Resumo: Este texto parte de uma tentativa de aproximação de duas escrituras. De um lado, a de uma literatura pensante, nas palavras de Evando Nascimento, que é o Grande sertão: veredas; de outro, a escritura derridiana que, no pensamento da desconstrução, aponta possibilidades heterodoxas de interpretação da tradição. O escopo está na análise da cena de devoração de um macaco que era homem, no que se traça um paradoxo na escritura rosiana. Em paralelo a análises feitas por Derrida de cenas de devoração (simbólica ou não) de carne e de carne humana, as quais fazem parte de uma tradição “falogocêntrica” do Ocidente e traçam um imperativo da estrutura de dominação social, analisa-se a cena rosiana como inscrição problematizadora da tradição que associa determinados atos de comer à constituição essencialmente definidora do que é o ser humano dominante. Derrida afirma, em “Il fault bien manger”, que a estrutura social humana pressupõe e exige a ingestão “não criminosa” do cadáver, mesmo do cadáver humano. A cena rosiana, entretanto, insere-se como uma punção aterradora na estrutura social do sujeito humano, pois, ao passo que encerra o gesto estruturador das configurações de virilidade e humanidade, encerra também o gesto destruidor dos próprios do homem.Palavras-chave: violência; alimento; devoração; ex-apropriação.Abstract: We based on an attempt to approach two writings. On the one hand, a thoughtful literature piece, in the words of Evando Nascimento: Grande sertão: veredas; on the other hand, the Derridian writing that, in a deconstructed thought, points out heterodox possibilities of tradition interpretation. The scope is on the scene analysis in which a monkey - which was actually a man - is being devoured. Such situation draws a paradox in the Rosian writing. In parallel, Derrida’s analysis of devouring meat or human flesh scenes (symbolic or not), are both part of the West’s “phallogocentric” tradition. They draw an imperative of the social domination structure and the Rosian scene is analyzed as a problematizing inscription of the tradition that associates certain eating acts with the essentially defining constitution of what is the dominant human being. Derrida states in “Il fault bien manger” that the human social structure assumes and requires the “non-criminal ingestion of the corpse”, even the human one. The Rosian scene, however, comes out as a terrifying puncture in the social structure of the human subject, since, while enclosing the structuring gesture of virility and manhood configurations, it also contains the destructive gesture of human essence.Keywords: violence; food; devouring; ex-appropriation.