scholarly journals Enquadramentos, cenas dissensuais e o aparecer antierárquico: ação política e resistência em Judith Butler e Jacques Rancière

2021 ◽  
Vol 18 (53) ◽  
Author(s):  
Ângela Cristina Salgueiro Marques ◽  
Lucas Henrique Nigri Veloso ◽  
Marco Aurélio Máximo Prado

O artigo apresenta uma possível articulação entre as abordagens de Jacques Rancière e Judith Butler acerca dos modos de aparecimento político de sujeitos vulneráveis em espaços enunciativos de dissenso e demanda por reconhecimento. Argumentamos que, ainda que por caminhos reflexivos distintos, ambos valorizam as resistências que desestabilizam e questionam as ordens hierárquicas as quais definem regimes normativos reguladores das visibilidades e legibilidades que autorizam e validam as experiências dos sujeitos e suas formas de vida. Aparecer é, ao mesmo tempo, a reconfiguração do sensível e a construção de novos quadros de sentido que permitem novas coordenadas de expressão e reconhecimento das vidas precárias. Isso envolve não só a consideração das vulnerabilidades dos corpos em ação, mas também as fabulações e imaginários que redesenham trajetórias sociohistóricas de sobrevivências e lutas por justiça.

2018 ◽  
Vol 13 (20) ◽  
Author(s):  
Diego Lock Farina

Publicada originalmente na coleção “La philosophie en effet”, da prestigiada editora Galilée, na França em 2015, com o título Demande. Philosophie, littérature, a coletânea de textos de Jean-Luc Nancy, inédita enquanto tal e organizada por Ginette Michaud, professora da Universidade de Montreal, chega ao Brasil devido à iniciativa em parceria entre a editora da UFSC e a editora Argos, da Unochapecó. Nancy (1940-), professor emérito da Universidade de Estrasburgo, é certamente um dos filósofos mais conceituados no universo acadêmico atual, ao lado de Alain Badiou, Hélène Cixous, Judith Butler, Giorgio Agamben e Jacques Rancière. Seu destaque se dá sobretudo em função das contribuições acerca do político e da democracia, da obra em conjunto com Philippe Lacoue-Labarthe, de seus escritos sobre Jacques Derrida e da preocupação constante em relacionar a arte de maneira geral com o pensamento filosófico. Sua produção, entretanto, é ainda pouquíssimo traduzida no Brasil. Na tarefa de suprir essa falta, Demanda: Literatura e Filosofia (365 p.) reúne textos de 1977 a 2015, disponíveis até então somente em periódicos ou resultantes de conferências e entrevistas, dando mostras da trajetória do autor no que concerne o debate entre o aproveitamento da literatura e do modo singular (a singularidade para Nancy é sempre uma singularidade plural) com que ela convoca a filosofia para um pensamento conjunto, crítico e afectante a respeito da vida, da atividade política e dos sentidos nas suas concepções mais amplas.


2020 ◽  
Author(s):  
Anna Hollendung

To what extent can political theories adequately address the dangers that may accompany the political? This monograph is less concerned with the emancipative potential of the political, but rather with its downsides. Drawing on the concept of precarity, as defined in sociology and the May Day movement, it calls into question the ideas of sovereignty and autonomy using the theories of Judith Butler. The book systematises the controversy on what ‘the political’ is. Subsequently, it defines ‘political precarity’ in accordance with the ideas of Hannah Arendt, Jacques Rancière and Alain Badiou. These theories are complementary and conflicting in several respects and they mutually point out each other’s weaknesses. However, Hollendung identifies an innovative understanding of the precarious by intertwining these ideas.


2018 ◽  
pp. 41-54 ◽  
Author(s):  
Angela Cristina Salgueiro Marques ◽  
Ricardo Fabrino Mendonça

Resumo Este artigo busca pensar a política a partir de processos de constituição de sujeitos, em uma sistematização que abrange dimensões éticas, estéticas, comunicacionais e políticas dos modos de agência dos indivíduos. Interessa-nos contestar concepções que entendem o sujeito como constituído anteriormente à luta política ou como irrelevante para a compreensão dessa luta. Na abordagem aqui delineada, a política (assim como suas descontinuidades e rupturas) emerge no próprio processo de desconstrução/deslocamento de sujeitos. Para fazer tal discussão, o texto relê, criticamente, quatro propostas distintas no âmbito da teoria política contemporânea em sua interface com a comunicação: (1) as discussões de Laclau e Mouffe sobre o conceito de articulação; (2) os debates sobre desidentificação e subjetivação em Jacques Rancière; (3) a discussão de Judith Butler sobre sujeito; e (4) a crítica de Patchen Markell à teoria do reconhecimento a partir da defesa da precedência da ação sobre as identidades. Na sequência, a ideia fundamental a atravessar esses autores e autoras será mobilizada em uma breve ilustração de seu potencial heurístico para a leitura de fenômenos empíricos. Abordaremos como essa atenção à desconstrução de sujeitos políticos joga luzes importantes sobre protestos multitudinários contemporâneos.


2020 ◽  
Vol 26 (40) ◽  
pp. 77-91
Author(s):  
Pedro Caetano Eboli Nogueira

O ensaio analisa a ação performática Estação Adílio, realizada por Elilson em 2016. Tratou-se de uma homenagem a Adílio Cabral, vendedor ambulante atropelado por três trens na Estação Madureira, Rio de Janeiro, em julho de 2015. Para compreender os vínculos políticos do trabalho, partimos dos subsídios teóricos de Jacques Rancière, em cruzamento com o pensamento de Judith Butler. Nos baseamos em Maurice Halbwachs e Walter Benjamin para explicitar o modo como a performance mobiliza uma escuta da memória no próprio território. Compreendemos que a performance reorganiza a cartografia de visibilidades e invisibilidades que coaduna a produção coletiva da memória.Palavras-chave: Políticas da memória; Arte e política; Memória coletiva; Performance; Distribuição desigual do luto.AbstractThis essay analyzes Estação Adílio, performed by Elilson in 2016. It was a tribute to Adílio Cabral, a street vendor run over by three trains at Estação Madureira, Rio de Janeiro, in July 2015. To understand the politics underlying the artwork, we start from the theoretical subsidies of Jacques Rancière, along with the thought of Judith Butler. Based on Maurice Halbwachs and Walter Benjamin, we explain how the performance mobilizes a listening based on territory’s memory. We understand the performance reorganizes the cartography of visibilities and invisibilities that follows the collective production of memory.Keywords: Politics of memory; Art and politics; Collective memory; Performance; Differential distribution of grief.


Author(s):  
Pedro Caetano Eboli Nogueira

O presente artigo analisa as ações anti-racismo “Monumento Horizontal” (2004), intervenção urbana realizada na cidade de São Paulo, e “Bandeiras” (2005), série de bandeiras abertas em diversas partidas de futebol. Ambas foram realizadas pelo coletivo Frente Três de Fevereiro, grupo paulistano de arte e ativismo surgido com o intuito de combater o racismo estrutural. Partindo de entrevistas realizadas com o grupo, procuramos compreender o “caráter poético” atribuído ao ativismo do coletivo, sublinhando de que modo ele emerge a contrapelo de concepções políticas baseadas na comunicação. Para tal, mobilizamos os subsídios teóricos de Jacques Rancière, amparados por autores como Jean-Luc Nancy, Silvio Almeida e Judith Butler. Assim, tomamos a “poética” como via de acesso para compreender, no âmbito das estratégias políticas do coletivo, o entrelaçamento entre a noção de dissenso e a ideia de acontecimento, tal como pensada por Jacques Rancière e Michel Foucault. Por fim, justapomos as expectativas de eficácia política, subjacentes às ações do coletivo, àquilo que Jacques Rancière chamou de “modelos de eficácia da arte” em seu regime estético.


2020 ◽  
Vol 23 (46) ◽  
pp. 51-73
Author(s):  
Liliane Souza dos Anjos

Como ato de fala prototípico na tradição performativa, a promessa é analisada em diferentes estudos que promoveram leituras a respeito do legado de John L. Austin, como nos esforços de sistematização formal, em John Searle, ou mesmo a partir da dimensão do corpo, em Shoshana Felman. Este artigo revisita esse ato de fala em uma análise que busca explorar, com Jacques Derrida, a sua dimensão iterável, ao passo que reflete sobre a relação insustentável da promessa com o corpo e sobre sua subversão em relação ao político. Para isso, traz ao debate os trabalhos de Judith Butler e Joana Pinto, bem como a noção política de Jacques Rancière, em um diálogo que faz ver outros potenciais, falhas e infelicidades da promessa.


2020 ◽  
Vol 33 (1) ◽  
Author(s):  
Carl Anders Säfström

This paper will explore a Sophist tradition of educational thought, which is concerned with the world and not a sphere of ideas as distinct from the world, and to suggest some central distinctions and concepts following from such tradition today. The distinctions which are discussed are between; upbringing, schooling and education; aristocratic versus democratic principle of education; aristocratic versus democratic conception of nature; and, culture as static versus culture as praxis. Equality is highlighted in the paper as a central concept for democracy as well as education and are discussed through Jacques Rancière. The distinctions established will also make clear what is at stake if we consider educational thought as conditional for democracy and a liveable life for anyone. The contrast between the aristocratic principle and the democratic principle for education will centre on conceptions of violence and nonviolence, in accordance with Judith Butler and Franco “Bifo” Berardi’s analyses. In a final paragraph the paper discusses how equality play out in relation to teaching, and the discussion is extended by exploring Judith Butler’s conception of ‘grievability’. The paper concludes by suggesting that education is the ethical-political potentiality of a new beginning within the present order of things, and therefore the very praxis of change of this order, and therefore what makes paideia possible in the first place.


Novos Olhares ◽  
2016 ◽  
Vol 5 (2) ◽  
pp. 7
Author(s):  
Angela Cristina Salgueiro Marques ◽  
Ana Luisa Mayrink

Este artigo visa discutir parte de uma pesquisa realizada para compreender a relação entre a aparência de mulheres trans e seu respectivo potencial político. A partir dos conceitos de subjetivação, estética e política de Jacques Rancière, e da teoria de gênero proposta por Judith Butler, a pesquisa busca, através da realização de entrevistas semiestruturadas, descobrir como essas mulheres valem-se de recursos da ordem do visível para performar gênero e, ao mesmo tempo, dão a ver questões de sua exclusão sistemática dos espaços de discurso presentes na sociedade. O esforço empreendido foi no sentido de tentar entender como mulheres trans, particularmente as aqui entrevistadas, através da maquiagem, das roupas, do cuidado com os cabelos e de tantos outros artifícios que fazem parte da aparência visível, se apropriam criativamente de seus corpos, elaboram uma linguagem própria e inventam uma forma de vida cuja potência está no ato de aparecer, na construção de uma cena enunciativa argumentativa e performática animada pelo dissenso.


Zama ◽  
2020 ◽  
Vol 12 (12) ◽  
pp. 9-20
Author(s):  
Patricio Fontana

Las circunstancias de la escritura y la publicación de Recuerdos de provincia, en diciembre de 1850, son más o menos conocidas. Sin embargo, el paso del tiempo ha tendido a hacer olvidar o a diluir el riesgo que implicó para Sarmiento escribir y publicar su autobiografía. En este artículo, a partir de diferentes abordajes teóricos del género autobiográfico (entre otros los de Judith Butler o Jean Starobinski), se analiza dónde radicaba específicamente el riesgo que corrió Sarmiento al escribir y publicar su autobiografía. En igual sentido, a partir de ciertas afirmaciones de Lionel Gossman sobre las Confesiones de Rousseau, se propone además que ese riesgo implicaba, muy especialmente, la puesta en crisis de lo que en ese momento se consideraba con derecho a ser escrito y publicado y qué no. Una hipótesis central, entonces, es que Recuerdos de provincia buscó, acaso impensadamente, romper con lo que se consideraba como escribible y publicable. Finalmente, en relación estrecha con lo anterior, y a propósito de ciertas ideas de Jacques Rancière sobre el “régimen estético”, se elucubra sobre la posibilidad de que estas características del texto se vinculen con la presencia en él de lo novelesco, y se propone pensar Recuerdos de provincia como una entonación de la Bildungsroman, género central de la novela en el siglo XIX.


Sign in / Sign up

Export Citation Format

Share Document