Reflexões em torno da ‘peste da insônia’, em Cem anos de solidão
O artigo propõe uma leitura crítica de episódio presente no início do romance Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez. A passagem gira em torno dos sucessos decorrentes da ‘peste da insônia’, que contamina os habitantes de Macondo e se difunde pela cidade, causando a perda das memórias. Além de situar essa passagem dentro da dinâmica geral da obra, discutimos alguns sentidos possíveis para as estratégias que os personagens desenvolvem diante da iminente deterioração das recordações. Com base nas contribuições teóricas de Adorno e Horkheimer (1985), Benjamin (1996) e Gagnebin (2014), concluímos que o enfrentamento da crise da insônia pode ser interpretado como superação da ‘pré-história’ de Macondo e que as estratégias empreendidas no romance podem iluminar o debate sobre as políticas da memória (e do esquecimento) na América Latina contemporânea.