scholarly journals Um diálogo possível entre arte e ciência: a literatura nas aulas de metodologia de pesquisa

2010 ◽  
Vol 8 (1) ◽  
pp. 90
Author(s):  
Graziela Giusti Pachane

O objetivo do presente trabalho é oferecer uma introdução às reflexões sobre verdade e ciência a partir da abordagem de textos literários, promovendo uma interlocução entre arte e ciência, entre literatura e metodologia da pesquisa (em especial, em educação). Inspirado por uma poesia de Drummond, um conto de Machado de Assis e um romance contemporâneo, de autoria de Lia Neiva, o texto aponta a literatura como forma de se abordarem temas complexos das ciências, como a noção de verdade e realidade, com estudantes de graduação. Introduz, ainda que de modo breve, uma interlocução com produções artísticas variadas – desde imagens com ilusões de ótica até filmes e seriados televisivos – no intuito de tornar as experiências em metodologia de pesquisa mais dinâmicas, mais atraentes e esclarecedoras. Ao final do texto, somos levados a uma reflexão acerca das possibilidades e dos limites da leitura da realidade propiciada por nossas experiências científicas e literárias, bem como de suas interpretações, realizadas/escolhidas segundo nossos caprichos, nossas miopias e nossas ilusões, numa referência direta ao poema “A porta da verdade” de Carlos Drummond de Andrade. 

2016 ◽  
Vol 9 (01) ◽  
pp. 151-166
Author(s):  
Cristiane Emanuela da Silva Barbosa

Este artigo tem por finalidade apresentar alguns aspectos do movimento modernista que fazem parte da poesia de Carlos Drummond de Andrade. Sua poesia é autorreflexiva. O uso da metalinguagem é um ato reflexivo da própria ação de criação poética que atingiu uma dimensão inimaginável na poética moderna e contemporânea. O culto metapoético drummondiano traz a vistas não somente a autorreflexão, mas também a justificação da autonomia artística no momento da produção poética, para transcender os limiares da literatura conquistando a arte poética. Todas as obras de Carlos Drummond de Andrade representam uma leitura e releitura do fazer poético no trato com a linguagem. Assim, em alguns poemas brinca, joga com as palavras. Ele as seduz e é seduzido por elas. Com o poder da palavra dá anticonselhos, pois conselhos não se dá, é algo chato de se ouvir. O poeta que inicia seus trabalhos com a madurez de Alguma Poesia liberta-se em A Rosa Do Povo para expor sem rodeios os anticonselhos no poema “Procura da poesia”. Para trabalhar a poética drummondiana, tomaremos como principais fontes teóricas Alfredo Bosi, Antonio Cândido e Octavio Paz.


2016 ◽  
Vol 38 (2) ◽  
pp. 181
Author(s):  
Maria Do Carmo Brazil ◽  
Luciana Figueiredo
Keyword(s):  

Com base em produções historiográficas e literárias dos séculos 19 e 20, refletiremos acerca da criança afro-brasileira, abarcando sua trajetória, sua inserção no universo cultural europeizado, suas vivências, seus brinquedos e brincadeiras. Nosso primeiro passo foi perscrutar o cotidiano social da criança oitocentista por meio da literatura. Nosso propósito foi, sobretudo, refletir sobre a infância da criança negra durante o passado de escravidão, considerando os funestos desdobramentos desta instituição no presente. Das discussões envolvendo as raízes africanas e as heranças do escravismo, depreende-se a necessidade de se refletir sobre a história dos afro-brasileiros, com destaque para o papel social de meninos e meninas em condição de cativeiro. Os escritos oitocentistas, e mesmo do século 20, explicitam que apenas nos primeiros anos de vida esses atores sociais viviam como se fossem livres; a partir dos seis ou sete anos, eram introduzidos na lógica do sistema escravista, ocupando tarefas e ofícios especializados ou semi-especializados. Nessa aproximação com o tema, chegamos à premissa inolvidável de que parte expressiva das práticas socioculturais afro-infantis pode ser encontrada nos discursos historiográficos e literários de Joaquim Manoel de Macedo, Machado de Assis, José Lins do Rego e Gilberto Freyre. 


Author(s):  
Juliana Pereira Andrade

O poeta Carlos Drummond de Andrade, nos inúmeros poemas que escreveu, abordou diversas temáticas diferentes. Uma dessas temáticas é a da "família" que tem bastante relevância dentro de sua obra devido a um teor autobiográfico. Em uma das antologias do poeta, que foi publicada em 1962, há uma seção dedicada a esse tema familiar, contando com um total de dez poemas. A relevância de se ter um elemento que certa forma é biográfico do autor, principalmente no que tange à questão familiar, está centrado na possibilidade de fazer uma análise psicanalítica, para além daquilo que está evidente do texto. Baseando-se nas teorias psicanalistas de Lacan e Freud, a partir da perspectiva de Helio Pellegrino, esse artigo pretende explorar um dos poemas dessa antologia, intitulado “A mesa”. O objetivo é analisar as relações entre pai, mãe e filho presentes no mesmo a partir dos conceitos psicanalíticos.


2018 ◽  
Vol 8 (1) ◽  
pp. 6
Author(s):  
Mirella Márcia Longo Vieira Lima

Este artigo analisa o filme Jogo de Cena, dirigido por Eduardo Coutinho, ao passo em que este dialoga com obras literárias, como de Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis. Analisamos como ocorre o processo de desvelamento e exposição para várias mulheres, sob uma perspectiva crítica capaz de perceber como Jogo de Cena reedita, em nova versão, o anseio de conhecimento e representação da realidade social do país, uma das marcas do diretor. Resistentes, mas sem idealismos, boa parte das experiências femininas relatadas perpassam dor e melancolia, e em grande medida reverberam lacunas deixadas pelo Estado brasileiro.


Mnemosine ◽  
2021 ◽  
Vol 17 (1) ◽  
Author(s):  
Danichi Hausen Mizoguchi
Keyword(s):  

No dia 25 de abril de 2020, meu filho nasceu. E se é evidente que há emoção e júbilo com a chegada de um novo rebento, os projetos e os sonhos para uma nova vida podem rapidamente virar pesadelos desesperados cujo cenário é o Brasil em que crescerá alguém nascido neste inesquecível, estranho e óbvio ano. Se estivéssemos apenas diante de uma fatalidade pandêmica, este já seria um momento suficientemente difícil para o país. Todavia, do centro mais importante do poder federal às relações cotidianas, a tristeza, a raiva, o ódio e o medo parecem ser afetos majoritários dos quais não escaparemos tão cedo.Diante da cilada que o Brasil criou para si mesmo, o que inevitavelmente aparece em nosso horizonte é um país fraturado e bélico. É difícil acreditar que possamos deixar às próximas gerações um país mais alegre, mais fraterno, mais pujante e mais justo – um país mais interessado em enfrentar e mais apto a reparar as chagas que o constituem e estruturam há mais de quinhentos anos. Nesta conjuntura catastrófica, a famosa frase de Machado de Assis nas Memórias póstumas de Brás Cubas – “não tive filhos, não transmiti o legado de nossa miséria” – é um conselho de prudência quase incontornável: a insistência na vida corre o risco de se tornar apenas e tão somente um gesto narcísico absurdo e irresponsável de manutenção do próprio código genético, cuja culpa e arrependimento talvez jamais possam ser expiados.[Continua...]


2005 ◽  
Vol 25 (50) ◽  
pp. 241-258 ◽  
Author(s):  
Luiz Roncari
Keyword(s):  

O ensaio se divide praticamente em duas partes. Na primeira, ele trata da formação de Machado de Assis como escritor, o seu modo muito próprio de se relacionar com o leitor e os controles do Estado Imperial da segunda metade do século XIX. Na última, ele analisa o conto "Capítulo dos chapéus", no qual Machado procura mostrar como, depois de cem anos, ainda continuam estranhos os valores da Revolução Francesa na vida social brasileira.


2016 ◽  
Vol 1 (2) ◽  
Author(s):  
Marcelo Diego

I this essay, I discuss the place of Machado de Assis within the Brazilian literary system by comparing and contrasting his work with that of Carlos Drummond de Andrade. In order to do so, I outline four types of dialogue between the two authors. The first is the profession of faith—the poem in which Drummond reveals Machado to be his literary addressee. The second is poetico-existential identification; that is, a commonality between the two regarding worldview, which gains form through an aesthetic conception. The third is a "resumption of paradigms," or the reoccurrence of images, techniques, and themes from Machado's fiction within Drummond's poetics. The fourth, finally, is the "resumption of syntagmata," the reoccurrence of textual quotations of or direct allusion to Machado's fiction in Drummond's poetics.


2021 ◽  
Vol 41 (65) ◽  
pp. 217
Author(s):  
Ailton Pirouzi Júnior ◽  
Mariana Daminato

Resumo: O presente trabalho consiste em uma leitura da obra Dias úteis (2019), da escritora portuguesa Patrícia Portella, sob a perspectiva das epígrafes e de uma particular didascália. A proposta é entender a construção narrativa e temática dos “contos” dessa “novela”, através dos paratextos que os antecedem. Com a utilização de autores predominantemente de língua portuguesa, Portella recorre a Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Érico Veríssimo e Adélia Prado (literatura brasileira) e completa seu repertório com Maria José – o heterônimo de Fernando Pessoa – e Herberto Helder (literatura portuguesa). Por meio de uma visão geral, percebe-se que as epígrafes de Dias úteis (2019) não fazem papel de “borda da obra”, como rotulado por Genette (2009). Tanto quanto as epígrafes, a didascália carrega um significado particular dentro do texto e, mais do que orientações de como ler a obra, ela apresenta uma perspectiva da autora a respeito de algumas ideias que serão exploradas ao longo da trama. Ademais, destaca-se o fato de a obra estar inserida no cenário da novíssima ficção portuguesa. Em suma, a ideia é compreender não só a funcionalidade das epígrafes e da didascália, mas também a maneira como esses paratextos são articulados em Dias úteis (2019), entrelaçando, assim, excertos citados, textos e enredos.Palavras-chave: epígrafes; didascália; paratextos; novíssima ficção portuguesa; Patrícia Portela. Abstract: The present work consists of a reading of the work Dias úteis (2019), by the Portuguese writer Patrícia Portella, from the perspective of the epigraphs and a particular didascalia. The proposal is to understand the narrative and the thematic construction of the “short stories” of this “novel”, through the paratexts that precede them. Using predominantly Portuguese language authors, Portella calls Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Érico Veríssimo and Adélia Prado (Brazilian literature) and completes his repertoire with Maria José – the heteronym of Fernando Pessoa – and Herberto Helder (Portuguese literature). Through an overview, it is clear that the epigraphs of Dias úteis (2019) do not play the role of “edge of the work”, as labeled by Genette (2009). As much as the epigraphs, the didascalia carries a particular meaning within the text and, more than guidelines on how to read the work, it presents the author’s perspective on some ideas that will be explored throughout the plot. Furthermore, the fact that the work is inserted in the scenario of the newest Portuguese fiction stands out. In short, the idea is to understand not only the functionality of the epigraphs and didascalia, but also the way in which these paratexts are articulated in Dias úteis (2019), thus interweaving quoted excerpts, texts and plots.Keywords: epigraphs; didascalia; paratexts; brand new Portuguese fiction; Patricia Portela.


2020 ◽  
Vol 33 (1) ◽  
pp. 227-244
Author(s):  
Edson Ferreira Martins
Keyword(s):  

No presente estudo, analiso a produção ficcional do escritor Machado de Assis relativa à década de 1870, quando o autor brasileiro, após ter-se dedicado à poesia e ao teatro, estreou no gênero romance, produzindo quatro obras no período: Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878). Focalizando o tema dos diálogos (Bakhtin, 2002 [1929]) que o autor estabelece em sua narrativa com as literaturas grega e romana produzidas na Antiguidade Clássica, objetivo demonstrar que, dentre os modelos destas matrizes que Machado versou continuadamente como autor-leitor, destaca-se o nome de Homero e os poemas épicos atribuídos a ele. Durante a análise das obras selecionadas, demonstro como a escolha das cenas homéricas imitadas, sobretudo da Ilíada, pelo futuro autor das Memórias Póstumas é importante para a construção de sua poética de revalorização da imitatio e da aemulatio que, aliada à sua visão aguda dos problemas sociais brasileiros, revoluciona a forma de se pensar o projeto de concepção de uma literatura nacional, em pleno contexto de ebulição do Romantismo, atravessando os limites desta escola e apontando saídas para a sua superação.


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