scholarly journals Alguém falou em teoria quare? Pensando raça e sexualidade a partir da crítica de intelectuais LGBTQIA + negres norte-americanes à teoria queer

2021 ◽  
Vol 41 (88) ◽  
pp. 205-228
Author(s):  
Rodrigo de Azevedo Weimer
Keyword(s):  

Resumo Este artigo discute, a partir de bibliografia pertinente, as formas como as questões raciais foram analisadas em algumas das principais referências da teoria queer e, em um segundo momento, mapeia as principais críticas feitas por autories LGBTQIA+ negres àquela vertente teórica. Percebe-se um movimento contraditório: por um lado, um esforço de autories como Judith Butler, dentre outres, de abraçar a discussão racial em seus trabalhos e, por outro, um sentimento de fracasso no acolhimento e na contemplação de pessoas negras pela teoria e política queer nos Estados Unidos. Outra peculiaridade do debate é que, inobstante a heterogeneidade da teoria queer, seus teóricos são criticados em bloco, sendo raramente examinados autores específicos com a devida minúcia. Discute-se a homonormatividade branca como um importante obstáculo para os diálogos e uma fonte de mal-entendidos. Refere-se, ainda, à tentativa de se estabelecer uma teoria quare alternativa.

2020 ◽  
Vol 25 (1) ◽  
pp. 67-76
Author(s):  
Vanessa Ferreira Vieira ◽  
Eurídice Figueiredo

Este artigo tem a proposta de refletir de que maneira a representação de casais lésbicos na literatura contemporânea pode contribuir para desestabilizar o pensamento heterossexual que se sobressai em nossa sociedade. Serão analisados os contos Vó, a senhora é lésbica, Marília acorda e As tias, da obra Amora, de Natalia Polesso (2015). As três narrativas têm como personagens principais casais formados por duas mulheres, as quais vivem juntas há muitos anos e, por isso, podem ser analisadas como exemplo de relacionamento fora do padrão heteronormativo. Servirão de embasamento teórico ao estudo os textos de Monique Wittig (2017), sobre o pensamento straight, de Adrienne Rich (2010), a respeito da existência lésbica, e de Judith Butler (2016), no que tange à questão do feminismo na contemporaneidade. Embora as autoras não concordem em alguns aspectos dessa temática, todas apontam a necessidade de se discutir e se destacar o papel das mulheres lésbicas não apenas no campo literário, mas no mundo acadêmico e social.


Author(s):  
Catarina de Cassia Moreira ◽  
Marcia Serra Ferreira
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O artigo investiga como as identidades dissidentes (Paul B. Preciado) tem sido subjetivadas nos (e pelos) currículos de Ciências e Biologia. No diálogo com Michel Foucault, Judith Butler e Thomas Popkewitz, analisa produções acadêmicas nos anais do ENEBIO (2016 e 2018), problematizando como os discursos acadêmicos participam dos processos de tornar-se sujeito, produzindo pesquisas e relatos que nos informam quem devemos ser em termos de gêneros e sexualidades e, simultaneamente, que conhecimentos devemos ensinar e aprender sobre essas temáticas. Em meio aos jogos de saber e poder, assume a produtividade de se pensar genealogias outras, assim como construir espaços-tempos para possibilitar discursivamente outros modos de ser e estar no mundo, que não só aquelas cisgêneras e heterossexuais.


Author(s):  
Tuanny Soeiro Sousa
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O presente trabalho tem como intuito analisar a tensão existente entre a humanidade dos direitos humanos e os processos de produção diferenciada do humano aos quais dissidentes sexuais e de gênero são submetidos por performatizarem o gênero ou a sexualidade atravessando os enquadramentos normativos que organizam as condições necessárias para o reconhecimento. Para isso, nosso pressuposto teórico-metodológico assenta-se nas ideias desenvolvidas pela teoria do discurso de Judith Butler e Michel Foucault. O estudo divide-se em três seções: na primeira, examinamos as condições que possibilitaram a emergência do sujeito jurídico moderno dos direitos humanos; na segunda, analisamos como são engendradas as identidades sexuais e de gênero, relacionando esse processo com a fabricação da humanidade; por último, estudamos as possibilidades de novas articulações de humanidade no Direito. Concluímos que, apesar dos direitos humanos serem instrumentos de assujeitamento, os termos humanidade e direito estão sempre em disputa, existindo espaço para a luta por novas formas de se reconhecer o humano implicado nesses direitos e, portanto, os dissidentes sexuais e de gênero podem encontrar nesse terreno ambíguo um espaço de luta contra a vulnerabilidade e a opressão.


2021 ◽  
Vol 18 (1) ◽  
pp. 1-23
Author(s):  
Clara Maria Roman Borges ◽  
Bruna Amanda Ascher Razera
Keyword(s):  

O artigo tem por objetivo analisar a possibilidade de se conceber o Direito Penal como aliado no enfrentamento do problema da violência de gênero no contexto brasileiro. A pesquisa se desenvolve a partir de uma revisão bibliográfica e adota como marcos teóricos Michel Foucault e Judith Butler, críticos do discurso feminista universalizante que defende a criminalização da violência de gênero e o incremento do poder punitivo, tendências, estas, características de tempos conservadores. Inicialmente as Leis Maria da Penha e do Feminicídio são criticamente analisadas, de modo a demonstrar como o discurso jurídico-penal, legitimado por demandas feministas, não apenas representa e reconhece os sujeitos merecedores de proteção, mas produz as identidades que serão protegidas pelo Estado, impondo requisitos para que a mulher goze dessa proteção. Deste modo, verifica-se que o discurso criminalizador, impulsionado por discursos feministas hegemônicos conservadores, acaba por proteger exclusivamente a mulher, cis, heterossexual, paradoxalmente negando direitos às mulheres trans, lésbicas, por exemplo, que escapam aos padrões de gênero, desejo e sexualidade impostos pelo processo de heteronormalização. Por fim, para superar tal paradoxo, reflete-se, a partir do pensamento foucaultiano, sobre a possibilidade da concepção de um direito novo, construído a partir de uma perspectiva pós-identitária, apta a fomentar práticas de resistência às tecnologias heteronormalizadoras e excludentes.


Author(s):  
Gabriele Vieira Neves
Keyword(s):  
De Se ◽  

Os termos “identidade” e “cultura surda” têm sido largamente utilizados nos últimos anos para se referir às experiências de pessoas surdas ao redor do mundo. Isso decorre do esforço coletivo de pesquisadores dos chamados Estudos Surdos para deslocar a surdez dos discursos clínicos da deficiência e da anormalidade. Entretanto, acredita-se que seja necessário repensar os usos desses termos sob pena de se cair em um essencialismo e num binarismo que não transcende os processos individuais de identificação. Cada vez mais se faz se necessário pensar em políticas de “identidades surdas” interseccionalizadas, em que se considerem também aspectos como gênero, etnia, classe social, etc, os quais também constituem as relações pessoais, sociais e determinam as formas dos sujeitos interagirem entre si e com o mundo. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é compreender o entre-lugar da surdidade e da cultura surda na contemporaneidade. Utilizou-se como referencial teórico os estudos de autores como Paddy Ladd, Harlan Lane, Carlos Skliar, Zigmunt Bauman, Stuart Hall, Djamila Ribeiro e Judith Butler. Conclui-se que o conceito de surdidade, proposto por Paddy Ladd (2011) pode representar um avanço para um entendimento mais amplo das experiências de ser-surdo-no-mundo, sem enquadrar na categoria de deficiência auditiva toda a experiência de ser surdo.


2021 ◽  
Vol 39 (2) ◽  
pp. 364-387
Author(s):  
Judith Butler ◽  
Fernanda Miguens ◽  
Carla Rodrigues
Keyword(s):  

As reflexões anglófonas e teóricas sobre gênero muitas vezes assumem o caráter generalizante das suas próprias afirmações sem antes colocar a pergunta sobre se o “gender” existe como termo, ou se existe da mesma maneira em outras línguas. Parte da resistência à entrada do termo “gender” em contextos não anglófonos surge de uma resistência anterior ao inglês ou, de fato, apoiada na sintaxe de uma língua na qual as questões de gênero são resolvidas através de inflexões verbais ou de uma referência implícita. É claro que uma forma mais abrangente de resistência tem relação com os medos de que a categoria possa produzir, por si mesma, formas de liberdade sexual e desafios para as hierarquias existentes na língua para a qual está sendo traduzida. O ataque político e organizado ao gênero e aos estudos de gênero que está acontecendo no mundo todo tem muitas fontes, mas não é esse o foco desse ensaio. Este ensaio sustenta que não pode existir teoria de gênero sem tradução e que o monolinguismo anglófono muitas vezes assume que o inglês constitui uma base suficiente para as afirmações teóricas sobre gênero. Além disso, na medida em que o uso contemporâneo do termo “gender” vem de uma criação introduzida por sexólogos e, posteriormente, reapropriada pelas feministas, desde o início o termo esteve vinculado à inovação gramatical e aos desafios sintáticos. Sem um entendimento da tradução – com sua prática e seus limites – os estudos de gênero não podem existir num enquadramento global. Finalmente, o processo de se tornar de um gênero, ou de mudar de gênero, requer tradução para comunicar outros termos de reconhecimento das novas modalidades de gênero. Sendo assim, a tradução é parte constitutiva de qualquer teoria de gênero que busque ser multilíngue e aceite o caráter historicamente dinâmico das línguas. Esse enquadramento pode facilitar o caminho para o reconhecimento de diferentes gêneros, assim como de diferentes considerações sobre a identidade de gênero (essencialista, construtivista, processual, interativa, interseccional), que requerem tanto a tradução quanto uma definição de seus limites. Sem a tradução e a invenção histórica do termo “gender” não há como compreender a categoria dinâmica e mutável do gênero ou as resistências que ela hoje enfrenta.


2018 ◽  
Vol 10 (3) ◽  
Author(s):  
Ana claudia Lima MONTEIRO

Neste texto será discutido, a partir da perspectiva feminista de Donna Haraway, a proposta de se pensar a constituição da objetividade e do conhecimento científico sob o viés da localização. Tal perspectiva desenvolve uma proposta bastante interessante para pensar a relação entre o pessoal e o político. A partir deste enfoque, fazendo proliferar narrativas não identitárias acerca do que é “ser mulher”, pensamos o lugar do corpo. Posteriormente, traçamos um caminho para pensar a identidade de uma perspectiva não aprisionante, como “identidades fraturadas” nas quais não há nenhuma busca por totalização, mas, nos termos de Haraway, existe sempre proposta de coalisão. Neste ponto, o livro Problemas de Gênero de Judith Butler será trazido para pensar a relação que ela estabelece entre identidade, sexo e gênero. Por último, será retomada a relação entre as dimensões pessoal e política trazendo novamente a narrativa apresentada anteriormente sob o foco da distinção entre pertencimento e identidade proposta por Michel Serres.


Cadernos Pagu ◽  
2018 ◽  
Author(s):  
Pedro Paulo Gomes Pereira
Keyword(s):  

Resumo Este texto aborda a pressão que setores conservadores vêm exercendo contra as conquistas no campo de gênero e sexualidade e comenta sobre a violência das manifestações desses grupos. A partir de experiências em pesquisa, coloca em xeque a oposição entre religiosidade e formas alternativas de vivência de sexualidade e de gênero. Pensando na teoria de Judith Butler, indaga as possíveis brechas, as possibilidades de mediação e os limites de se pensar em categorias fixas. Assinala que talvez o caminho seja o de aproximação à multiplicidade dos agentes e suas formas inauditas de agência, e à criatividade de suas poéticas que associam à religião. E defende a necessidade de torcer o pensamento, inclusive torcer a própria teoria de Butler.


Virtuajus ◽  
2020 ◽  
Vol 5 (8) ◽  
pp. 381-397
Author(s):  
Rafael dos Reis Aguiar
Keyword(s):  

O presente trabalho tem como objeto de análise a hipótese de que as teorias queer, especialmente aquela proposta por Judith Butler, têm potencialidade de se instrumentalizarem como desobediência epistêmica em face de matriz colonial/moderna cis-heteronormativa, explicitando, denunciando e subvertendo a lógica binária da colonialidade de sexodissidências e de gênero face aos processos de violência encobridora moderna iniciada em 1492, continuada e institucionalizada após os processos de industrialização do século XVIII. O objetivo é apresentar o cerne das teorias queer e trabalhar as tensões com o pensamento radical de Walter Mignolo. Sustenta-se que a desobediência epistêmica aduz não a uma exclusividade na forma de analisar das relações de poder, saber e ser a partir do Sul Global, ignorando o pensamento do produzido no Norte. O que se propõe é em trazer a perspectiva de coexistência à pluralidade epistemológica a fim de desencobrir e reconhecer novos sujeitos e a eles novos direitos. Para tal, pretender-se-á analisar as tensões entre a corrente pós-estruturalista e o pensamento decolonial radical sem, contudo, pretender qualquer homogenização dos dissensos. Pretende-se finalizar as reflexões ressaltando a potencialidade das teorias queer para expor e subverter a epistemologia compulsoriamente heterossexual moderna/colonial na lógica de insurgência sustentada pela desobediência epistêmica no viés de coexistência e pluralismo epistemológico.      


2013 ◽  
Vol N° 85 (3) ◽  
pp. 177
Author(s):  
Hervé Castanet
Keyword(s):  

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