scholarly journals CLARICE VAI AO ZOOLÓGICO: NOTAS SOBRE OLHAR E DIFERENÇA ANIMAL

Organon ◽  
2021 ◽  
Vol 36 (72) ◽  
pp. 66-79
Author(s):  
Paula Cristina Gomes Do Amparo ◽  
Gabriel Martins Da Silva

A escritora Clarice Lispector reservou, ao longo da sua obra, um espaço privilegiado para o encontro entre humanos e animais, através de trocas de olhares que desestabilizam a hierarquia ontológica entre os seres. Em uma argumentação interessada no papel do olhar durante o encontro com a diferença animal, analisaremos os contos “O búfalo”, de Laços de Família (1960), e “Tentação”, de A legião estrangeira (1964), em diálogo com os trabalhos de Giorgio Agamben e John Berger sobre o lugar social do zoológico como dispositivo de separação, controle e catalogação do que é dado como natureza e cultura.

Muitas Vozes ◽  
2020 ◽  
Vol 09 (02) ◽  
pp. 509-533
Author(s):  
C. R. F. MARINHO

Este texto aborda a obra A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, tomando-a a partir de um trabalho de escrita literária pensado como operação de produção do sensível na existência. Um trabalho que, mais do que produzir sentidos ou gerar interpretações que nos ajudariam a entender o mundo, fazem mundos, produzem formas próprias, capazes de atribuir configurações diferentes à existência e ao seu pensamento. No caso da obra de Lispector, tal processo dá-se não pela construção de um novo mundo qualquer, mas pela derrisão das definições e das finalidades desse mundo, cuja possibilidade manifesta- se no encontro entre G.H. e a barata. Tal relação opera, então, uma altercação não apenas de G.H. com o animal, mas a colocação em questão da existência da humanidade, na medida em que ela se faz paradigma dessa relação. Para tanto, operamos por meio de quatro registros, evidenciando como desdobramento o procedimento dessa possibilidade: desabamento, aberto, devir e informe, partindo de autores como Giorgio Agamben, Gilles Deleuze e Felix Guattari e Georges Bataille. Mais do que uma parada da possibilidade de entender a humanidade em G.H., deparamo-nos com uma máquina reterritorializante profundamente deslocada, fora do humano e fora do sentido.


Muitas Vozes ◽  
2020 ◽  
Vol 09 (02) ◽  
pp. 534-544
Author(s):  
W. F. OLIVEIRA ◽  
K. C. PACHECO

Neste texto, objetivamos, a partir da leitura do romance A maça no escuro (1970), de Clarice Lispector, abordar temas como testemunho e exílio, refletindo sobre essas caracterizações a partir do crime da personagem principal, Martim – tentativa de assassinato de sua esposa – e sua consequente fuga (assim, por ser um fugitivo, Martim tenta esconder seu passado, embora não sinta culpa por seu ato). Desse modo, analisamos sua condição quase amoral e sua recusa de falar/testemunhar sobre sua experiência, assim como também refletimos sobre seu novo mundo (na fuga, encontra uma fazenda, em que se abriga) não como reapropriação, mas como recusa e potência da negação. A partir dessa experiência, pensamos que seja possível apontar um espaço em exílio, que surge a partir do silêncio e perda da linguagem. Para tanto, neste trabalho, apoiamo-nos, principalmente, nos autores Giorgio Agamben (2008), Jean-Luc Nancy (1996) e Maurice Blanchot (2003).


2021 ◽  
Vol 10 (2) ◽  
pp. 35
Author(s):  
Cacio José Ferreira ◽  
Norival Bottos jr

Esse artigo discute o estatuto das imagens que são produzidas pelos humores líquidos do corpo de Macabéia, em A Hora da Estrela (1998), desregulando e desterritorializandoem filigranas as imagens capazes de sobreviver ao tempo, com destaque para a figura da ninfa, ao mesmo tempo representação da santa cristã ou das deusas pagãs em diversas culturas. Walter Benjamin (2011) denominou essas imagens como aquilo que resta e que é capaz de causar um rasgo ou uma fratura no tempo real, tratar-se-ia, portanto, de sobrevivência no tempo histórico. Como aporte teórico serão utilizadas, sobretudo, as análises de Gilles Deleuze, Félix Guattari, Jacques Derrida, Giorgio Agamben, AbyWarburg e Georges Didi-huberman, especialmente no que diz respeito ao papel da musa como condição sintomática do discurso que Macabéia exerce sobre o mundo patriarcal e racional, além de se efetivar como um diálogo onde Clarice Lispector busca refletir sobre o papel da arte a partir de uma perspectiva filosófica peculiar. Julga-se importante entender de que maneira Macabéia se configura como uma ninfa, especialmente no que diz respeito à importância das imagens carregadas de temporalidades dispersas e dotadas de características únicas, geralmente icônicas que ela desregula com seu discurso descentralizador.


2017 ◽  
Vol 17 (27) ◽  
pp. 56
Author(s):  
Djulia Justen

Para ler um percurso com a montagem na noite do conto "Onde estivestes de noite", de Clarice Lispector, persigo alguns punctuns que se abrem no texto clariceano associados às leituras de Walter Benjamin sobre a imagem, a montagem e a técnica, e de Giorgio Agamben sobre o contemporâneo. É a partir desta exigência de leitura que os punctuns endereçam, tão própria da noite singular deste conto, que é possível escutar o chamado do escuro da noite de "Onde estivestes de noite" assim como faz o contemporâneo ao ouvir o chamado do escuro do nosso tempo para uma escrita da história com a montagem.


2020 ◽  
Vol 51 (esp) ◽  
pp. 58-74
Author(s):  
Priscilla De Souza Klein Gnutzmann ◽  
Rony Márcio Cardoso Ferreira

Por meio de uma leitura do conto “O búfalo”, republicado por Clarice Lispector em Laços de família (1960), este artigo propõe um estudo sobre a relação do animal humano e não humano a partir das proposições de Jacques Derrida (2002) e Giorgio Agamben (2017). Postulamos existir uma correspondência entre a mulher do conto e alguns animais do zoológico, os quais figuram como pontos de reflexos frente aos medos e anseios da personagem humana. Essa correspondência torna-se aceitável na medida em que a narrativa problematiza o tema da alteridade animal, bem como ilustra ficcionalmente a imbricada relação de animalidade entre o homem e o inumano. Valeremo-nos, assim, das premissas teóricas dos Estudos Animais em interface com os estudos literários, tal como proposto por Maria Esther Maciel (2016) e outros críticos que já trataram da presença dos animais na literatura de Clarice, a exemplo de Silviano Santiago (2006) e Evando Nascimento (2012).


2020 ◽  
Vol 25 (31) ◽  
pp. 41-53
Author(s):  
Maria Luiza Berwanger da Silva

O presente artigo busca celebrar os 60 anos de publicação da obra Hiroshima, mon amour, de Marguerite Duras, evidenciando a ressonância de temas, modos e formas de abordagem no Contemporâneo. Para tanto, toma como ponto de partida a própria definição de “memórias” dita pela autora em entrevistas e documentos inéditos, os quais repercutem em distintos campos do saber, de natureza simbólica e não simbólica. Intelectuais franceses como François Jullien, Edgar Morin, Giorgio Agamben, Gilles Lipovetsky e a escritora brasileira Clarice Lispector traduzem esse efeito da escritura durasiana produzido sobre o pensamento, hoje.


Professare ◽  
2018 ◽  
Vol 7 (1) ◽  
pp. 109
Author(s):  
Claudemir Aparecido Lopes

<p class="resumoabstract">O professor Giorgio Agamben tem elaborado críticas à engenhosa estrutura política ocidental moderna. Avalia os mecanismos de controle estatal, nos quais os denomina ‘dispositivos’, cuja força está na imbricação às normas jurídico-teológicas com seus similares ritos e liturgias. Suas ocorrências e legitimidade preponderam no tecido social cuja organização sistêmica se põe quase como elemento natural e não cultural. O texto tem por objetivo explorar a concepção política de Agamben sobre a política contemporânea, especialmente considerando seu livro: ‘Estado de Exceção’, cuja investigação apresenta a possibilidade de atenuação dos direitos de cidadania e o enfraquecimento da prática da liberdade política e o processo de relação dos indivíduos no meio social através da redução das subjetividades ‘autênticas’. Analisamos ainda a transferência do mundo sacro elaborado pelos teólogos católicos presente na modernidade à política cuja democracia moderna faz do homem (sujeito) tornar-se objeto do poder político. Faz também, reflexão dos conceitos de subjetivação e dessubjetivação relacionando-os às implicações políticas do homem moderno. A pesquisa é bibliográfica com ênfase na análise dos conceitos elaborados por Agamben, especialmente quanto ao ‘dispositivo’. Conclui que o indivíduo ocidental, de modo geral, sofre o processo de dessubjetivação e está ‘nu’, indefeso e alienado politicamente. Ele precisa voltar-se ao processo de ‘profanação’ dos dispositivos para libertar-se das vinculações orientadoras que forçosamente o descaracteriza enquanto ser ativo e livre.</p><p class="resumoabstract"><strong>Palavras-chave</strong>: Política. Liberdade. Subjetivação.</p><h3>ABSTRACT</h3><p class="resumoabstract">Professor Giorgio Agamben has been criticizing the ingenious modern Western political structure. It evaluates the mechanisms of state control, in which it calls them 'devices', whose strength lies in the overlap with legal-theological norms with their similar rites and liturgies. Its occurrences and legitimacy preponderate in the social fabric whose systemic organization is almost as a natural and not a cultural element. The text aims to explore Agamben's political conception of contemporary politics, especially considering his book 'State of Exception', whose research presents the possibility of attenuating citizenship rights and weakening the practice of political freedom and the individuals in the social environment through the reduction of 'authentic' subjectivities. We also analyze the transfer of the sacred world elaborated by the Catholic theologians present in the modernity to the politics whose modern democracy makes of the man - subject - to become object of the political power. It also reflects on the concepts of subjectivation and desubjectivation, relating them to the political implications of modern man. The research is bibliographical with emphasis in the analysis of the concepts elaborated by Agamben, especially with regard to the 'device'. He concludes that the Western individual, in general, suffers the process of desubjectivation and is 'naked', defenseless and politically alienated. He must turn to the process of 'desecration' of devices to free himself from the guiding bindings that forcibly demeanes him while being active and free.</p><p class="resumoabstract"><strong>Keywords</strong>: Politics. Freedom. Subjectivity. </p><p> </p>


CounterText ◽  
2016 ◽  
Vol 2 (1) ◽  
pp. 85-99
Author(s):  
William Watkin

There has been little direct discussion between perhaps the two leading philosophers of our age: Alain Badiou and Giorgio Agamben. Yet both men have written about the same poem by Osip Mandelstam, ‘The Age’, around the topic of time. Significantly, Agamben's response, written after Badiou's, is a subtle and damning critique of Badiou's conceptualisation of time, in particular extended across the categories of the modern, the contemporary, and the now or the event – although it never actually mentions Badiou by name. In this paper the lens of the central role of indifference in the work of both is used to present alternating and competing views as to the nature of modern, contemporary, and ‘now’ time. Specifically, a contrast is drawn between Badiou's use of indifference as both quality-neutral and absolutely non-relational, and Agamben's application of the indifferent suspension of the temporal signature as such. The paper concludes that while Badiou uses temporal indifference to question and problematise the idea of modern time as ‘now’, through a theory of the event, Agamben appears to go further. Rather than analyse the nature of modern time, the contemporary and the now through his reading of Mandelstam, Agamben uses Mandelstam's poem to suspend the Western conception of time as a line composed of points in its entirety.


Derrida Today ◽  
2017 ◽  
Vol 10 (2) ◽  
pp. 237-243
Author(s):  
Elia R.G. Pusterla
Keyword(s):  

Author(s):  
Vanessa Lemm

Readers of Giorgio Agamben would agree that the German philosopher Friedrich Nietzsche (1844–1900) is not one of his primary interlocutors. As such, Agamben’s engagement with Nietzsche is different from the French reception of Nietzsche’s philosophy in Michel Foucault, Gilles Deleuze and Georges Bataille, as well as in his contemporary Italian colleague Roberto Esposito, for whom Nietzsche’s philosophy is a key point of reference in their thinking of politics beyond sovereignty. Agamben’s stance towards the thought of Nietzsche may seem ambiguous to some readers, in particular with regard to his shifting position on Nietzsche’s much-debated vision of the eternal recurrence of the same.


Sign in / Sign up

Export Citation Format

Share Document