Relato de caso: gestação trigemelar com abortamento espontâneo de um dos fetos
Introdução: Até a década de 1970, a gestação tripla era fenômeno exclusivamente espontâneo e bastante raro, ocorrendo uma vez a cada 10 mil partos. Desde então, com o advento da reprodução assistida, ocorreu aumento mundial na incidência das gestações múltiplas, e a trigemelaridade acontece em proporção de uma a cada dois mil partos. Comparadas às gestações únicas e gemelares, as trigemelares apresentam mais complicações maternas, com elevadas taxas de prematuridade e mortalidade perinatal, chegando alguns autores a preconizar a redução embrionária seletiva precoce, visando assegurar um melhor prognóstico para os fetos restantes. Mesmo com todos os riscos e complicações possíveis em uma gravidez múltipla, grande parte dos casais que passam por tratamento de fertilidade relatam o desejo desse tipo de gravidez, conforme indicam as bibliografias consultadas. Objetivo: O presente trabalho visa à popularização de um caso clínico envolvendo trigêmeos, com a finalidade de discutir os riscos, o prognóstico e as abordagens possíveis, bem como o impacto psicossocial na vida da paciente e dos familiares, de forma a auxiliar o manejo clínico desse tipo de gravidez por parte dos profissionais de saúde. Métodos: Obtiveram-se os dados por anamnese, exame físico, exames complementares, revisão do prontuário e consulta à literatura. Resultados: Mulher de 26 anos, primigesta, realizou fertilização in vitro em 2012, resultando em gestação trigemelar, tricoriônica e triamniótica. Chegou ao pré-natal com nove semanas de gestação. Evoluiu assintomática, com consultas quinzenais até 16 semanas, quando chegou com queixa de leucorreia amarelada e dor em hipogástrio. Ao exame, apresentou o colo centralizado, 3 cm dilatado e com herniação da bolsa amniótica. Foi submetida a cerclagem de emergência, com reintrodução da bolsa amniótica ao útero, permanecendo internada, sob vigilância obstétrica, em uso regular de isoxsuprina endovenosa e repouso. Com 19 semanas, sofreu aborto espontâneo de um dos fetos, com intensa hemorragia, sem a dequitação placentária. Foi novamente submetida a cerclagem emergencial, com introdução do coto umbilical ao útero e manutenção da isoxsuprina e repouso absoluto. Evoluiu bem até 27 semanas, quando entrou em trabalho de parto prematuro, com nascimento de dois fetos vivos, de baixo peso, com complicações cardíacas, visuais e respiratórias. Ambos foram assistidos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, com desenvolvimento neuropsicomotor satisfatório até a alta, após dois meses. Conclusão: A trigemelaridade é condição rara, que suscita muitas variáveis em relação ao acompanhamento pré-natal, à avaliação dos riscos materno-fetais e dilemas éticos e aspectos psicossociais envolvidos. Assim, faz-se necessário o acompanhamento dos casos em centro especializado, envolvendo equipe multidisciplinar, para que as possíveis intercorrências sejam avaliadas juntamente com a família.