scholarly journals Em busca da Surdidade

Author(s):  
Gabriele Vieira Neves
Keyword(s):  
De Se ◽  

Os termos “identidade” e “cultura surda” têm sido largamente utilizados nos últimos anos para se referir às experiências de pessoas surdas ao redor do mundo. Isso decorre do esforço coletivo de pesquisadores dos chamados Estudos Surdos para deslocar a surdez dos discursos clínicos da deficiência e da anormalidade. Entretanto, acredita-se que seja necessário repensar os usos desses termos sob pena de se cair em um essencialismo e num binarismo que não transcende os processos individuais de identificação. Cada vez mais se faz se necessário pensar em políticas de “identidades surdas” interseccionalizadas, em que se considerem também aspectos como gênero, etnia, classe social, etc, os quais também constituem as relações pessoais, sociais e determinam as formas dos sujeitos interagirem entre si e com o mundo. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é compreender o entre-lugar da surdidade e da cultura surda na contemporaneidade. Utilizou-se como referencial teórico os estudos de autores como Paddy Ladd, Harlan Lane, Carlos Skliar, Zigmunt Bauman, Stuart Hall, Djamila Ribeiro e Judith Butler. Conclui-se que o conceito de surdidade, proposto por Paddy Ladd (2011) pode representar um avanço para um entendimento mais amplo das experiências de ser-surdo-no-mundo, sem enquadrar na categoria de deficiência auditiva toda a experiência de ser surdo.

2020 ◽  
Vol 25 (1) ◽  
pp. 67-76
Author(s):  
Vanessa Ferreira Vieira ◽  
Eurídice Figueiredo

Este artigo tem a proposta de refletir de que maneira a representação de casais lésbicos na literatura contemporânea pode contribuir para desestabilizar o pensamento heterossexual que se sobressai em nossa sociedade. Serão analisados os contos Vó, a senhora é lésbica, Marília acorda e As tias, da obra Amora, de Natalia Polesso (2015). As três narrativas têm como personagens principais casais formados por duas mulheres, as quais vivem juntas há muitos anos e, por isso, podem ser analisadas como exemplo de relacionamento fora do padrão heteronormativo. Servirão de embasamento teórico ao estudo os textos de Monique Wittig (2017), sobre o pensamento straight, de Adrienne Rich (2010), a respeito da existência lésbica, e de Judith Butler (2016), no que tange à questão do feminismo na contemporaneidade. Embora as autoras não concordem em alguns aspectos dessa temática, todas apontam a necessidade de se discutir e se destacar o papel das mulheres lésbicas não apenas no campo literário, mas no mundo acadêmico e social.


Author(s):  
Catarina de Cassia Moreira ◽  
Marcia Serra Ferreira
Keyword(s):  

O artigo investiga como as identidades dissidentes (Paul B. Preciado) tem sido subjetivadas nos (e pelos) currículos de Ciências e Biologia. No diálogo com Michel Foucault, Judith Butler e Thomas Popkewitz, analisa produções acadêmicas nos anais do ENEBIO (2016 e 2018), problematizando como os discursos acadêmicos participam dos processos de tornar-se sujeito, produzindo pesquisas e relatos que nos informam quem devemos ser em termos de gêneros e sexualidades e, simultaneamente, que conhecimentos devemos ensinar e aprender sobre essas temáticas. Em meio aos jogos de saber e poder, assume a produtividade de se pensar genealogias outras, assim como construir espaços-tempos para possibilitar discursivamente outros modos de ser e estar no mundo, que não só aquelas cisgêneras e heterossexuais.


Author(s):  
Maria Aparecida Luciano ◽  
Maria José Souza Barbosa ◽  
Walery Costa Reis ◽  
Farid Eid ◽  
Samuel Carvalho de Aragão

Resumo: O artigo apresenta uma discussão sobre o processo de construção da política municipal de cultura no município de Paragominas, estado do Pará, como estratégia de inclusão social de diferentes identidades. Trata-se de um debate necessário à reflexão sobre a implementação de ações de política pública que tem por princípio a participação democrática sob relação dialógica entre poder público e sociedade civil. Para se delinear esse debate percebeu-se a importância da escuta dos atores sociais: dança, audiovisual, multimídia, música, cultura popular, teatro, patrimônio material e imaterial, literatura, mídias contemporâneas, design, arte digital, artes visuais, arquitetura, respeitando-se a identidade cultural desses diversos atores, a fim de se valorizar a multiplicidade de manifestações que abrangem o patrimônio cultural existente no município. Objetivou-se com este artigo mostrar as diferentes dimensões da cultura enquanto reflexos da sociedade, sua dinâmica na construção das identidades dos diferentes grupos que constroem a sociedade paragominense em suas especificidades. Apoiou-se no debate teórico referenciado em Stuart Hall e Nestor Garcia Canclini, os quais possibilitaram a ampliação do conceito de cultura ao abordarem diferentes dimensões da vida social de um povo. Conclui-se com a perspectiva de abertura para uma concepção democrática da política cultural, enquanto necessária ao desenvolvimento socioeconômico e cultural. Palavras-chave: Política Pública. Cultura. Desenvolvimento Municipal.


Author(s):  
Tuanny Soeiro Sousa
Keyword(s):  

O presente trabalho tem como intuito analisar a tensão existente entre a humanidade dos direitos humanos e os processos de produção diferenciada do humano aos quais dissidentes sexuais e de gênero são submetidos por performatizarem o gênero ou a sexualidade atravessando os enquadramentos normativos que organizam as condições necessárias para o reconhecimento. Para isso, nosso pressuposto teórico-metodológico assenta-se nas ideias desenvolvidas pela teoria do discurso de Judith Butler e Michel Foucault. O estudo divide-se em três seções: na primeira, examinamos as condições que possibilitaram a emergência do sujeito jurídico moderno dos direitos humanos; na segunda, analisamos como são engendradas as identidades sexuais e de gênero, relacionando esse processo com a fabricação da humanidade; por último, estudamos as possibilidades de novas articulações de humanidade no Direito. Concluímos que, apesar dos direitos humanos serem instrumentos de assujeitamento, os termos humanidade e direito estão sempre em disputa, existindo espaço para a luta por novas formas de se reconhecer o humano implicado nesses direitos e, portanto, os dissidentes sexuais e de gênero podem encontrar nesse terreno ambíguo um espaço de luta contra a vulnerabilidade e a opressão.


2021 ◽  
Vol 41 (88) ◽  
pp. 205-228
Author(s):  
Rodrigo de Azevedo Weimer
Keyword(s):  

Resumo Este artigo discute, a partir de bibliografia pertinente, as formas como as questões raciais foram analisadas em algumas das principais referências da teoria queer e, em um segundo momento, mapeia as principais críticas feitas por autories LGBTQIA+ negres àquela vertente teórica. Percebe-se um movimento contraditório: por um lado, um esforço de autories como Judith Butler, dentre outres, de abraçar a discussão racial em seus trabalhos e, por outro, um sentimento de fracasso no acolhimento e na contemplação de pessoas negras pela teoria e política queer nos Estados Unidos. Outra peculiaridade do debate é que, inobstante a heterogeneidade da teoria queer, seus teóricos são criticados em bloco, sendo raramente examinados autores específicos com a devida minúcia. Discute-se a homonormatividade branca como um importante obstáculo para os diálogos e uma fonte de mal-entendidos. Refere-se, ainda, à tentativa de se estabelecer uma teoria quare alternativa.


2021 ◽  
Vol 18 (1) ◽  
pp. 1-23
Author(s):  
Clara Maria Roman Borges ◽  
Bruna Amanda Ascher Razera
Keyword(s):  

O artigo tem por objetivo analisar a possibilidade de se conceber o Direito Penal como aliado no enfrentamento do problema da violência de gênero no contexto brasileiro. A pesquisa se desenvolve a partir de uma revisão bibliográfica e adota como marcos teóricos Michel Foucault e Judith Butler, críticos do discurso feminista universalizante que defende a criminalização da violência de gênero e o incremento do poder punitivo, tendências, estas, características de tempos conservadores. Inicialmente as Leis Maria da Penha e do Feminicídio são criticamente analisadas, de modo a demonstrar como o discurso jurídico-penal, legitimado por demandas feministas, não apenas representa e reconhece os sujeitos merecedores de proteção, mas produz as identidades que serão protegidas pelo Estado, impondo requisitos para que a mulher goze dessa proteção. Deste modo, verifica-se que o discurso criminalizador, impulsionado por discursos feministas hegemônicos conservadores, acaba por proteger exclusivamente a mulher, cis, heterossexual, paradoxalmente negando direitos às mulheres trans, lésbicas, por exemplo, que escapam aos padrões de gênero, desejo e sexualidade impostos pelo processo de heteronormalização. Por fim, para superar tal paradoxo, reflete-se, a partir do pensamento foucaultiano, sobre a possibilidade da concepção de um direito novo, construído a partir de uma perspectiva pós-identitária, apta a fomentar práticas de resistência às tecnologias heteronormalizadoras e excludentes.


2021 ◽  
Vol 13 (33) ◽  
pp. e0210
Author(s):  
Cláudia Cristina da Silva Fontineles

O presente texto discute em que medida os meios de representação produzidos pelo e sobre o governo de Alberto Silva, em sua primeira gestão como governador do estado do Piauí (1971-1975), contribuíram para difundir a crença sobre este governo ser o principal responsável pela construção da autoestima piauiense, e por conseguinte, pela formação da identidade piauiense. O texto visa a discutir como esses discursos repercutiram na memória e na história da comunidade local a ponto de se irradiarem até entre os adversários políticos do referido administrador. Defendemos que esse projeto de construção de um ideal otimista não estava restrito ao Piauí, e que tampouco ocorreu de forma isolada e inusitada, como fruto da decisão de um só homem, pois estava articulado à configuração histórica vigente no país. Para tanto, recorremos aos conceitos de identidade – a partir das contribuições formuladas por Stuart Hall e por Zygmunt Bauman; memória – a partir dos estudos realizados por Paul Ricœur e por Michel de Certeau –; e de representação, nas discussões de Roger Chartier. A partir da crítica documental e da metodologia da História Oral, analisamos os documentos oficiais, matérias jornalísticas publicadas em veículos midiáticos impressos de circulação nacional e em televisivos locais, que abordaram esse tema, durante e após o término de seu governo, além de relatos do próprio governador, de seus aliados e de seus adversários políticos, visando a entender como essas construções discursivas influenciaram a história e a memória piauiense. Palavras-chave: História; política; identidade; memória.


2021 ◽  
Vol 39 (2) ◽  
pp. 364-387
Author(s):  
Judith Butler ◽  
Fernanda Miguens ◽  
Carla Rodrigues
Keyword(s):  

As reflexões anglófonas e teóricas sobre gênero muitas vezes assumem o caráter generalizante das suas próprias afirmações sem antes colocar a pergunta sobre se o “gender” existe como termo, ou se existe da mesma maneira em outras línguas. Parte da resistência à entrada do termo “gender” em contextos não anglófonos surge de uma resistência anterior ao inglês ou, de fato, apoiada na sintaxe de uma língua na qual as questões de gênero são resolvidas através de inflexões verbais ou de uma referência implícita. É claro que uma forma mais abrangente de resistência tem relação com os medos de que a categoria possa produzir, por si mesma, formas de liberdade sexual e desafios para as hierarquias existentes na língua para a qual está sendo traduzida. O ataque político e organizado ao gênero e aos estudos de gênero que está acontecendo no mundo todo tem muitas fontes, mas não é esse o foco desse ensaio. Este ensaio sustenta que não pode existir teoria de gênero sem tradução e que o monolinguismo anglófono muitas vezes assume que o inglês constitui uma base suficiente para as afirmações teóricas sobre gênero. Além disso, na medida em que o uso contemporâneo do termo “gender” vem de uma criação introduzida por sexólogos e, posteriormente, reapropriada pelas feministas, desde o início o termo esteve vinculado à inovação gramatical e aos desafios sintáticos. Sem um entendimento da tradução – com sua prática e seus limites – os estudos de gênero não podem existir num enquadramento global. Finalmente, o processo de se tornar de um gênero, ou de mudar de gênero, requer tradução para comunicar outros termos de reconhecimento das novas modalidades de gênero. Sendo assim, a tradução é parte constitutiva de qualquer teoria de gênero que busque ser multilíngue e aceite o caráter historicamente dinâmico das línguas. Esse enquadramento pode facilitar o caminho para o reconhecimento de diferentes gêneros, assim como de diferentes considerações sobre a identidade de gênero (essencialista, construtivista, processual, interativa, interseccional), que requerem tanto a tradução quanto uma definição de seus limites. Sem a tradução e a invenção histórica do termo “gender” não há como compreender a categoria dinâmica e mutável do gênero ou as resistências que ela hoje enfrenta.


2018 ◽  
Vol 10 (3) ◽  
Author(s):  
Ana claudia Lima MONTEIRO

Neste texto será discutido, a partir da perspectiva feminista de Donna Haraway, a proposta de se pensar a constituição da objetividade e do conhecimento científico sob o viés da localização. Tal perspectiva desenvolve uma proposta bastante interessante para pensar a relação entre o pessoal e o político. A partir deste enfoque, fazendo proliferar narrativas não identitárias acerca do que é “ser mulher”, pensamos o lugar do corpo. Posteriormente, traçamos um caminho para pensar a identidade de uma perspectiva não aprisionante, como “identidades fraturadas” nas quais não há nenhuma busca por totalização, mas, nos termos de Haraway, existe sempre proposta de coalisão. Neste ponto, o livro Problemas de Gênero de Judith Butler será trazido para pensar a relação que ela estabelece entre identidade, sexo e gênero. Por último, será retomada a relação entre as dimensões pessoal e política trazendo novamente a narrativa apresentada anteriormente sob o foco da distinção entre pertencimento e identidade proposta por Michel Serres.


Navegações ◽  
2021 ◽  
Vol 14 (1) ◽  
pp. e37603
Author(s):  
Mariane Pereira Rocha ◽  
Ariane Avila Neto De Farias ◽  
Ânderson Martins Pereira

Essa pesquisa visa entender o conceito de nação na poesia de Carlos Drummond de Andrade, principalmente na década de 1930, quando o poeta era fortemente influenciado pelo movimento modernista — conhecido pela sua valorização àquilo que era nacional. Para isso, analisamos os poemas: “Também já fui brasileiro” e “Europa, França e Bahia” de Alguma poesia (1930), a partir das questões sobre nação e nacionalismo levantadas por Benedict Anderson (2008). Além disso, em um segundo nível de análise, buscar-se-á entender a relação que o poeta determina entre o global e o local, considerando as reflexões estabelecidas por Stuart Hall (2014). Para tanto, selecionamos os poemas “Cidadezinha qualquer”, também de Alguma poesia (1930), e “Confidência do Itabirano” de Sentimento do mundo (1940). A partir destas análises, evidenciam-se algumas contradições no eu-lírico drummondiano que, frequentemente, parece não ser capaz de se identificar nem com seu país, nem com os demais lugares; refletindo sempre um desencontro com seu tempo, característica que conforme lembramos, é uma das marcas da poesia do poeta mineiro.


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