scholarly journals CRISE DOS DIREITOS HUMANOS EM TEMPOS DE PANDEMIA: um diálogo entre Hannah Arendt e Giorgio Agamben

2020 ◽  
Vol 5 (1) ◽  
pp. 3
Author(s):  
Ricardo Evandro Santos Martins ◽  
Paulo Henrique Araujo da Silva

O presente trabalho busca investigar de que modo a crise causada pela pandemia do coronavírus afeta o compromisso dos Estados nacionais pela garantia e pela proteção dos Direitos Humanos de seus cidadãos, analisando se esses direitos, que em tese são inalienáveis e garantidos pelos Estados em qualquer situação, podem ter sua eficácia comprometida em regimes democráticos na ocorrência de uma situação emergencial tal qual a atual. Com base na perspectiva da crise dos Direitos Humanos apontada por Hannah Arendt e dos perigos políticos alertados por Agamben das medidas excepcionais tomadas durante a pandemia, esta pesquisa se propõe a demonstrar que o contexto pandêmico é de uma crise sanitária usada pelos Estados como meio para acentuar um modus operandi político que é antidemocrático, revelando ainda que a estruturação dos Direitos Humanos, ainda vinculados à soberania estatal, é bastante problemática considerando que é justamente o Estado, nessa situação, o ente interessando em violar tais garantias fundamentais. Para tanto, foi realizada pesquisa essencialmente bibliográfica. Os principais referenciais teóricos em Hannah Arendt foram os seus textos que versavam sobre as consequências decorrentes da condição dos apátridas previamente, em meio e após a Segunda Guerra Mundial, além suas críticas aos Direitos Humanos enquanto vinculados à emancipação nacional na forma da criação de um Estado soberano. Em Giorgio Agamben, foram utilizadas algumas obras que compõem o projeto Homo Sacer, além de algumas declarações proferidas antes, que versam sobre biopolítica e dos perigos de incorporar a segurança enquanto paradigma governamental, e durante a pandemia do coronavírus, em que o filósofo alerta que a pandemia e o estado de medo com ela difundido torna os indivíduos mais suscetíveis a permitirem a supressão de garantias tidas como fundamentais.

2012 ◽  
Vol 24 (35) ◽  
pp. 583
Author(s):  
Glauco Barsalini Glauco Barsalini

No programa Homo Sacer, Giorgio Agamben estabelece denso diálogo com importantes autores como Walter Benjamin, Carl Schmitt, Hannah Arendt e Michel Foucault, formulando um moderno conceito de vida nua. O problema da vida nua (homo sacer), todavia, estende-se para outros trabalhos de Agamben, como A linguagem e a morte e O tempo que resta: um comentário à carta aos romanos, nos quais se apresentam outros termos, como profanação e o tempo-que-resta. No cotejo entre essas obras, este artigo se propõe a articular os conceitos de vida nua (homo sacer) e de profanação, na sua relação com o problema do tempo (o tempo-que-resta),desenvolvidos por Giorgio Agamben. Nesse sentido, aflora discussão sobre o messiânico,por nós, aqui, associado com a figura do homo sacer.


Profanações ◽  
2018 ◽  
Vol 5 (2) ◽  
pp. 48
Author(s):  
Ana Suelen Tossige Gomes

Busca-se com o presente artigo discutir o método arqueológico desenvolvido por Giorgio Agamben em sua série Homo sacer, especialmente no tocante aos paradigmas, demonstrando como tal método se insere em seu projeto mais amplo de crítica à metafísica ocidental. Ainda, com base na noção de paradigma, pretende-se discutir os conceitos de exceção e de estado de exceção presentes na obra do filósofo italiano, abordando como estes se relacionam e como se diferenciam. Enquanto a exceção consiste em um dispositivo, isto é, um modus operandi mais amplo, o qual é capaz de articular duas realidades opostas, mas que inexistem sem essa articulação, o estado de exceção aparece, por sua vez, como um dos dispositivos, desvelados pela arqueologia agambeniana, cujo funcionamento se dá na forma da exceção: por meio da exclusão inclusiva da violência (e mais a fundo, da própria vida) no campo do direito.AbstractThis article aim to discuss the archaeological method developed by Giorgio Agamben in his Homo sacer series, especially with regard to paradigm concept, demonstrating how this method is part of his broader project of critical of Western metaphysics. Still, based on the notion of paradigm, it is intended to discuss the concepts of exception and state of exception present in the Agamben’s work, how these relate and differentiate themselves. While the exception consists of a dispositive, that is, a broader modus operandi, which is able to articulate two opposing realities, but which do not exist without this articulation, the state of exception appears, in its turn, as one of the dispositives unveiled by agambenian archeology, whose operation takes place in the form of the exception: by inclusive exclusion of violence (and, more deeply, of life itself) in the field of law.


2013 ◽  
Vol 25 (37) ◽  
pp. 131
Author(s):  
Daniel Arruda Nascimento

Com o escopo de revisitar a relação entre biopolítica e direitos humanos, as linhas que se seguem se dedicam ao diálogo que Giorgio Agamben estabelece com Hannah Arendt. The origens of totalitarianism e The human condition, publicados respectivamente em 1951 e 1958, e Homo sacer: il potere sovrano e la nuda vita e Mezzi senza fine: note sulla politica, publicados em 1995 e 1996, serão as referências mais proeminentes. O diálogo será, todavia, orientado pelo cortejo da ajuda humanitária. Devemos levar a sério as hipóteses do filósofo italiano a esse respeito. Por um lado, o humanitário surge no nosso século purificado de todo comprometimento político, contribuindo para consolidar a compreensão da vida como mera vida, vida biológica, simples fato de ser vivente. Por outro lado, aferrando-se contraditoriamente na visão da “vida nua” como aquela desprovida de direitos, podemos observar que a ajuda humanitária substitui o reconhecimento, a atribuição e a garantia de direitos. A distribuição de cestas básicas e remédios adia sempre mais o gesto de reconhecimento da igualdade, a justa atribuição de direitos e a garantia de oportunidades para o exercício de direitos, levando-nos ao ponto de não mais evitar as suspeitas deque uma secreta solidariedade,celebrada entre os organismos internacionais de ajuda humanitária e as forças que deveriam combater, embala os sonhos contemporâneos.


2013 ◽  
Vol 8 (2) ◽  
pp. 175-189 ◽  
Author(s):  
Raphael Guazzelli Valerio

Pretendemos dar uma breve contribuição para a compreensão do conceito de biopolítica na obra do filósofo italiano Giorgio Agamben, mais precisamente em seu trabalho de 1995, inaugurador da série Homo Sacer, cujo título leva o mesmo nome: Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua. Valendo-se do pensamento de Michel Foucault e Hannah Arendt de um lado, e Walter Benjamin e Carl Schmitt de outro, Agamben faz recuar o conceito de biopolítica às fundações da política ocidental. Importa, para o filósofo, mostrar como estrutura, lógica e topologia de funcionamento a biopolítica anima as relações políticas desde seu fundamento e que a modernidade foi capaz de revelar, transformando radicalmente os espaços políticos contemporâneos.


Profanações ◽  
2019 ◽  
Vol 6 ◽  
pp. 238-258
Author(s):  
Isidoro Harispe

El presente artículo pretende reflexionar sobre la particular mirada que tiene Giorgio Agamben de lo político a partir del uso que hace de algunos autores (Debord, Heidegger, Foucault, Kojève) y conceptos (“espectáculo”, “poshistoria”, “vida”, “forma-de-vida”) con los cuales durante más de veinte años abordó cuestiones del pensamiento político contemporáneo. El recorrido interpretativo está centrado entre los años de la publicación de Medios sin fin (1996), un libro pequeño pero bisagra en su producción escritural, y el final de la saga Homo Sacer El uso de los cuerpos (2014).  Palabras clave: Giorgio Agamben. Guy Debord. Sociedad del espectáculo. Vida. Forma-de-vida. Poshistoria.


Author(s):  
Antonio Justino Arruda Neto

Este texto tem como objetivo a discussão entre o pensamento de Francisco José de Jaca O. F. M Cap. (1645-1690) e o Homo Sacer de Giorgio Agamben. Assim, a vida escrava na colônia espanhola amarga a condição de violência, a exceção e a supressão de direitos, argumentos esses convergentes dos pensamentos em discussão. Acrescido dessas acepções, Francisco José de Jaca, um frade que despontou como contrário à escravidão. Ele poderá ser considerado abolicionista? A afirmação é positiva. O propósito de Francisco José de Jaca em defender o indefensável no período colonial, resultou em sua convocação para Europa e aos tribunais eclesiásticos. De Sevilla à Roma. Seu instrumento de combate foi a simplicidade que estava ao seu alcance: a oração (pelo discurso) e a confissão (induzir o rebanho ao pensamento de liberdade). Sendo assim, o problema de pesquisa será: a escravidão política como um instrumento de violência seria o despojamento social e político da vida nua? Com isso, o objetivo geral é identificar a escravidão política como um instrumento de violência como procedimento de despojamento social e político da vida nua. O texto está dividido em três seções articuladas? nos pensamentos de Francisco José de Jaca e Giorgio Agamben: a primeira, compreender o pensamento de Francisco José de Jaca, segunda, discutir a invisibilidade da escravidão; e, a terceira, a análise da retirada da escravidão humana do mundo, é possível? Portanto, os herdeiros indiretos de Francisco José de Jaca, no Brasil, foram muitos, entre eles, Joaquim Nabuco (1849-1910).


Humaniora ◽  
2011 ◽  
Vol 2 (1) ◽  
pp. 335
Author(s):  
Ferdinand Indrajaya

Article is an outcome from writer’s reflection from his reading on Homo Sacer, Sovereign Power and Bare Life, a book by Giorgio Agamben, an Italian 20th century philosopher. The reading concerns with the three chapters which are Homo Sacer, The Ambivalence of The Sacred, and The Sacred Life, and also the preface of chapters. Generally, this article proposes two main things. First, Agamben’s description on Western modern political practice, developed from the Greek until today. Second, writer’s reflection on educational system in Indonesia, especially the higher education level in nowadays, through Agamben’s perspective. Structurally, article is divided into three parts. First, the Preface, is a general view to Agamben’s political thought which will stand as a background to the second part from this article, Homo Sacer. On the third part, Education as Bare Life, is writer’s reflection on higher education system in Indonesia borrowing the political perspectives from Agamben.    


2019 ◽  
Vol 8 (2) ◽  
Author(s):  
Jaime Alonso Caravaca Morera
Keyword(s):  

El sentido de los postulados de Giorgio Agamben invita a conocer una nueva ontología sociocolectiva que más allá de la tradición soberana. A partir de las conceptualizaciones semánticas de la figura representativa “vida” y de su relación con el poder soberano en una sociedad (bio-tanato) política de normalización, se podría analizar las diferentes realidades que nos circundan. El objetivo de esta reflexión reposa en analizar las condiciones de enunciación y de existencia/resistencia de la persona que se auto-identifica dentro del spectrum transexual, de acuerdo con la teoría tanatopolítica, con el fin de promover prácticas de cuidado disciplinar inclusivas y libres de estigmas. La analogía realizada entre la persona transexual y la figura del homo sacer, permite explicar la realidad vivenciada por esta población, en la cual la vida es incluida en el ordenamiento sociojuridico únicamente bajo su propia exclusión, es decir, a partir de su absoluta invisibilidad, matabilidad y/o exterminio. Siguiendo los postulados tanatopolíticos, se podría examinar el espacio fundamental de abandono, exilio y violencia presente en todas las historias de vida post-coloniales - principalmente entre aquellas identidades disidentes e ininteligibles – que es necesario resaltar para comprender las condiciones en las cuales se han gestado las políticas de cuidado y salud actual.


2017 ◽  
Vol 2 (1) ◽  
Author(s):  
Rosane Cristina de Oliveira ◽  
Eliane Cristina Tenório Cavalcanti

<p>O presente artigo tem o objetivo investigar algumas formas que o Estado contemporâneo utiliza para promove intervenções biopolíticas acerca da violência contra mulher. Para isso, adotou-se o referencial teórico de Michel Foucault e Giorgio Agamben. Inicialmente será  apresentado o entendimento foucaultiano a respeito da biopolítica, e a construção de Agamben estabelecida a partir da concepção de <em>homo sacer</em> e vida nua, no sentido de realiza-se uma aproximação das construções dos dois autores, evidenciando as principais concepções em que uma se mostra complementar à outra para então se pensar na questão da violência contra mulher, aqui percebida como vida nua. A seguir, busca-se a noção de refugo humano proposta por Bauman para compreender as condições sociais e de vida das mulheres em situação de violência, exclusão social e<strong> </strong>vulnerabilidade<strong>, </strong>pretendendo-se assim que elas possam ser lidas à luz dessas categorias. Finalmente, apresenta-se a lei do Feminicídio como ação biopolítica contemporânea.<strong></strong></p><p><strong>Palavras-chave</strong>: Biopolítica; vida nua; violência contra a mulher.</p>


2019 ◽  
Vol 12 (2) ◽  
Author(s):  
Gerson Faustino Rosa ◽  
Carolina Noura de Moraes Rêgo

O presente trabalho propõe uma reflexão acerca do papel exercido pelo Estado de Direito na vida dos cidadãos, em especial quando esse Estado vale-se do liberalismo com arte de governar e passa a ser o gestor da “felicidade” humana. Durante essa reflexão, faz-se um breve excurso nas obras de Giorgio Agamben e Michel Foucault, analisando os conceitos de Estado de exceção e de biopolítica, respectivamente desenvolvido por eles. Regressa-se à forma de exclusão sofrida pelo homo sacer, conforme o pensamento de Agamben, a fim de compará-lo ao “bandido” dos nossos dias, também excluído da sociedade no mais das vezes. Por fim, expõe-se o papel do Direito do Estado, utilizado como instrumento de legitimação da crueldade e de interesses que não condizem com a vontade geral. Empregar-se-á, para tanto, os métodos lógico-dedutivo e indutivo-argumentativo, através de análises fundamentais e qualitativas, tendo como recursos bibliografia nacional e estrangeira.


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