scholarly journals Sobre o Método: Continuidade e descontinuidade entre as genealogias de Giorgio Agamben e Michel Foucault [About the Method: Continuity and discontinuity between the genealogies of Giorgio Agamben and Michel Foucault]

Kalagatos ◽  
2017 ◽  
Vol 14 (2) ◽  
pp. 59
Author(s):  
Joel Decothé Junior

A proposta deste artigo é a de se aproximar da questão que envolve a noção de método, nas propostas genealógicas das filosofias de Giorgio Agamben e Michel Foucault. Para tanto, propomos um itinerário epistemológico que percorre os pontos que julgamos ser nucleares, no que tange ao problema da continuidade e descontinuidade presente na dinâmica relacional, em termos de influência, que o filósofo francês tem exercido sobre o pensamento em curso do filósofo italiano. Tudo isso acaba sendo considerado, fundamentalmente, desde a perspectiva de suas reconstruções genealógicas do poder. O ponto nodal, conforme a nossa leitura, está posto substancialmente na questão da genealogia teológica da economia e do governo no que diz respeito ao pensamento de Agamben. No caso de Foucault, é na questão do biopoder que se mostra o ponto nuclear de nossa leitura. Em razão disto, matizamos o texto em três momentos centrais e que são respectivamente descritos: (i) da premissa investigativa genealógica de Agamben rumo à genealogia de Foucault; (ii) da genealogia de Foucault para releitura genealógica de Agamben; (iii) sobre o método em Agamben: as assinaturas como signos ocultos de uma realidade operativa. Por fim, fechamos o texto considerando que tanto em Agamben como em Foucault a questão do método de investigação filosófica, é de fundamental importância para que possamos compreender a construção de ambas as genealogias filosoficamente. O destaque fica posto no fato de que Agamben é um herdeiro intelectual confesso da senda aberta por Foucault, no que tange as investigações empreendidas ao logo de sua vida intelectual, no que diz respeito à questão das relações de poder que tem como objeto central de seu trabalho filosófico a categoria axiomática de vida. 

2011 ◽  
Vol 4 (1) ◽  
pp. 93-106
Author(s):  
Gustavo Racy

Segundo Michel Foucault, o sexo é um grande produtor de verdade e falsidade. No Oriente, essa verdade se dá no sexo por meio de arte. No Ocidente, ele vem sendo usado como uma ciência, oposta, pela confissão católica, aos segredos e iniciações da arte erótica oriental. No entanto, há possibilidade de se instaurar essa ciência como um discurso poderoso de busca pela verdade. No caso do sexo, de busca pela verdade do prazer. Giorgio Agamben dá seguimento a essa possibilidade, aliando a Foucault o pensamento de Walter Benjamin, traçando a tarefa política das gerações vindouras como a tarefa de profanar o improfanável, de restituir à vida humana aquilo que nos foi destituído: a possibilidade de busca pelas verdades veladas pelos discursos repressores produtores de verdades e mentiras.


2016 ◽  
Vol 3 (2) ◽  
Author(s):  
Carmen Lúcia Capra ◽  
Daniel Bruno Momoli ◽  
Luciana Gruppelli Loponte

Este artigo pretende problematizar a relação entre as artes visuais e a educação básica, levando em conta a emergência de novos modos de habitar a escola, como os surgidos a partir de ocupações em escolas públicas por estudantes no Brasil desde o ano de 2015. Acredita-se que tanto a arte quanto a educação, compreendidas como campos expandidos e abertos de pensamento, podem aprender mutuamente outros modos de enfrentar as urgências de nosso tempo em relação à educação básica em território brasileiro, com atenção especial às artes visuais nesse contexto. Para a discussão proposta, tomamos como interlocutores teóricos filósofos como Michel Foucault, Giorgio Agamben e Jaques Rancière, entre outros, interrogando sobre a arte que se tem levado para a escola e sobre a experiência com as artes visuais que lá se tem desenvolvido. Entendemos que a escola de hoje exige modos de agir e de se conduzir as artes visuais que atendam ao que se passa no presente da existência comum e partilhada entre os seus habitantes.


2018 ◽  
Vol 13 (1) ◽  
Author(s):  
Jefferson Aparecido Dias ◽  
Rubia Cristina Sorrilha

<p>O presente estudo tem por escopo a análise e reflexão da temática de poder apresentada pelo filósofo Paul-Michel Foucault mormente das ideias de anátomo-política do corpo e biopolítica da espécie, as quais perfazem os mecanismos de poder postos em prática pelo Estado moderno que visa à constituição e controle dos indivíduos e da própria população. O material genético humano perfaz elemento do corpo e pode revelar aspectos da intimidade, da capacidade<br />e características dos indivíduos, por isso, atualmente, é tão importante. As pesquisas genéticas e genômicas visam antever, aferir e gerir riscos tanto aos indivíduos isoladamente, como a certos grupos. Elas possibilitam, também, o melhoramento da saúde das populações e, por conseguinte, a minimização dos<br />riscos tanto ao Estado, como aos empregadores e aos seguros. Assim, como a riqueza de uma nação está atrelada diretamente à capacidade de governança da população e ao investimento no capital humano, cada vez mais as iniciativas públicas e privadas têm se interessado pelo controle efetivo e contínuo sobre a vida e o modo de existência dos indivíduos. Visando avaliar a relação existente entre a biopolítica e as técnicas de melhoramento genético existentes na sociedade biotecnológica, necessário se faz um estudo a respeito da temática de poder apresentada por Michel Foucault, de biopolítica na visão do filósofo Giorgio Agamben e dos riscos e benefícios do emprego dessas tecnologias na busca de se auferir o papel da ciência e da tecnologia na sociedade contemporânea. Empregam-se o método dedutivo, pesquisa bibliográfica e legislativa.</p>


2019 ◽  
Vol 2 (35) ◽  
pp. 232-249
Author(s):  
Tiago Brentam Perencini

A natureza não deixa nada sem assinar. Parece haver, no gesto da emissão de sinais, um propósito ético que pouco pode ser compreendido à luz das ciências humanas. Pensando diferente do registro científico, o objetivo geral deste artigo será descrever o jogo de penumbra pela qual a arqueologia de Michel Foucault aproxima-se do paradigma da magia. A magia é uma prática espiritual consigo, com o outro e com o mundo, que não se pode reduzir à representação e à significação. A hipótese que levanto busca averiguar em que medida o paradigma da magia é presente nos escritos arqueológicos de Michel Foucault, ainda que o pensador francês pouco se refira diretamente a ele, tarefa que implica uma escavação sobre os rastros deixados nas entrelinhas de seu pensamento, como fez seu contemporâneo Giorgio Agamben. Para tanto, enfocarei a ressonância existente entre os conceitos de (a) enunciado e assinatura e (b) a priori histórico e mana. Sabemos que enunciado e a priori histórico são dois operadores centrais ao pensamento arqueológico. Minha tarefa será mostrar que eles são íntimos à assinatura e à mana, ambas noções provenientes do campo da magia. Não será difícil percebermos que a arqueologia bebe no paradigma da magia ao ponto de se embriagar, o que permite pensar com saberes e práticas que foram eclipsados desde o pensamento secularizado e o iluminismo. Dessa maneira, a Arqueologia se inscreve como um ethos ainda a ser desvendado, espécie de anticiência das assinaturas.  


Author(s):  
Vanessa Lemm

Readers of Giorgio Agamben would agree that the German philosopher Friedrich Nietzsche (1844–1900) is not one of his primary interlocutors. As such, Agamben’s engagement with Nietzsche is different from the French reception of Nietzsche’s philosophy in Michel Foucault, Gilles Deleuze and Georges Bataille, as well as in his contemporary Italian colleague Roberto Esposito, for whom Nietzsche’s philosophy is a key point of reference in their thinking of politics beyond sovereignty. Agamben’s stance towards the thought of Nietzsche may seem ambiguous to some readers, in particular with regard to his shifting position on Nietzsche’s much-debated vision of the eternal recurrence of the same.


Perspectivas ◽  
2019 ◽  
Vol 3 (1) ◽  
pp. 3-21
Author(s):  
Daniel Arruda Nascimento ◽  
Carolina Bittencourt de Oliveira
Keyword(s):  

Em um ambiente onde as razões de segurança roubaram o lugar da razão de Estado, uma vez que não se questiona mais se é o Estado necessário ou não, e não está mais em jogo se o Estado pode lançar mão de todas as suas potencialidades para conservar a sua própria existência, estabelecemos as considerações que se seguem. Como sublinha o filósofo italiano Giorgio Agamben, nossa principal referência teórica no presente artigo, estamos diante de um processo em curso que faz as democracias ocidentais se desenvolverem no sentido de algo que se deve, desde já, chamar de Estado de Segurança, com o avultamento de três aspectos bem reconhecíveis: a produção e manutenção de um clima generalizado de medo, a despolitização dos cidadãos por todos os meios possíveis, a liquefação da certeza e da efetividade da lei, ou melhor, a orientação consciente para um estado de relativização ou indeterminação jurídica. Temperado no horizonte biopolítico, com dispositivos de captura disseminados lá onde nem conseguimos mais distinguir com nitidez, o Estado Securitário fará da segurança e da necessidade de se garanti-la o seu embaixador maior, produzindo, contudo, contraditoriamente, sempre mais insegurança. Gostaríamos de, nas linhas que se seguem, explorar particularmente o último aspecto do denominado Estado Securitário, qual seja, a orientação consciente para um estado de relativização ou indeterminação jurídica, situando-o na realidade jurisprudencial brasileira, sob o recorte ilustrativo de algumas decisões do Supremo Tribunal Federal. Em outras palavras, busca-se analisar de que modo o argumento da segurança é mobilizado pela instituição para fundamentar as suas decisões.


2016 ◽  
Vol 28 (1) ◽  
pp. 171-180 ◽  
Author(s):  
Marcele de Freitas Emerim ◽  
Mériti de Souza

Resumo O considerado inimputável é absolvido por não entender o caráter ilícito de seu ato, embora, por medida de segurança, seja internado compulsoriamente em um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico (HCTP): uma instituição pertencente ao sistema penitenciário. Cria-se assim a ambígua figura dolouco infrator - ora criminoso, ora doente mental - que raramente vimos contemplada em discussões e ações nas áreas da saúde e do direito. Ainda menos acolhido será aquele que atentar contra a vida de seus genitores: o chamado parricida. A partir dos aportes teóricos de Michel Foucault, Giorgio Agamben e Jacques Derrida, este trabalho discute discursos e práticas que se debruçam tanto sobre a questão da loucura, da infração e do parricídio quanto sobre a instituição do HCTP como modalidade de contenção e encaminhamento para os inimputáveis; assim como serão apresentadas discussões a partir das falas de pessoas classificadas como loucas, infratoras, parricidas - internadas em um HCTP.


Author(s):  
Nicolai Von Eggers ◽  
Mathias Hein Jessen

Michel Foucault developed his now (in)famous neologism governmentality in the first of the two lectures he devoted to ’a history of governmentality, Security, Territory, Population (1977-78) and The Birth of Biopolitics (1978-79). Foucault developed this notion in order to do a historical investigation of ‘the state’ or ‘the political’ which did not assume the entity of the state but treated it as a way of governing, a way of thinking about governing. Recently, the Italian philosopher Giorgio Agamben has taken up Foucault’s notion of governmentality in his writing of a history of power in the West, most notably in The Kingdom and the Glory. It is with inspiration from Agamben’s recent use of Foucault that Foucault’s approach to writing the history of the state (as a history of governmental practices and the reflection hereof) is revisited. Foucault (and Agamben) thus offer another way of writing the history of the state and of the political, which focuses on different texts and on reading more familiar texts in a new light, thereby offering a new and notably different view on the emergence of the modern state and politics.


Barbarói ◽  
2018 ◽  
Vol 2 (52) ◽  
pp. 22-47
Author(s):  
Rafaela Sousa Caldas ◽  
Tiago Cassoli
Keyword(s):  

Inicialmente destinada como saber auxiliar à prática da justiça, a psicologia jurídica estruturou-se no Brasil a partir do jogo de dupla qualificação médica e judiciária no qual a figura do criminoso passou a prevalecer sobre a apreciação do delito, movimento que uniu práticas disciplinares e jurídicas aos discursos médicos, psiquiátricos e psicológicos. O presente trabalho busca demarcar no percurso histórico de desenvolvimento da psicologia jurídica brasileira suas articulações junto a saberes como a psiquiatria e a criminologia ao longo de um projeto societário disciplinar e normalizador que refletiu no aumento das atividades diagnósticas e avaliativas, ainda hoje as principais atividades endereçadas aos psicólogos jurídicos. Na tentativa de promover reflexões e possibilitar novas análises sobre o tema, são problematizadas neste trabalho as relações entre saber-poder no processo de emergência e estruturação da Psicologia Jurídica no Brasil a partir de certas análises produzidas por Michel Foucault. Trata-se, principalmente, de uma tentativa de se valer de alguns dos elementos conceituais construídos pelo autor como dispositivos para uma análise crítica das relações entre práticas de conhecimento e práticas de poder assumidas pela psicologia jurídica brasileira, problematizando suas regulamentações sociais e urgências políticas enquanto saber e nova tecnologia de poder produzida na modernidade.


Profanações ◽  
2020 ◽  
Vol 7 ◽  
pp. 409-430
Author(s):  
Giovanna Faciola Brandão de Souza Lima ◽  
Ricardo Evandro Santos Martins ◽  
Paulo Henrique Araújo da Silva

Este artigo tratará sobre as declarações de Giorgio Agamben acerca da pandemia do novo coronavírus e sua ideia de guerra civil ou stasis. Tendo em vista a acusação de que, em sua leitura sobre o contexto pandêmico, o filósofo estaria apenas tentando ser coerente com sua própria filosofia, esta pesquisa se propõe a demonstrar de que forma um contexto emergencial, tal qual a pandemia atual, já era visualizado por Agamben como uma justificativa para que fossem implementadas medidas de exceção ou como manifestação de uma guerra civil mundial. Para tanto, foi realizada pesquisa essencialmente bibliográfica, tendo como principal referencial teórico os artigos do filósofo publicados no site Quodlibet, suas obras e demais textos anteriores à pandemia, sobretudo Stasis (2015), além de escritos de Michel Foucault, uma de suas principais referências. Palavras-chave: Pandemia. Agamben. Guerra civil. Exceção.


Sign in / Sign up

Export Citation Format

Share Document