scholarly journals HUMANO DEMASIADO INUMANO: GÊNERO, DIREITOS HUMANOS E DISCURSOS EM DISPUTA

Author(s):  
Tuanny Soeiro Sousa
Keyword(s):  

O presente trabalho tem como intuito analisar a tensão existente entre a humanidade dos direitos humanos e os processos de produção diferenciada do humano aos quais dissidentes sexuais e de gênero são submetidos por performatizarem o gênero ou a sexualidade atravessando os enquadramentos normativos que organizam as condições necessárias para o reconhecimento. Para isso, nosso pressuposto teórico-metodológico assenta-se nas ideias desenvolvidas pela teoria do discurso de Judith Butler e Michel Foucault. O estudo divide-se em três seções: na primeira, examinamos as condições que possibilitaram a emergência do sujeito jurídico moderno dos direitos humanos; na segunda, analisamos como são engendradas as identidades sexuais e de gênero, relacionando esse processo com a fabricação da humanidade; por último, estudamos as possibilidades de novas articulações de humanidade no Direito. Concluímos que, apesar dos direitos humanos serem instrumentos de assujeitamento, os termos humanidade e direito estão sempre em disputa, existindo espaço para a luta por novas formas de se reconhecer o humano implicado nesses direitos e, portanto, os dissidentes sexuais e de gênero podem encontrar nesse terreno ambíguo um espaço de luta contra a vulnerabilidade e a opressão.

Author(s):  
Catarina de Cassia Moreira ◽  
Marcia Serra Ferreira
Keyword(s):  

O artigo investiga como as identidades dissidentes (Paul B. Preciado) tem sido subjetivadas nos (e pelos) currículos de Ciências e Biologia. No diálogo com Michel Foucault, Judith Butler e Thomas Popkewitz, analisa produções acadêmicas nos anais do ENEBIO (2016 e 2018), problematizando como os discursos acadêmicos participam dos processos de tornar-se sujeito, produzindo pesquisas e relatos que nos informam quem devemos ser em termos de gêneros e sexualidades e, simultaneamente, que conhecimentos devemos ensinar e aprender sobre essas temáticas. Em meio aos jogos de saber e poder, assume a produtividade de se pensar genealogias outras, assim como construir espaços-tempos para possibilitar discursivamente outros modos de ser e estar no mundo, que não só aquelas cisgêneras e heterossexuais.


2021 ◽  
Vol 18 (1) ◽  
pp. 1-23
Author(s):  
Clara Maria Roman Borges ◽  
Bruna Amanda Ascher Razera
Keyword(s):  

O artigo tem por objetivo analisar a possibilidade de se conceber o Direito Penal como aliado no enfrentamento do problema da violência de gênero no contexto brasileiro. A pesquisa se desenvolve a partir de uma revisão bibliográfica e adota como marcos teóricos Michel Foucault e Judith Butler, críticos do discurso feminista universalizante que defende a criminalização da violência de gênero e o incremento do poder punitivo, tendências, estas, características de tempos conservadores. Inicialmente as Leis Maria da Penha e do Feminicídio são criticamente analisadas, de modo a demonstrar como o discurso jurídico-penal, legitimado por demandas feministas, não apenas representa e reconhece os sujeitos merecedores de proteção, mas produz as identidades que serão protegidas pelo Estado, impondo requisitos para que a mulher goze dessa proteção. Deste modo, verifica-se que o discurso criminalizador, impulsionado por discursos feministas hegemônicos conservadores, acaba por proteger exclusivamente a mulher, cis, heterossexual, paradoxalmente negando direitos às mulheres trans, lésbicas, por exemplo, que escapam aos padrões de gênero, desejo e sexualidade impostos pelo processo de heteronormalização. Por fim, para superar tal paradoxo, reflete-se, a partir do pensamento foucaultiano, sobre a possibilidade da concepção de um direito novo, construído a partir de uma perspectiva pós-identitária, apta a fomentar práticas de resistência às tecnologias heteronormalizadoras e excludentes.


2011 ◽  
Vol 43 (2) ◽  
pp. 19-32 ◽  
Author(s):  
Sally Ann Ness

No critic of phenomenology, arguably, has been more influential in prefiguring recent discourses on power, gender, and sexuality that have emerged in dance studies in recent decades than the philosopher-historian-critic Michel Foucault. The number of dance scholars directly citing Foucault, and the number influenced indirectly by his ideas through intermediary theorists such as Judith Butler—perhaps the single most popular one—is so large as to require an essay of its own just to survey. Virtually every analysis of choreographic practice that has addressed these topics since the 1980s has drawn directly or indirectly on Foucault's theories. Indeed, the very mention of the term “discipline” in current dance scholarship (and many related fields as well) more or less automatically makes reference to Foucault's genealogical study of incarceration,Surveiller et punir. Naissance de la prison, translated into English asDiscipline and Punish: Birth of the Prison, and, in particular to the chapter, “Les corps dociles” or “Docile Bodies” (Foucault 1975, 137–171; 1975/1995, 135–170).


Question ◽  
2019 ◽  
Vol 1 (64) ◽  
Author(s):  
Cassiana Lopes Stephan

No presente ensaio, tentaremos entender em que medida a tradição filosófica galgada no princípio de igualdade, atrelado à noção de natureza humana, teria paulatinamente conduzido à justificação e, até mesmo, à fundamentação da desconsideração ético-política do animal e da animalidade. Mais precisamente, a partir de uma perspectiva que interpreta os estudos de Michel Foucault acerca do cuidado de si no período socrático-platônico, sob a luz [A] das análises de Jean-Pierre Vernant no que concerne às diferenças entre a Antiguidade arcaica e a clássica e [B] das reflexões de Judith Butler a propósito da violência moral, indicaremos de que modo a emergência filosófica do princípio de igualdade teria influenciado na estruturação de uma dinâmica moralista que violenta explícita ou implicitamente o animal e, com ele, todos e todas que se distinguem biológica ou eticamente das normas que descrevem o ser humano e que prescrevem a sua humanidade. O nosso artigo é constituído por quatro partes que marcam a temporalidade da questão animal e que manifestam sua urgência no presente histórico. Através da narração de possíveis articulações entre o presente e o passado, buscamos diagnosticar os limites antropocêntricos da filosofia ético-política e, ao mesmo tempo, vislumbrar relações não-antropocêntricas entre humanos e animais. 


Barbarói ◽  
2018 ◽  
Vol 2 (52) ◽  
pp. 22-47
Author(s):  
Rafaela Sousa Caldas ◽  
Tiago Cassoli
Keyword(s):  

Inicialmente destinada como saber auxiliar à prática da justiça, a psicologia jurídica estruturou-se no Brasil a partir do jogo de dupla qualificação médica e judiciária no qual a figura do criminoso passou a prevalecer sobre a apreciação do delito, movimento que uniu práticas disciplinares e jurídicas aos discursos médicos, psiquiátricos e psicológicos. O presente trabalho busca demarcar no percurso histórico de desenvolvimento da psicologia jurídica brasileira suas articulações junto a saberes como a psiquiatria e a criminologia ao longo de um projeto societário disciplinar e normalizador que refletiu no aumento das atividades diagnósticas e avaliativas, ainda hoje as principais atividades endereçadas aos psicólogos jurídicos. Na tentativa de promover reflexões e possibilitar novas análises sobre o tema, são problematizadas neste trabalho as relações entre saber-poder no processo de emergência e estruturação da Psicologia Jurídica no Brasil a partir de certas análises produzidas por Michel Foucault. Trata-se, principalmente, de uma tentativa de se valer de alguns dos elementos conceituais construídos pelo autor como dispositivos para uma análise crítica das relações entre práticas de conhecimento e práticas de poder assumidas pela psicologia jurídica brasileira, problematizando suas regulamentações sociais e urgências políticas enquanto saber e nova tecnologia de poder produzida na modernidade.


2017 ◽  
Vol 110 ◽  
pp. 95-106
Author(s):  
Adam Sulikowski

CONSTITUTIONALISM AND THE „REVENGE OF POSTMODERNISM”The main purpose of this article is to discuss the current situation of constitutional discourse as aresult of „Revenge of postmodernism”. This „Revenge” shows itself in taking over the methods of the leftist critique of democratic institutions by the radical right. This „Barbarization” of subtle methods of left-wing criticism leads to far-reaching consequences unforeseen by its founding fathers — Michel Foucault, Jacques Derrida or Judith Butler. The author, using various theories formulated by Chantal Mouffe, Ernesto Laclau and Artur Kozak, seeks to explain this phenomenon and to show its implications for the future evolution of the constitutional discourse.


2015 ◽  
Vol 27 (3) ◽  
pp. 264-271 ◽  
Author(s):  
Bruno Sena Martins

Resumo O conceito de deficiência tem sido profundamente contestado nas últimas décadas, tanto política como epistemologicamente. Por um lado, está em causa o reconhecimento de que a filiação de determinadas diferenças sob a noção de deficiência constitui uma recente “invenção” da modernidade ocidental. Por outro, trata-se de pulsar as consequências dessa construção para as pessoas marcadas pelo estigma da deficiência. Estabelecendo um diálogo com importantes contribuições da teoria crítica, recrutando noções como “páticas de separação” (Michel Foucault), “materialização” (Judith Butler), “corpo múltiplo” (Annemarie Mol) e “sociologia das ausências” (Boaventura de Santos), o presente artigo procura entender como a noção de deficiência pode ser desmobilizada por leituras insurgentes das hierarquias da modernidade.


Author(s):  
Alex Villas Boas ◽  
Jefferson Zeferino ◽  
Andreia Cristina Serrato

O campo de estudos em Teologia e Literatura está consolidado no contexto brasileiro. A proposta do grupo teopatodiceia visa situar este diálogo da teologia como pergunta pelo sentido de Deus na busca de sentido humana e oferta de uma racionalidade crítica a um sistema de crença tendo a literatura como interlocutora privilegiada, mas também outras formas de narrativas e expressões artísticas da condição humana. Nesse sentido, o elemento antropológico visa não somente o diálogo com a antropologia literária mas considera também, desde um projeto de arqueologia do saber teológico, a produção de subjetividades implicadas (pathos) nos saberes em diálogo e nos modelos epistemológicos que melhor favorecem a elaboração de uma teologia pública, plural e contrahegemônica a fim de discernir modos de se responsabilizar por uma agenda pública desde uma sensibilidade ética (diké) comum aos dilemas contemporâneos. A literatura ocupa um papel importante de heterologia no diálogo com a teologia. Como uma abordagem interdisciplinar, o projeto arqueológico se nutre dos percursos teóricos de autores como Antonio Manzatto, Paul Ricoeur, Michel Foucault, Michel de Certeau e David Tracy. Numa crítica à autorreferencialidade teológica, a via dialógica, interdisciplinar e intercultural da perspectiva teológica do grupo se aloca no conjunto das ciências humanas.


2020 ◽  
Vol 25 (1) ◽  
pp. 67-76
Author(s):  
Vanessa Ferreira Vieira ◽  
Eurídice Figueiredo

Este artigo tem a proposta de refletir de que maneira a representação de casais lésbicos na literatura contemporânea pode contribuir para desestabilizar o pensamento heterossexual que se sobressai em nossa sociedade. Serão analisados os contos Vó, a senhora é lésbica, Marília acorda e As tias, da obra Amora, de Natalia Polesso (2015). As três narrativas têm como personagens principais casais formados por duas mulheres, as quais vivem juntas há muitos anos e, por isso, podem ser analisadas como exemplo de relacionamento fora do padrão heteronormativo. Servirão de embasamento teórico ao estudo os textos de Monique Wittig (2017), sobre o pensamento straight, de Adrienne Rich (2010), a respeito da existência lésbica, e de Judith Butler (2016), no que tange à questão do feminismo na contemporaneidade. Embora as autoras não concordem em alguns aspectos dessa temática, todas apontam a necessidade de se discutir e se destacar o papel das mulheres lésbicas não apenas no campo literário, mas no mundo acadêmico e social.


Daímon ◽  
2017 ◽  
pp. 11
Author(s):  
Jean-François Braunstein

<p><span>Michel Foucault ha transformado nuestra visión del cuerpo. Así como Judith Butler, muchos han querido hallar en él la idea de que “los cuerpos son construidos”. La utopía queer o la extraña enfermedad mental de la amputomanía dan cuenta de dicha desmaterialización del cuerpo. Foucault soñaba efectivamente con un cuerpo “pompa de jabón”. Esta visión “neo-dualista”, muy bien descrita por Ian Hacking, puede llevar hasta un gnosticismo despectivo por la “carne” insignificante que es nuestro cuerpo. Pero para Foucault, en <em>El nacimiento de la clínica</em>, el cuerpo es también una “piedra negra”, opaca e impenetrable. Las reflexiones de Canguilhem o la pintura de Bacon nos permiten superar manifiestamente la brutal oposición entre un “cuerpo espiritual”, enteramente construido”, y un “cuerpo material”, simplemente dado.</span></p>


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