Este artigo busca, através de uma discussão sobre a dupla natureza discursiva da obra In cold blood (1965), de Truman Capote, apontar para duas leituras feitas do gênero ícone do jornalismo literário estadunidense: a primeira desvela os traços que fariam do gênero um legítimo “romance de não-ficção”, tal como sugeriu Capote; a outra sonega esta nomenclatura. Valemo-nos de uma análise da obra segundo as premissas da Reader-Response Criticism, avaliando as relações de texto, contexto e leitura, conforme advoga Richard Beach (1993), exame cujos traços salientam as nuances de caráter sócio-histórico e a estrutura dos elementos referenciados. Esses traços serão pensados de acordo com a atmosfera de produção da obra, relacionados, ainda, com os tipos de abordagem que alguns analistas elucidaram sobre o gênero. Nesse âmbito, buscamos problematizar, a partir da avaliação de duas leituras da obra, o desacordo em termos de gênero. Propomos um estudo metodologicamente pautado nas observações de Beach (1993), mas também nos serão de grande utilidade as leituras do romance feitas, primeiro, por Jesse Brady (2006), e, posteriormente, por Philip K. Thompkins (1968), Gerald Clarke (1989) e Ralph Voss (2011).