorve no campo uma conotação negativa, relacionada à esfera do consumo, sendo sua figura apresentada como “superficial” ou “inautêntica”, por outro, a noção de “peregrino” é exacerbada devido não só ao caráter de ruptura do cotidiano, mas, principalmente, à maneira “crítica” de se colocar, que é característica, na qual o despojamento material é condição para vivenciar a experiência. Por fim, trago como inspiração o conceito de “peregrinação” tal qual abordado por Ingold (2015): um processo de crescimento dentro de um campo de relacionamentos, no qual o Caminho de Santiago mimetiza o movimento da vida que cada indivíduo realiza com seus próprios pés.


2006 ◽  
Vol 26 (36) ◽  
pp. 143
Author(s):  
Solange Ribeiro de Oliveira

<p>A especial situação da Galiza na Península Ibérica é, talvez, a de maior  complexidade das geradas nos conflitos identitários que encerra o Reino  de Espanha. Dentre os índices susceptíveis de devirem definidores de  uma “identidade galega”, é a língua o que tem adquirido a posição  hegemónica, ao tempo que se configurava como o território privilegiado da confrontação de diferentes projetos de construção nacional. A combinação  deste fator constituinte com outros de cariz económico e político tem  feito possível a categorização da Galiza como uma colónia endógena  na Europa Ocidental. Como um enclave em desigual relação dialética:  enclave colonial espanhol em território (material e simbólico) lusófono.  Enclave lusófono sobrevivendo em território (administrativo) espanhol.  Esta caraterização é dependente do privilégio concedido nas categorias  políticas da Modernidade ao Estado-Nação. Desta perspetiva, a Galiza  seria quer o “segmento amputado/ocupado” de uma nação, quer uma  nação “proibida” (“sem Estado nacional próprio”). Porém, na era do Império,  a condição “suspensa” da identidade galega é susceptível de se tornar  num dos aporéticos paradigmas próprios ao sujeito do início do novo  século: os galegos podem e não podem ser outra coisa. Esta incompletude  sua é, assim, não apenas a condição mesma da sua estrangeirice em  relação aos dois Estados-Nação da Península Ibérica, mas também, e  nomeadamente, ao artefato moderno que o Estado-Nação é.</p> <p>The special situation of Galiza in the Iberian Peninsula is, perhaps, the  most complex identitarian conflict of those locked up by the Spanish  Kingdom. Amongst all the potential indicators of a “Galizan identity”,  language has acquired a hegemonic position at the same time that it has  become the privileged territory for the confrontation of different nationbuilding  projects. The combination of this constituent factor with others  of economic and political nature made possible to categorize Galiza as an  internal colony in Western Europe. As an enclave in an unequal dialectical  relationship: a Spanish colonial enclave in (material and symbolic) Lusophone  territory. A Lusophone enclave surviving in (administratively) Spanish territory.  This characterization depends upon the privilege given to the Nation-State  above all political categories of Modernity. From this perspective, Galiza  would be either a nation’s “amputated/occupied segment” or a “forbidden”  nation (without “its own Nation-State”). However, in Empire, the  “suspended” condition of Galizan identity may become one of the aporetic  paradigms of subjectivity at the beginning of the new century: Galizans can  and cannot be (an)other thing. Their incompleteness is, thus, not only the  very condition of their foreignness to the two Nation-States of the Iberian  Peninsula but, above all, to the modern artifact that the Nation-State is.</p>


2019 ◽  
Vol 46 ◽  
pp. 313 ◽  
Author(s):  
Víctor Lara Bermejo
Keyword(s):  
De Se ◽  
Siglo Xx ◽  

El pretérito imperfecto de subjuntivo ha acaparado numerosos estudios en español debido a la inserción de la forma indicativa –ra en el modo subjuntivo como sinónimo de –se. La mayoría de estos trabajos hacen un estudio diacrónico, centrándose en estadios de la lengua anteriores al siglo xix. En este artículo, pretendemos dar cuenta de la casuística dialectal del pretérito imperfecto de subjuntivo de mediados del siglo xx, desde un punto de vista iberromance. El análisis de los datos del Atlas lingüístico de la Península Ibérica y su comparación con atlas posteriores y corpus sociolingüísticos arrojará un poco más de luz sobre la realidad de dicho tiempo hace 100 años, ya que se advierte todavía un uso muy mayoritario de –se en el este peninsular, una sistematicidad en –ra en el español occidental y la introducción de –ra por –se en lenguas en las que no se había atestiguado aún dicha evolución.


2017 ◽  
Vol 5 (1) ◽  
pp. 67
Author(s):  
Alessandra F. Conde Da Silva ◽  
Silvia Helena Benchimol Barros
Keyword(s):  
De Se ◽  

O romance mostra a saga de Ana Júlia, judia polonesa, roubada em sua ingenuidade e forçada à prostituição na Amazônia. Ionathan busca na história da bisavó Ana, um documento que a ligasse à cultura judaica na esperança de se provar judeu. A prostituição a mantem distante da comunidade judaica sefardita, mas o bisneto, convicto de sua herança, com os relatos maternos e o Shadai herdado, procura sua teshuvá, e da bisavó, como por expiação. Acham-se ecos do apagamento e do hibridismo cultural vividos pelos judeus na Amazônia desde as primeiras imigrações. Fugidos da perseguição etno-religiosa na Península Ibérica do século XV, muitos erradicaram-se no Marrocos, imigrando para o Brasil. A memória de um passado lusitano ganhou fôlego e ardor fomentados pelo imaginário judeu sefardita. A pertença ao judaísmo buscada por Ionathan reflete o que tantos antepassados procuram preservar. São a esses ecos da judeidade na Amazônia, quer como preservação, quer como retorno cultural que este artigo busca dar conta, a partir da história de Ana e da trajetória de perquirições de Ionathan. Para tal fim, contamos com os apontamentos teórico-históricos de Reginaldo Jonas Heller, Henrique Veltman, Samuel Benchimol, Moacyr Scliar, Paul Johnson entre outros.


Relectiones ◽  
2018 ◽  
pp. 115-134
Author(s):  
Francisco Castilla Urbano

La apuesta por la reforma de la Iglesia, de sus jerarquías y órdenes es una tarea que en la península Ibérica va ganando adeptos desde el siglo XV, y a la que se entregan con entusiasmo tanto los Reyes Católicos como muchos religiosos. Dentro de estos, el cardenal Cisneros y Francisco de Vitoria representan dos formas de vivir y apoyar esa reforma y de difundir sus valores: más práctica, centrada en el ámbito hispano y apoyada en recursos políticos la del franciscano, y más teórica, universalista y fundada en principios morales la del dominico.


PROLÍNGUA ◽  
2018 ◽  
Vol 13 (1) ◽  
Author(s):  
Adão Lopes Fernandes ◽  
Denise Dias de Carvalho Sousa

Este artigo traz os resultados de uma pesquisa realizada na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no Mestrado Profissional em Educação e Diversidade (MPED), no que diz respeito à presença da tradição cultural do terno de reis, de figuras e espadas nas práticas educativas dos/as professores/as do Colégio Dom Antônio de Mendonça, em Genipapo, Saúde - BA. O estudo teve como objetivo rememorar o processo histórico da manifestação do reisado, especialmente, o terno de reis de figuras e espadas do povoado de Genipapo, enfatizando sua importância histórica, social e identitária para a cultura e a história local, bem como sua inserção dentro do contexto escolar da comunidade. Para tanto, retomamos os estudos de Morais Filho (1946), Querino (1914), Passarelli (2006) e Silva (2010). Quanto à metodologia, trata-se de uma abordagem qualitativa, pautada nos pressupostos teóricos da pesquisação. Nos instrumentos de obtenção e construção dos dados, realizamos uma revisão sistemática e de literatura, seguida de entrevistas semiestruturadas do tipo narrativa em oficinas pedagógico-culturais com sete professores/as. Esperamos com este estudo possibilitar um novo olhar acerca do percurso histórico do reisado, direcionando-o para as práticas educativas, transversalmente, a fim de responder a lacunas historicamente excludentes em relação à cultura popular e à história local, tendo em vista contribuir com o planejamento docente, desmitificando a visão urbanocêntrica de se pensar o currículo educacional que, atualmente, contribui para a descaracterização das tradições culturais locais, no sentido do distanciamento das suas peculiaridades, vivências, contexto histórico e sociocultural.


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