scholarly journals A tradução, avesso da relutância

2021 ◽  
Vol 63 ◽  
pp. e021029
Author(s):  
Paulo Sérgio Souza Junior

No ensaio “Luto e melancolia”, Sigmund Freud não tematiza diretamente a linguagem. Entretanto, o seu célebre texto reverbera formulações desenvolvidas pelo autor em obras anteriores, fundamentais para pensar não apenas o passado e a perda no sentido corrente, mas a própria dimensão da linguagem enquanto perda e o que nela tem a ver com desdobramentos possíveis ao falante. Dito isso, a partir da tradução como chave de leitura, o presente artigo tem como objetivo investigar o fenômeno do luto, da perspectiva da psicanálise freudiana, sob o efeito das elaborações de Ferdinand de Saussure no âmbito das línguas; e por meio do que disso reverbera nas formulações de Jacques Lacan, oferecer uma contribuição para pensar o luto, no universo do sentido, como condição humana capital à viabilidade do futuro.

2017 ◽  
Vol 19 (1) ◽  
Author(s):  
Monica Genelhu Fagundes

Ao abordar a arte, especifcamente a poesia, como meio (espaço e ato) de resistência, este ensaioparte de duas constatações e de uma confssão. As constatações: (1) para além de todo poder deordem histórica, de todo instrumento de coerção, seja político, econômico, ideológico, moralou cultural a que o homem esteja submetido e deva resistir, está a certeza da fnitude -- a sua ea daqueles que ama. Também (sobretudo, talvez) diante da consciência dessa condição mortalque limita, oprime e fere o humano, cabe resistir. O luto, como modo de lidar com a morte, é,portanto, ato de resistência; (2) Se a resistência se organiza no campo da arte, ela deve se valerdas armas próprias dessa linguagem, pelo que aqui importa, tanto quanto a temática abordadana poesia elegíaca de Camões, a forma poética como elaboração de um trabalho de luto. A confssão: este texto é em si mesmo um trabalho de luto, que se vale do exercício de pensamentopróprio do ensaio como forma para elaborar a perda que motiva sua escritura. A partir dessespressupostos e desse lugar de fala, realiza-se nas páginas que seguem uma leitura atenta de trêssonetos camonianos que compõem o assim chamado ciclo a Dinamene, pondo-os em diálogocom as reflexões de Sigmund Freud, Jacques Lacan e Jean Allouch sobre o luto, bem como coma teoria de Maurice Blanchot sobre a linguagem, que a concebe como trabalho de luto.


2018 ◽  
Vol 17 (1) ◽  
pp. 239-247
Author(s):  
DAGMAR HERZOG

I am grateful for the observations of these five wonderful and thought-provoking interlocutors: Camille Robcis, Todd Shepard, Suzanne Stewart-Steinberg, Regina Kunzel, and Michal Shapira. They have prompted me to read a whole range of clarifying texts—from Jacques Derrida's reflections on Friedrich Nietzsche to the work of classicist James Davidson on Michel Foucault and George Devereux (as well as more writings by Devereux) to historian Chris Waters's recovery of Edward Glover, and from literary scholar Shoshana Felman's brilliant Jacques Lacan-inspired rescue operation for psychoanalytic textual interpretation (in the special issue of Yale French Studies she edited in 1977) to Charles Shepherdson's turn-of-the-millennium revisionist take on Lacan and Foucault in Vital Signs. They have prompted me, too, to reconsider key texts by Sigmund Freud. And I am glad that the interlocutors challenge me with questions. These include: why the Left abandoned psychoanalysis (Robcis); how I have come to think about practices and desires and the relationships between “the sexual” and other realms of human existence (Shepard and Stewart-Steinberg, each in their own way); how a more integrated and comprehensive master narrative of psychoanalysis might be written, connecting the first and second halves of the twentieth century (Shapira); and how to delve more deeply into the role of analysands in shaping what counts as psychoanalysis (Kunzel).


2017 ◽  
Vol 20 (1) ◽  
pp. 9-20
Author(s):  
Paulo Eduardo Viana Vidal ◽  
◽  
Angélica Bastos ◽  

Resumo: O presente trabalho objetiva mostrar como, para elaborar uma lógica pautada na não relação e independente de uma ontologia, Jacques Lacan procedeu a uma leitura do Parmênides de Platão. Partimos de duas referências fundamentais ao diálogo platônico no ensino do psicanalista e, com recurso aos textos do linguista Ferdinand de Saussure e de psicanalistas, pensadores e estudiosos do tema, passamos ao operador Há d'Um forjado por Lacan. Serão discutidas a função de nomeação na cadeia borromeana e a não relação sexual. Duas hipóteses do diálogo platônico acerca da unidade do múltiplo serão examinadas a fim de que tanto a relação quanto a não relação entre Ser e Um sejam tratadas em termos de sujeito barrado, significante e gozo.


2020 ◽  
Vol 21 (01) ◽  
pp. 59-74
Author(s):  
NEWTON FREIRE MURCE FILHO

Este estudo consiste na análise de um livro ilustrado que apresenta e sugere ao leitor divertidos e espirituosos jogos verbais, brincadeiras com as palavras, bem como uma mistura entre línguas. Esses jogos funcionam como uma espécie de convite à criação, por parte do leitor, à medida em que este aprecia e se diverte com a obra. A análise apresenta os modos como se estabelecem a criação e o funcionamento linguístico desses jogos de linguagem, que constituem um adorável exercício de alteridade linguística e de inovação. Argumenta-se que esse exercício pode contribuir significativamente para a competência literária do leitor, bem como para o ensino dessa competência. A análise é feita considerando-se a noção de significante, conforme inicialmente descrito por Ferdinand de Saussure ([1916] 1995), e posteriormente redefinido por Jacques Lacan ([1955-56] 1998a, [1956-57] 1988b, [1964] 1988c, 1998).


Author(s):  
Roland Végső

The chapter examines the role of worldlessness in the works of Sigmund Freud and Jacques Lacan. The first half of the chapter concentrates on Freud and the way the worldlessness of life becomes the central problem of his metapsychological reflections. This inquiry allows us to define the Freudian unconscious as the location where the worldlessness of life and the worldlessness of thought meet. The second half of the chapter traces the idea of worldlessness in the works of Lacan. It focuses on Lacan’s discussions of the signifier, psychosis and anxiety. It concludes by arguing that Lacan defines psychoanalysis as the science of worldlessness.


Author(s):  
Adriana De Albuquerque GOMES (UFSCar)

Sigmund Freud sempre expressou uma profunda admiração por figuras emblemáticas do Renascimento italiano. Seu interesse por Roma e pela antiguidade romana – referências importantes em sua obra – pode ser constatado, inclusive, pela grande quantidade de viagens que Freud realizou rumo a cidades italianas entre os anos de 1876 e 1923. É nesse período,então, que o fundador da Psicanálise publica Eine Kindheitserinnerung des Leonardo da Vinci (1910) e Der Moses des Michelangelo (1914). Este fato chamou a atenção de autores como Eric Fromm e Jacques Lacan, os quais, na década de 60 do século XX, teceram considerações completamente divergentes acerca da complexa relação de Freud com o humanismo renascentista. Este artigo objetiva, portanto, examinar a oposição radical que se pode estabelecer entre essas duas interpretações.


LETRAS ◽  
2006 ◽  
pp. 33-47
Author(s):  
Esteban Barboza Núñez

El propósito de este artículo consiste en explorar los mecanismos y representaciones de lo siniestro en "La hija de Rappacci" de Nathaniel Hawthome como expresión del mal dentro de los límites del género gótico del siglo XIX; como expresión del tema del doble en tres personajes humanos y en uno no humano que aparecen en el cuento; y como expresión de trasgresión en el personaje principal, Giovanni Guasconte. El concepto de lo siniestro que se usará será el de la teoría psicoanalítica, siguiendo especialmente los aportes de Sigmund Freud y Jacques Lacan. The purpose of this artide is to explore the mechanisms and representations of the uncanny in Nathaniel Hawthome's "Rappaccini's Daughter" as an expression of evil within nineteenth century Gothic boundaries; as an expression of the theme of the double in three human characters and in one non-human component of Rappaccini's garden; and as an expression of transgression in Giovanni Guasconte, the main character. The concept of the uncanny to be used will be that of psychoanalytic theory, especially reliant on the contributions on the topic by Sigmund Freud and Jacques Lacan.


Author(s):  
MLA Chernoff

This paper explores the conceptual thresholds of psychoanalysis as they have been laid out over the course of the 20th and 21st centuries, specifically focusing on the tensions between Sigmund Freud and two of his many heirs, viz., Jean Laplanche and Jacques Lacan. First, I extricate Freud's visionary text, Beyond the Pleasure Principle (1920), from Laplanche's condemnation of the text as either whimsically metaphyical or simply a return to Freudian seduction theory. I argue that neither categorization has the capacity to contain the argumentative force of Beyond. Second, by attending to Lacan's theorizations of the philosophy of science apropos of psychoanalysis, I speculate on the possibility of a psychoanalytic future, one that incorporates scientific rigour into its theories practices. By accounting for the materiality of the death drive (through Timothy Morton's object-oriented interpretation of molecular processes), I show how the death drive was never necessarily metaphorical and thereby acts as an discourse-altering facet of psychoanalysis in a way that neither Laplanche nor Lacan could have anticipated.


2019 ◽  
Vol 24 (3) ◽  
pp. 516-517
Author(s):  
Marcos Paulo Lopes Pessoa

A influência da teoria saussuriana na letra de Jacques Lacan e suas consequências para a psicanálise ainda hoje é tema de grande debate tanto entre psicanalistas como entre linguistas. A presente pesquisa visa reintroduzir tal discussão à luz dos manuscritos de Ferdinand de Saussure conhecidos como De la double essence du langage que se tornaram públicos somente em 1996 e por consequência ignorados por Jacques Lacan. Para isso, partimos da seguinte questão: em tais manuscritos de Saussure, quais são os elementos teóricos – distintos aos do Cours de linguistique générale – que podem justificar uma reintrodução do diálogo entre a sua semiologia e a teoria lacaniana do significante no que concerne à concepção de “barreira resistente à significação”? Com o objetivo de respondê-la, procuramos conduzir um fio interpretativo a partir de três coordenadas interdependentes: (1) a concepção de resistência desenvolvida por Freud e sua relação com o conceito de recalque; (2) a leitura feita por Lacan da resistência freudiana a partir dos avanços oriundos da teoria do signo de Saussure; (3) a ideia de significação como efeito da relação entre significantes presente no modelo de signo encontrado nos manuscritos saussurianos e sua importância à concepção de estrutura. Desenvolvemos, neste estudo, uma pesquisa em psicanálise de cunho teórico que se guia basicamente pelas letras freudiana, lacaniana e saussuriana. Focamos nossa tese na questão da resistência à significação revelada por Lacan em sua interpretação do signo proposto por Saussure. Este estudo nos levou ao entendimento de que a ideia de resistência à significação é uma chave de leitura do modelo de signo linguístico descrito no manuscrito, uma vez que ele se mostra um componente negativo, efêmero e que somente possui existência na relação com outros signos em um sistema em constante movimento. Com isso, encontramos na ideia de “barreira resistente à significação” de Lacan uma chave de leitura para a noção de significação como se mostra em De la double essence du langage.


Sign in / Sign up

Export Citation Format

Share Document