scholarly journals Arquivo e política: transição e heterotopias constitucionais

2018 ◽  
Vol 18 (3) ◽  
pp. 330-342
Author(s):  
Murilo Duarte Costa Corrêa

A Constituição de 1988 não deveria ser pensada como um documento que selaria a passagem da ditadura à democracia no Brasil. De Carl Schmitt a Giorgio Agamben, a teoria do Estado de exceção e sua crítica contribuíram para tornar visível a abscôndita indistinção entre Estado de direito e Estado de exceção. Uma constituição que se sucede a um período de exceção tanto o continua sob novos termos quanto encerra o gérmen para rupturas locais com o passado autoritário que insiste em repetir. Demonstrando algumas dessas relações de continuidade-ruptura na literatura sobre a transição política brasileira, este artigo propõe repensar a Constituição de 1988 a partir da categoria de arquivo, explorando-a no contágio recíproco entre as obras de Michel Foucault e Jacques Derrida. Isso permite desenvolver como saída política possível a relação entre uma política de arquivo e a prática de uma heterotopia constitucional.

2016 ◽  
Vol 28 (1) ◽  
pp. 171-180 ◽  
Author(s):  
Marcele de Freitas Emerim ◽  
Mériti de Souza

Resumo O considerado inimputável é absolvido por não entender o caráter ilícito de seu ato, embora, por medida de segurança, seja internado compulsoriamente em um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico (HCTP): uma instituição pertencente ao sistema penitenciário. Cria-se assim a ambígua figura dolouco infrator - ora criminoso, ora doente mental - que raramente vimos contemplada em discussões e ações nas áreas da saúde e do direito. Ainda menos acolhido será aquele que atentar contra a vida de seus genitores: o chamado parricida. A partir dos aportes teóricos de Michel Foucault, Giorgio Agamben e Jacques Derrida, este trabalho discute discursos e práticas que se debruçam tanto sobre a questão da loucura, da infração e do parricídio quanto sobre a instituição do HCTP como modalidade de contenção e encaminhamento para os inimputáveis; assim como serão apresentadas discussões a partir das falas de pessoas classificadas como loucas, infratoras, parricidas - internadas em um HCTP.


2017 ◽  
Vol 15 (20) ◽  
pp. 306
Author(s):  
Luciano Nuzzo

Por meio da discussão das ideias de Carl Schmitt e Walter Benjamin, Michel Foucault e Giorgio Agamben, este artigo visa a analisar o funcionamento de um dispositivo de governo que usa a exceção como norma. Esse dispositivo é definido como “excepcionalismo soberano” e introduz novas formas de controle, que resultam de uma combinação inédita entre excepcionalismo e governamentalidade, em que o Direito e as instituições democráticas continuam a existir, mas são sempre mais esvaziadas, revogadas por meio de práxis governamentais. O excepcionalismo soberano, em última instância, coloca-nos frente aos paradoxos do Direito e desconstrói radicalmente a geometria política moderna e a razão que constituiu seu pressuposto.


2019 ◽  
Vol 71 (4) ◽  
pp. 357-380
Author(s):  
Jeffrey Sacks

Abstract This article considers the work of Hannah Arendt and Ghassan Kanafani in relation to the social and juridical logic and form of the settler colony and of the settler-colonial logic and form of the Israeli state and its ideology, Zionism. The argument is framed in relation to two moments: (1) the notion and practice of Bildung—education, training, formation—where the subject of language, in becoming literate, thoughtful, and self-reflective, is to become a being that recognizes itself and others in these and related terms: as legible, autonomous, and self-determining; and (2) the ongoing debates around the politics of death, articulated through the writing of Michel Foucault, Giorgio Agamben, Carl Schmitt, Achille Mbembe, and Arendt. The article argues that, insofar as they presume an understanding of Bildung as a principal category of social thought, these debates reiterate the terms they claim to diagnose or contest. It also argues that, in their affective relation to decolonization, Arendt—and Foucault and Agamben—conjures and advances a social panic in a desire to domesticate the destabilizing force of anticolonial struggle. Finally, the article reads Kanafani’s Rijāl fī al-shams (Men in the Sun) to argue that Kanafani’s novelistic practice discombobulates the terms privileged in the settler colony and in its social and literary logic and form, as it promises a nonredemptive, anomic, and non-state-centric futurity.


2012 ◽  
Vol 24 (35) ◽  
pp. 583
Author(s):  
Glauco Barsalini Glauco Barsalini

No programa Homo Sacer, Giorgio Agamben estabelece denso diálogo com importantes autores como Walter Benjamin, Carl Schmitt, Hannah Arendt e Michel Foucault, formulando um moderno conceito de vida nua. O problema da vida nua (homo sacer), todavia, estende-se para outros trabalhos de Agamben, como A linguagem e a morte e O tempo que resta: um comentário à carta aos romanos, nos quais se apresentam outros termos, como profanação e o tempo-que-resta. No cotejo entre essas obras, este artigo se propõe a articular os conceitos de vida nua (homo sacer) e de profanação, na sua relação com o problema do tempo (o tempo-que-resta),desenvolvidos por Giorgio Agamben. Nesse sentido, aflora discussão sobre o messiânico,por nós, aqui, associado com a figura do homo sacer.


2013 ◽  
Vol 8 (2) ◽  
pp. 175-189 ◽  
Author(s):  
Raphael Guazzelli Valerio

Pretendemos dar uma breve contribuição para a compreensão do conceito de biopolítica na obra do filósofo italiano Giorgio Agamben, mais precisamente em seu trabalho de 1995, inaugurador da série Homo Sacer, cujo título leva o mesmo nome: Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua. Valendo-se do pensamento de Michel Foucault e Hannah Arendt de um lado, e Walter Benjamin e Carl Schmitt de outro, Agamben faz recuar o conceito de biopolítica às fundações da política ocidental. Importa, para o filósofo, mostrar como estrutura, lógica e topologia de funcionamento a biopolítica anima as relações políticas desde seu fundamento e que a modernidade foi capaz de revelar, transformando radicalmente os espaços políticos contemporâneos.


Author(s):  
Nadine Hartmann

Throughout his oeuvre, Giorgio Agamben makes numerous references to Georges Bataille. Already in the 1977 Stanzas, Bataille’s general economy is afforded one of the scholia of the chapter ‘The Appropriation of Unreality’ and scolded for its alleged simplification of Marcel Mauss’s account of the gift. A brief discussion of the letters that Bataille and Alexandre Kojève exchanged in 1937 is contained in Agamben’s 1982 Language and Death and picked up again in 2002’s The Open: Man and Animal. The only text that exclusively deals with Bataille, however, is Agamben’s 1987 essay ‘Bataille e il paradosso della sovranità’. By the time Agamben begins the Homo Sacer project (1995), and in particular in Means Without End (1996), Bataille has been banished into unambiguously dismissive footnotes or ‘thresholds’ in which Agamben distances himself from Bataille’s definitions of the sacred, sacrifice and sovereignty. Thus, unlike Carl Schmitt, Martin Heidegger, Walter Benjamin or Michel Foucault, Bataille not only cannot be considered one of Agamben’s main informants, but receives all but marginal attention from him – and this despite the fact that Bataille is generally held to be one of the crucial thinkers of the sacred and of sovereignty.


2019 ◽  
Vol 63 (2) ◽  
pp. 293-314
Author(s):  
Sabeen Ahmed ◽  

Drawing from the works of Carl Schmitt, Michel Foucault, Giorgio Agamben, and Jacques Derrida, this article offers a theory of political theology for the contemporary Western liberal nation-state. Taking as its starting point the death penalty, it presents a triune theory of governance—what I call Trinitarian Governmentality—which exposes the thanatopolitical dimension fundamental to the very articulation of sovereign power and, as such, the theologico-political. It is thus only by conceptualizing sovereignty as Trinitarian Governmentality—composed of biopower/oikonomia, disciplinary power/theologia, and pastoral power/eschatologia—that we can begin to address Derrida’s central question: how might we theorize a properly philosophical abolitionism for the present?


Profanações ◽  
2017 ◽  
Vol 4 (2) ◽  
pp. 166
Author(s):  
Pedro Lucas Dulci

O presente trabalho fala do deslocamento das atenções de Giorgio Agamben do homo sacer para um instituto jurídico romano tão fundamental quanto, o iustitium. Muitos materiais têm sido escritos sobre a obra do filósofo italiano encontrando no primeiro paradigma a chave de leitura privilegiada para sua obra. No entanto, pouca atenção é dada ao segundo paradigma. Procuraremos ampliar os estudos agambenianos reconstruindo sua argumentação sobre esse deslocamento em relação com a teologia política de Carl Schmitt e o messianismo de Jacques Derrida.


Profanações ◽  
2018 ◽  
Vol 5 (1) ◽  
pp. 65
Author(s):  
Lara Emanuele da Luz

Giorgio Agamben, filósofo italiano, apresenta um diagnóstico da modernidade bastante relevante para nosso tempo atual. Para ele, a biopolítica existe desde o nascimento do pensamento político Ocidental, e é ela que rege e captura a vida das pessoas pertencentes à polis. Para isso, é necessário que o Estado de exceção comece a tornar-se regra para que nele, tudo possa ser instaurado. Nestes termos, o presente artigo pretende apresentar, por um lado, o que é e quais as características do Estado de exceção para Agamben, ressaltando o diálogo deste com o Carl Schmitt, grande inspirador do filósofo italiano sobre o Estado de Exceção. Por outro lado, explicar-se-á de que modo a biopolítica e o campo de concentração nascem através desse, e suas principais características. Para isso, faz-se necessário passar por um percurso explicativo, analisando aspectos da biopolítica sob a perspectiva de Hannah Arendt e Michel Foucault, grandes inspiradores de Agamben neste aspecto.AbstractGiorgio Agamben, Italian philosopher, presents a diagnosis of modernity very relevant to our current time. For him, biopolitics has existed since the birth of Western political thought, and it’s it that rules and captures the lives of people belonging to the polis. For this, it’s necessary that the State of exception begins to become the rule so that everything can be established in it. However, this article intends to present, on the one hand, what’s and what the characteristics of the State of exception for Agamben, highlighting his dialogue with Carl Schmitt, great inspiration of the Italian philosopher on the State of Exception. On the other hand, it’ll be explained how the biopolitics and the concentration camp are born through this, and its main characteristics. For this, it’s necessary to go through an explanatory course, analyzing aspects of biopolitics from the perspective of Hannah Arendt and Michel Foucault, Agamben's great inspirers in this regard.


Bajo Palabra ◽  
2021 ◽  
pp. 81-104
Author(s):  
María García Pérez

En el presente artículo nos proponemos arrojar luz sobre el vínculo entre la deconstrucción de Jacques Derrida y la biopolítica de Giorgio Agamben. Este nexo se hace explícito, sobre todo, en la noción de umbral de indiscernibilidad y en el comunitarismo que sostiene el italiano. La comunidad de los cualsea constituye la ocasión para la puesta al límite de las conclusiones derridianas cada vez que ambos se enfrentan a la teología política de Carl Schmitt desde una ontología del sentido que viene a desfondar la venida a presencia y, así, la totalización de los conceptos de amigo y de enemigo.


Sign in / Sign up

Export Citation Format

Share Document