scholarly journals Construindo pontes: diálogos a partir do/com o feminismo negro

2019 ◽  
Vol 27 (1) ◽  
pp. 89-114
Author(s):  
Mercedes Jabardo Velasco

Este artigo passa em revista o pensamento de diversas teóricas do feminismo negro, especialmente as estadunidenses, consideradas centrais nesta vertente do feminismo, como Sojourner Truth (1852), Angela Davis (2016), Audre Lorde (1984) e bell hooks (1981). Discute-se desde a origem da vertente, a partir do questionamento de Truth (1852) de “E eu não sou uma mulher?”, passando pelas suas bases conceituais com Collins (2000a), até as contribuições mais recentes do feminismo negro britânico e sua relação com o pós-colonialismo, com Carby (1982) e Pramar (1990). Evidencia-se, desse modo, a multiplicidade de ideias dentro do feminismo negro, demonstrando sua complexidade em diferentes contextos socioculturais.

2019 ◽  
Vol 27 (1) ◽  
pp. 63-88
Author(s):  
Elsa Dorlin

Este texto, que serviu de introdução a uma coletânea de textos fundadores do feminismo negro estadunidense, faz um percurso historiográfico das diversas etapas desse movimento, as chamadas “ondas”, desde a primeira delas, surgida na década de 1850 e promovida pelos movimentos de abolição da escravatura nos Estados Unidos, passando pela segunda, representada pelas grandes correntes ativistas e teóricas da década de 1970, até a atual “terceira onda”, em que se faz um questionamento crítico da heteronormatividade ainda muito presente nas primeiras fases do feminismo que foram, essencialmente, feminismos brancos. A autora faz uma detalhada análise crítica da terminologia que, desde sempre, tem sido empregada para qualificar ou, antes, desqualificar a mulher negra na sociedade estadunidense, com a criação de pesados estereótipos a respeito da sexualidade supostamente exacerbada, não só do homem negro, mas principalmente da mulher negra. Elsa Dorlin passa em revista as importantes contribuições do coletivo Combahee e de autoras como Laura Alexandra Harris, Beverly Guy-Shefall, Patricia Hill Collins, Kimberly Springer, Michele Wallace, Barbara Smith, Audre Lorde, Hazel Carby, Angela Davis e bell hooks.


2021 ◽  
Vol 5 (1) ◽  
pp. 1132-1143
Author(s):  
Natália Kleinsorgen Bernardo Borges ◽  
Thais Domingos dos Santos Rodrigues

Este trabalho tem por objetivo relatar as observações, atividades, incômodos, inquietações e sugestões que surgiram ao longo das oficinas sobre gênero e a realidade da mulher na sociedade brasileira, realizadas em colégios públicos de Niterói, Magé e Rio Bonito, no estado do Rio de Janeiro, durante o mês de março de 2018. Além da introdução, no qual é reportado o caminho percorrido até as oficinas, durante a construção da Greve Internacional de Mulheres no 8 de Março de 2018, dividimos o artigo em dois momentos: o primeiro no qual apresentamos as oficinas criadas por nós, pontuando o objetivo de cada uma, o material necessário e a metodologia que utilizamos nas escolas. Todas as oficinas pedagógicas são de caráter experimental e continuam em análise e aperfeiçoamento. O segundo em que relatamos nossas experiências nas diversas salas de aulas que tivemos, contando algumas situações que vivemos junto aos mais de 400 jovens que entramos em contato ao longo mês. Por fim, conclui-se que, apesar das dificuldades criadas com fim de proibir o debate sobre gênero nas escolas, é possível, através da ação de alguns professores, subverter as políticas institucionais e construir uma educação engajada. Por Marielle Franco, por Dandara, por Angela Davis, por Audre Lorde, por bell hooks, e por Andrea Dworjin e por Gloria Anzaldúa: não vão nos calar!


2020 ◽  
Vol 25 (3) ◽  
Author(s):  
Jorgetania Ferreira
Keyword(s):  

Nesse artigo apresento caminhos da pesquisa, resultados e reflexões sobre experiências de trabalhadoras domésticas e donas de casa da região do Triângulo Mineiro. No trabalho de pesquisa, na atuação junto a essas mulheres, nas atualizações dos referenciais teóricos aponto para o desejo e importância de compreender as trajetórias dessas sujeitas, a partir do significado que dão às suas experiências, a partir da forma como organizam suas falas e o sentido que conferem às suas vidas. Ancorada nas contribuições teórico-metodológicas da história social, principalmente de Thompson; Williams, e das contribuições da História Oral, com Portelli a pesquisa de campo foi realizada. As recém traduzidas obras das feministas negras como Ângela Davis, bell hooks, Audre Lorde têm uma contribuição essencial para pensar o tema do trabalho doméstico e sua necessária revisão para o feminismo que contemple a maioria.


2021 ◽  
Author(s):  
◽  
Larissa Rodrigues Natalino

Em um contexto em que as tecnologias influenciam e ocasionam diversas mudanças à comunicação e aos processos sociais, o movimento feminista também tem se reorganizado. Essa dissertação apresentou então, a partir da metodologia de estudo de casos múltiplos (GIL, 2002; DUARTE e BARROS, 2005), manifestações feministas organizadas por meio de hashtags, que se desenvolveram no espaço digital, e também o extrapolaram. Analisou-se quatro hashtags – #PrimeiroAssédio, #BelaRecatadaeDoLar, #UnVioladorenTuCamino, #GravidezAos10Mata – que marcaram protestos feministas nos últimos anos, com o intuito de compreender os acontecimentos marcantes de cada um dos casos, mas também apresentar conclusões a partir de uma visão ampla do todo. Foi possível confirmar, a partir de Jenkins (2009), a circulação transmídia dessas hashtags, e a partir do entendimento das redes sociais digitais (RECUERO, 2012, 2018), do net-ativismo (DI FELICE, 2012, 2013a, 2013b) e da discussão acerca à midiatização (BRAGA, 2012; HJARVARD, 2012; FAUSTO NETO, 2008), foi possível compreender as novas dinâmicas de organização e circulação do feminismo. Com base na pesquisa e na análise realizadas, entendeu-se as hashtags feministas como um fenômeno que, apesar de plural, apresenta características em comum que as definem, sendo elas: um movimento global, internacionalizado; os protestos mais populares acontecem como reação a um acontecimento; a popularidade dos protestos é explorada para diversos fins; e, as hashtags circulam de forma transmídia e se associam umas às outras. Considerando autoras feministas como Simone de Beauvoir (1960), Bell Hooks (2018), Angela Davis (2016), e Heloísa Buarque de Hollanda (2018), notou-se como a pluralidade e a adaptação desse movimento a diversos momentos históricos e novas dinâmicas sociais, fazem parte daquilo que o define. Os resultados da análise revelaram ainda que essas hashtags potencializam protestos e manifestações por sua circulação transmídia, mas ao mesmo tempo são por vezes relacionadas a produções que ressignificam sua intenção principal. Entende-se, portanto, que essas hashtags feministas representam um avanço quanto à relação entre feminismo e mídia, mas revelam que ainda existe muito espaço para evolução nesse tema.


2021 ◽  
Vol 23 (1) ◽  
pp. 153-173
Author(s):  
Bruna Moraes Battistelli ◽  
Luciana Rodrigues

Como escreve Scholastique Mukasonga em seu livro “A mulher de pés descalços”, precisamos ensinar aos nossos dedos dos pés um caminhar que não os machuque pelo percurso. Inspiradas por essa proposição, esse trabalho busca tecer diálogos com os ensinamentos de intelectuais como bell hooks, Audre Lorde, Gloria Anzaldúa e Lélia Gonzalez para pensarmos uma sala de aula e uma docência pautadas em uma ética feminista e antirracista. Assim, situadas desde o continente amefricano, objetivamos, a partir de nossas experiências e de uma inspiração cartográfica, discutir as relações entre o ser professora-pesquisadora-feminista na aposta de uma universidade que acolha, cuide e nos possibilite contar mais histórias. Para isso, lançamos mão de nossas próprias histórias que narram sobre como construímos uma voz para nós mesmas, como experienciamos a universidade e por quais caminhos chegamos no exercício da docência e da pesquisa em uma perspectiva feminista e antirracista. Por fim, como possibilidade de intervenção para docência que se assente sobre uma política do cuidado, narramos uma experiência em sala de aula, que acontece há pelo menos um ano, onde as/os alunas/os são convidadas/os a escrever cartas em uma disciplina. Nossa aposta é para que possamos seguir construindo o espaço da sala de aula também como espaço de cura, onde nossos corpos estejam em prol de políticas para o encantamento da vida.


Author(s):  
José Medina

This chapter offers an account of central issues and themes in feminist philosophical work on injustice that is distinctly epistemic. The first part of the chapter focuses on the contributions that classic feminist theorists have made to the conceptualization of issues of epistemic injustice long before such name was available, focusing especially on the writings of feminists of color from the seventeenth century onward (Sojourner Truth, Maria Stewart, Gloria Anzaldúa, Audre Lorde, etc.). The second half of the chapter focuses on the contributions to recent discussions of epistemic injustice by contemporary feminist scholars, especially Lorraine Code, Kristie Dotson, and Miranda Fricker. The chapter highlights the ways in which the feminist paradigms of intersectionality and standpoint theory have shaped analyses of epistemic injustice and epistemic resistance against injustice, elaborating the key notions of epistemic agency, epistemic responsibility and epistemic advocacy.


2019 ◽  
Vol 3 (2) ◽  
pp. 173-187
Author(s):  
Yasmine Louro ◽  
Diana Barreto Costa

O presente trabalho resulta de um projeto de pesquisa que visa analisar, sob a perspectiva discursiva, uma novela da obra Três Vidas, da escritora norte-americana Gertrude Stein. Para isso, foi selecionado o conto Melanctha (1983), título homônimo à protagonista. O objetivo da pesquisa é compreender como a obra segmenta os seus personagens por meio de atributos designados a cada um deles a partir de sua etnia. A fundamentação teórica será norteada através da articulação de um diálogo entre os estudos culturais, como Woodward (2000) e teorias feministas de Bell Hooks (1981;2000) e Angela Davis (1982). Para a análise, mobilizamos as contribuições da teoria semiótica nos trabalhos de Barros (2005) e Fiorin (2008). Privilegia-se na análise o modo como a personagem é figurativizada, considerando os recursos sintáticos e semânticos mobilizados pelo enunciador. A transitoriedade que Melanctha realiza entre os supostos benefícios que a sua pele mais clara oferece e a busca constante pela aceitação da comunidade negra na qual vive é o que evidencia o limbo étnico, o entre-lugar, que preenche o cotidiano da protagonista. Como resultados finais, compreendemos que seus personagens não possuem apenas estereótipos raciais que remetem à situação escrava que perpetrou leis e costumes segregacionistas entre os cidadãos, mas, também, utilizou-se de representações pós-escravidão em que foram submetidos negros e negras pela população branca, expondo-os a situações tão revoltantes e subumanas quanto à escravidão que viveram outrora.


Opiniães ◽  
2021 ◽  
pp. 466-484
Author(s):  
Josinélia Chaves Moreira
Keyword(s):  

O presente ensaio objetiva apresentar como as escrevivências de Conceição Evaristo reconstroem o lugar das maternidades negras como prática de liberdade, por meio de uma ética de amor calcada na inquietação sobre políticas de dominação e opressões que atravessam as “avenidas identitárias” de muitas mulheres negras. Para análise do conto “Shirley Paixão”, presente no livro Insubmissas lágrimas de mulheres, de Conceição Evaristo, colho as abordagens teórico-metodológicas de bell hooks, Oyèrónkë Oyěwùmí, Davi Reis e Thiago Prado, Audre Lorde e Jorge Silva como fundamentais para recolocar a instituição “maternidade” enquanto construção libertária e identitária de muitas mulheres negras. Shirley Paixão e tantas outras personagens evaristianas nos ensinam o que é ser uma mãe negra, sobretudo, no processo de restituição de nossa humanidade, por meio de uma confraria de mulheres. Os silêncios são múltiplos, assim como as cicatrizes, mas a expressão como esse exercício de expor sua voz, seu ponto de vista acompanhado de corporeidades negras, de transformar o silêncio em linguagem e ação, que começa na narrativa em análise, arrebenta, sangra e pare mulheres insubmissas, as quais mesmo com lágrimas nos olhos, insistem, resistem e nos provam o quanto somos donas do poder feminino.


2018 ◽  
Vol 7 (1) ◽  
pp. 181
Author(s):  
Cleonice Elias da Silva

Este artigo apresenta algumas questões referentes à segunda onda dos feminismos no Brasil. No primeiro momento, será abordado o “feminismo branco”. Em outro, a trajetória intelectual e de militância de Lélia Gonzalez, figura importante do “feminismo negro” no Brasil. As reflexões desta são complementadas por algumas premissas desenvolvidas por feministas negras norte-americanas tais como: Patricia Hill Collins, Angela Davis e bell hooks. Em suma, tento demostrar que o feminismo branco e o feminismo negro possuem especificidades que acabam por distanciá-los. 


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