scholarly journals Maternidades negras como prática da liberdade

Opiniães ◽  
2021 ◽  
pp. 466-484
Author(s):  
Josinélia Chaves Moreira
Keyword(s):  

O presente ensaio objetiva apresentar como as escrevivências de Conceição Evaristo reconstroem o lugar das maternidades negras como prática de liberdade, por meio de uma ética de amor calcada na inquietação sobre políticas de dominação e opressões que atravessam as “avenidas identitárias” de muitas mulheres negras. Para análise do conto “Shirley Paixão”, presente no livro Insubmissas lágrimas de mulheres, de Conceição Evaristo, colho as abordagens teórico-metodológicas de bell hooks, Oyèrónkë Oyěwùmí, Davi Reis e Thiago Prado, Audre Lorde e Jorge Silva como fundamentais para recolocar a instituição “maternidade” enquanto construção libertária e identitária de muitas mulheres negras. Shirley Paixão e tantas outras personagens evaristianas nos ensinam o que é ser uma mãe negra, sobretudo, no processo de restituição de nossa humanidade, por meio de uma confraria de mulheres. Os silêncios são múltiplos, assim como as cicatrizes, mas a expressão como esse exercício de expor sua voz, seu ponto de vista acompanhado de corporeidades negras, de transformar o silêncio em linguagem e ação, que começa na narrativa em análise, arrebenta, sangra e pare mulheres insubmissas, as quais mesmo com lágrimas nos olhos, insistem, resistem e nos provam o quanto somos donas do poder feminino.

2019 ◽  
Vol 27 (1) ◽  
pp. 63-88
Author(s):  
Elsa Dorlin

Este texto, que serviu de introdução a uma coletânea de textos fundadores do feminismo negro estadunidense, faz um percurso historiográfico das diversas etapas desse movimento, as chamadas “ondas”, desde a primeira delas, surgida na década de 1850 e promovida pelos movimentos de abolição da escravatura nos Estados Unidos, passando pela segunda, representada pelas grandes correntes ativistas e teóricas da década de 1970, até a atual “terceira onda”, em que se faz um questionamento crítico da heteronormatividade ainda muito presente nas primeiras fases do feminismo que foram, essencialmente, feminismos brancos. A autora faz uma detalhada análise crítica da terminologia que, desde sempre, tem sido empregada para qualificar ou, antes, desqualificar a mulher negra na sociedade estadunidense, com a criação de pesados estereótipos a respeito da sexualidade supostamente exacerbada, não só do homem negro, mas principalmente da mulher negra. Elsa Dorlin passa em revista as importantes contribuições do coletivo Combahee e de autoras como Laura Alexandra Harris, Beverly Guy-Shefall, Patricia Hill Collins, Kimberly Springer, Michele Wallace, Barbara Smith, Audre Lorde, Hazel Carby, Angela Davis e bell hooks.


2021 ◽  
Vol 5 (1) ◽  
pp. 1132-1143
Author(s):  
Natália Kleinsorgen Bernardo Borges ◽  
Thais Domingos dos Santos Rodrigues

Este trabalho tem por objetivo relatar as observações, atividades, incômodos, inquietações e sugestões que surgiram ao longo das oficinas sobre gênero e a realidade da mulher na sociedade brasileira, realizadas em colégios públicos de Niterói, Magé e Rio Bonito, no estado do Rio de Janeiro, durante o mês de março de 2018. Além da introdução, no qual é reportado o caminho percorrido até as oficinas, durante a construção da Greve Internacional de Mulheres no 8 de Março de 2018, dividimos o artigo em dois momentos: o primeiro no qual apresentamos as oficinas criadas por nós, pontuando o objetivo de cada uma, o material necessário e a metodologia que utilizamos nas escolas. Todas as oficinas pedagógicas são de caráter experimental e continuam em análise e aperfeiçoamento. O segundo em que relatamos nossas experiências nas diversas salas de aulas que tivemos, contando algumas situações que vivemos junto aos mais de 400 jovens que entramos em contato ao longo mês. Por fim, conclui-se que, apesar das dificuldades criadas com fim de proibir o debate sobre gênero nas escolas, é possível, através da ação de alguns professores, subverter as políticas institucionais e construir uma educação engajada. Por Marielle Franco, por Dandara, por Angela Davis, por Audre Lorde, por bell hooks, e por Andrea Dworjin e por Gloria Anzaldúa: não vão nos calar!


2021 ◽  
Vol 23 (1) ◽  
pp. 153-173
Author(s):  
Bruna Moraes Battistelli ◽  
Luciana Rodrigues

Como escreve Scholastique Mukasonga em seu livro “A mulher de pés descalços”, precisamos ensinar aos nossos dedos dos pés um caminhar que não os machuque pelo percurso. Inspiradas por essa proposição, esse trabalho busca tecer diálogos com os ensinamentos de intelectuais como bell hooks, Audre Lorde, Gloria Anzaldúa e Lélia Gonzalez para pensarmos uma sala de aula e uma docência pautadas em uma ética feminista e antirracista. Assim, situadas desde o continente amefricano, objetivamos, a partir de nossas experiências e de uma inspiração cartográfica, discutir as relações entre o ser professora-pesquisadora-feminista na aposta de uma universidade que acolha, cuide e nos possibilite contar mais histórias. Para isso, lançamos mão de nossas próprias histórias que narram sobre como construímos uma voz para nós mesmas, como experienciamos a universidade e por quais caminhos chegamos no exercício da docência e da pesquisa em uma perspectiva feminista e antirracista. Por fim, como possibilidade de intervenção para docência que se assente sobre uma política do cuidado, narramos uma experiência em sala de aula, que acontece há pelo menos um ano, onde as/os alunas/os são convidadas/os a escrever cartas em uma disciplina. Nossa aposta é para que possamos seguir construindo o espaço da sala de aula também como espaço de cura, onde nossos corpos estejam em prol de políticas para o encantamento da vida.


Hypatia ◽  
2012 ◽  
Vol 27 (4) ◽  
pp. 828-846
Author(s):  
Valentine Moulard‐Leonard

Here, I offer a candid response to bell hooks's call for a testimony to the “movement beyond a mere ‘us and them’ discussion” that purportedly informs contemporary radical and feminist thought on difference. In alignment with a tradition that includes bell hooks, Audre Lorde, Gloria Anzaldúa, and Aurora Levins Morales, I offer a personal testimony to the ways in which I—a middle‐class, French, immigrant, continental‐philosophy‐bred incest survivor—envision both that movement and its limits. To establish these alliances means forming necessary (if only momentary and unlikely) communities. I call on the philosophy of Deleuze and Guattari to propose an account of the production of such communities that does not depend only on shared lived experience, but also on shared marginal spatiality (rhizomes), temporality (trauma), and “medicinal history” (nomadology). I suggest that on the one hand, Deleuze's philosophy of immanence may indeed find apt expression in the politics of integrity that hooks, Lorde, and Morales call for. On the other hand, a genuine politics of integrity may benefit from drawing on the philosophy of immanence, which alone offers alternatives to the traditional, oppositional models of difference informed by transcendence. Finally, I propose the concept of “immanent forgiveness” to capture the movement at issue.


2019 ◽  
pp. 263-286
Author(s):  
Luiz Manoel Da Silva Oliveira ◽  
Shirley De Souza Gomes Carreira
Keyword(s):  

O presente artigo tem por meta analisar o romance A hora da história (2014), de Thrity Umrigar, com base na tríade conceitual migrações-especularidade-sororidade, conforme esses elementos aparecem e influenciam a vida e a trajetória identitária das protagonistas Lakshmi e Maggie, com vistas a constatar a tomada de consciência por parte das protagonistas das diversas camadas, evidentes ou mais sutis, de exclusão, de preconceito, subalternização ou opressão a que os mecanismos da sociedade patriarcal oriental (indiana) e ocidental (estadunidense) as expõem. Como desdobramento desse processo, analisaremos as tensões e interações advindas das relações especulares entre as protagonistas que a narrativa vai tecendo para elas, assim como os efeitos da cooperação solidária e da amizade que a sororidade que se instalará nas suas vidas vai proporcionar. Por fim, a despeito dos percalços que os périplos identitários das protagonistas ocasionarão, constataremos a conquista de suas identidades mais empoderadas e desvinculadas da influência patriarcal. Nesse sentido, dentre os teóricos e críticos de que lançaremos mão, figuram Núbia Hanciau (2005), Stuart Hall (2003), Simon Harel (1992), Emílio Santoro (2014), Sandra Regina G. Almeida (2015), bell hooks (1997), Audre Lorde (1997) e Rehka Pande (2009).


2019 ◽  
Vol 27 (1) ◽  
pp. 89-114
Author(s):  
Mercedes Jabardo Velasco

Este artigo passa em revista o pensamento de diversas teóricas do feminismo negro, especialmente as estadunidenses, consideradas centrais nesta vertente do feminismo, como Sojourner Truth (1852), Angela Davis (2016), Audre Lorde (1984) e bell hooks (1981). Discute-se desde a origem da vertente, a partir do questionamento de Truth (1852) de “E eu não sou uma mulher?”, passando pelas suas bases conceituais com Collins (2000a), até as contribuições mais recentes do feminismo negro britânico e sua relação com o pós-colonialismo, com Carby (1982) e Pramar (1990). Evidencia-se, desse modo, a multiplicidade de ideias dentro do feminismo negro, demonstrando sua complexidade em diferentes contextos socioculturais.


2017 ◽  
Vol 4 (4) ◽  
pp. 111
Author(s):  
Tidita Abdurrahmani

The question of Self and memory is inextricably linked to the question of the representation and representability as well as to the uniqueness or iterability of the sense of the Self. Criticisms through the times suggest thinking of the sense of Self in terms of one's memory for it--not how faithfully you represent yourself, but rather how accurately you remember your past Self and how much you know about your present Self. Memory is the key element in determining the production of an autobiographical work, it is the author's memory and his sense of Self which determines how accurately he will transpose his life in front of us and correspondingly the one that decides whether autobiography will take the form of a memoir, a semi-fictional autobiography, or a completely fictionalized version of one's life. The relationship between Self and memory has initially been considered by John Locke in his "Essay Concerning Human Understanding"(1698). In his view, a person's identity comprises of whatever a person can remember from his or her past. Consequently, what the person does not remember is not part of his identity. Differing from the other critics, Locke believed that identity and selfhood have nothing to do with continuity of the body, they are rather an extension of memory. The paper delves into the postmodern autobiographical writings of three women-of -color including Audre Lorde, bell hooks and Rebecca Walker .The autobiographies in this study share the arrangement of events in the form of quilts made of accidentally stitched patches, the presentation of life as a fictional narrative and the treatment of the forgotten past as a remembrance and a revisiting. While Audre Lorde s and bell hooks accounts bring an emphasis on myth,(hooks on the construction of a dreamscape and Lorde on the arrangement of the psychological quilt of life), Rebecca Walker asserts that wishful forgetting and the conditioned amnesiac status contribute to the preservation of the fluid character of memory, its organization into dualities and the increased impermanence of the autobiographical account. The reliability of memory, together with the accuracy of life writing determines the classification of a narrative as memoir, autobiography or fictional autobiography. The autobiography criticism corpora are the ones to question the mnemonic truth and the reconciliation of the forces of signification.


2020 ◽  
Vol 25 (3) ◽  
Author(s):  
Jorgetania Ferreira
Keyword(s):  

Nesse artigo apresento caminhos da pesquisa, resultados e reflexões sobre experiências de trabalhadoras domésticas e donas de casa da região do Triângulo Mineiro. No trabalho de pesquisa, na atuação junto a essas mulheres, nas atualizações dos referenciais teóricos aponto para o desejo e importância de compreender as trajetórias dessas sujeitas, a partir do significado que dão às suas experiências, a partir da forma como organizam suas falas e o sentido que conferem às suas vidas. Ancorada nas contribuições teórico-metodológicas da história social, principalmente de Thompson; Williams, e das contribuições da História Oral, com Portelli a pesquisa de campo foi realizada. As recém traduzidas obras das feministas negras como Ângela Davis, bell hooks, Audre Lorde têm uma contribuição essencial para pensar o tema do trabalho doméstico e sua necessária revisão para o feminismo que contemple a maioria.


Opiniães ◽  
2021 ◽  
pp. 318-334
Author(s):  
Bruna Cassiano ◽  
Hildália Fernandes
Keyword(s):  

Neste trabalho, buscamos analisar fragmentos do “falatório” de Stela do Patrocínio, narradora de Reino dos bichos e dos animais é o meu nome (2001), discutindo a especificidade do seu modo de abordar os afetos que a atravessavam. Vislumbramos, antes de tudo, apresentar e difundir as palavras, o legado de Stela, uma mulher simultaneamente única e plural. O seu valor recobre a existência de várias mulheres negras que, como ela, findaram “quebrando” mediante a um sistema racista que ceifa a saúde da população negra historicamente. Mesmo em condições insalubres, a sua intelectualidade, notável no olhar crítico que lançava à sociedade e suas instituições, irrompia insurgentemente. Para a feitura do trabalho, partimos do método da colcha de retalhos (hooks, 2019), entrelaçando diversos trechos da obra em foco às considerações de Grada Kilomba (2019), Beatriz Nascimento (1989), Audre Lorde (2019) e bell hooks (2019). Dessa maneira, organizamos este artigo em três partes: em um primeiro momento, apresentamos a autora e o contexto de produção do corpus em análise; na sequência, discutimos sobre a perda e busca da imagem no falatório de Stela do Patrocínio e, por fim, abordamos a relação entre quimeras narrativas (CYRULNIK, 2009) e banzo (NUNES, 2019) no discurso da narradora.


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