Neste artigo, proponho tratar o passado como um recurso simbólico, apoiando-me em algumas ideias esboçadas pelo antropólogo indiano Arjun Appadurai em seu famoso artigo The past as a scarce resource man, publicadoem1981. Colocado nestes termos, analiso o caso empírico dos habitantes de Borá, uma pequena cidade localizada no interior do estado de São Paulo. O objetivo é o de compreender como as famílias mais antigas constroem o discurso sobre o passado e a forma como administram dessa forma a memória coletiva da população. O parentesco e a descendência caracterizam alguns aspectos dessa relação com o passado. No entanto, o que legitima se sentirem como os narradores autorizados da história local é o consenso constituído em torno das representações do pioneirismo. Resumindo, procuro percorrer com o leitor os caminhos da pesquisa, apresentar os informantes que conheci no curso do trabalho de campo e demonstrar como a sociabilidade também se configura através do passado. Os dados apresentados são fruto da pesquisa etnográfica realizada entre os anos de 2011-2012, em Borá (mais precisamente, com visitas intercaladas realizadas semanalmente ou mensais). Na apresentação dos dados, relato, em primeira pessoa, as relações e situações vivenciadas, buscando narrar através descrição etnográfica minha inserção e experiência em campo. Além disso, utilizo fontes secundárias que permitiram análise de conteúdo e consulta a literatura especializada, principalmente, em diálogo com a teoria antropológica.