scholarly journals Nikolai Leskov e o animismo: falar com pedras no conto Alexandrita

2021 ◽  
Vol 26 ◽  
pp. 01-12
Author(s):  
Marcos Lampert Varnieri

O conto Alexandrita (um fato natural à luz do misticismo), do autor russo Nikolai Leskov (1831-1895), apresenta-se particularmente adequado a uma leitura anímica de seus aspectos insólitos. A personalização das pedras alexandrita e piropo, minerais preciosos que representam as nações russa e tcheca respectivamente, dá à narrativa a hesitação necessária para uma caracterização fantástica, segundo a teoria de Tzvetan Todorov reforçada por David Roas. As duas gemas são tratadas pelo personagem do ourives como dotadas de vida e de alma, características centrais do animismo. Além da concepção anímica, há no conto um contraste entre os saberes civilizados e os chamados tradicionais, pois ao narrador, representante da característica urbana, opõe-se o velho ourives cabalista e místico, guardião da tradição popular de sua terra. Walter Benjamin (1936) retoma a obra de Leskov em sua conhecida teorização acerca da arte de narrar. A qualidade narrativa por ele prezada está contida no modo artesanal como Leskov constrói suas obras. Tal reflexão sobre a arte literária está também em Sigmund Freud, que tece considerações aproximando a psicologia e a antropologia da literatura. O conto Alexandrita é, portanto, o ponto de encontro de conceitos e disciplinas díspares visto ser ele valioso como os objetos e saberes que descreve.

2014 ◽  
Vol V.12 (12) ◽  
pp. 57
Author(s):  
Alessandra Affortunati Martins Parente

2008 ◽  
Vol 1 (1) ◽  
pp. 36-40
Author(s):  
Maria Teresa Salgado

A partir de alguns dos contos de Mornas eram as noites, da ficcionista cabo-verdiana Dina Salústio, procuro discutir, com auxílio de Walter Benjamin e Tzvetan Todorov, as declarações de algumas escritoras africanas na contemporaneidade. Refiro-me não só a Salústio, mas também a poetas e ficcionistas africanas que testemunham sua dificuldade em assumir-se como escritoras na atualidade, reivindicando a condição de contadoras de estórias ou porta-vozes de experiências, atestando, dessa forma, uma valorização da emoção. Concluo que os contos de Salústio renovam significativamente a ficção caboverdiana, dramatizando a tensão entre ficção e sociedade, por meio de um narrador absolutamente comprometido com as experiências das personagens que flagra no mundo circundante – mulheres, crianças e homens desvalidos -, ao mesmo tempo em que promovem uma releitura de temas tradicionais da literatura cabo-verdiana, como insularidade, evasão e miséria.


MODOS ◽  
2020 ◽  
Vol 4 (3) ◽  
Author(s):  
Stéphane Huchet

Os livros de Georges Didi-Huberman articulam um denso saber para produzir o que ele propôs chamar de “antropologia do visual”. É uma posição de caráter neo-warburguiano, embora, no início de sua trajetória, Didi-Huberman não se apoiasse em Aby Warburg, que ele ainda não tinha integrado ao seu panthéeon. Antropologia que não representa mais um risco, mas uma chance para a História da arte. As imagens artísticas, observadas e analisadas com grande atenção crítica, revelam processos que seu conhecimento aprofundado da filosofia o legitimam a qualificar como “dialéticos”. Suas primeiras ideias e argumentações, disseminadas em vários livros que se sucederam em um ritmo anual, encontraram em Aby Warburg, por volta do ano 2000, um modelo de confirmação e consolidação. A historiografia e a filosofia da arte de Didi-Huberman foram construídas por meio de livros que privilegiam artistas, pensadores, críticos (Fra Angelico, Giorgio Vasari, Sigmund Freud, Erwin Panofsky, Georges Bataille, Carl Einstein, Aby Warburg, Alberto Giacometti, Marcel Duchamp, Walter Benjamin, Bertold Brecht, os minimalistas, Pier-Paolo Pasolini, Giorgio Agamben), que instigam uma História da arte que é uma filosofia prática da imagem e do tempo.


Author(s):  
Nilay Kaya

This paper aims to analyse Elena Ferrante’s use of the metaphor of playing with dolls in her novel, La figlia oscura (The Lost Daughter). With a view of shedding a light on this issue, the first part of the paper will review the prominent essays of Sigmund Freud, Ernst Jentsch, Walter Benjamin, Rainer Maria Rilke and Charles Baudelaire that question the nature of playing with dolls in terms of psychology with various focuses. These essays generally agree on the fact that playing with dolls is a strong threshold to come to terms with the self, as well as on the fact that this coming to terms with the self is by nature not guaranteed. The second part will examine Elena Ferrante’s dealing with the problem of playing with dolls and her character’s journey to death and a possible psychological resurrection.


Diversitas ◽  
2013 ◽  
Vol 8 (2) ◽  
pp. 361
Author(s):  
José César Coimbra

<p style="text-align: justify;">Basado en investigación bibliográfica, este trabajo analiza las relaciones entre testimonio y memoria de Giorgio Agamben, Sigmund Freud, Walter Benjamin y verifica el lugar, en esas relaciones, de las nociones de olvido, de restos, de ruinas y el <em>a posteriori. </em>Se constata la sinergia de las elaboraciones de esos autores, las cuales destacan las posibilidades de desplazamiento de las posiciones subjetivas del testimonio frente al deber de la memoria. En el momento en que Brasil instala en primer plano su Comisión de la Verdad, la discusión abierta por el pasado revisitado resalta la importancia de comprender los límites de la expresión de la memoria que el testimonio proporciona.</p><p style="text-align: justify;"><strong>Palabras clave: </strong>Testimonio, memoria, historia, <em>a posteriori, </em> comisión de la verdad, psicoanálisis.</p>


Antíteses ◽  
2019 ◽  
Vol 12 (23) ◽  
pp. 487
Author(s):  
Augusto Bruno De Carvalho Dias Leite

Através da exposição inicial do significado da tradição para Martin Heidegger, Sigmund Freud e Walter Benjamin, proponho-me a analisar as implicações ontológicas e epistemológicas que a tradição identificada com a transmissão cultural produz para a compreensão histórica. Para tanto, a impessoalidade (Heidegger), a estrutura super-egoica (Freud) e a transmissibilidade (Benjamin) serão examinadas por este artigo à luz do conceito de passado como o limite-critivo do tempo em conexão com a tradição – apresentada como condição existencial.


Rumores ◽  
2016 ◽  
Vol 10 (19) ◽  
pp. 174
Author(s):  
Bárbara Heller

A censura, na contemporaneidade, é uma das formas de violência simbólica que ainda afeta cidadãos dos mais variados países e regimes políticos do planeta. Este artigo contempla cinco notícias veiculadas pela internet sobre mulheres vítimas de censura em 2014 e questiona se o silenciamento que lhes é imposto contribui para o apagamento de suas memórias. Para isso, recorremos a teóricos que relacionam História, Cultura e Comunicação como Beatriz Sarlo, Alain Touraine, Tzvetan Todorov, Venício Artur Lima, Walter Benjamin e Cristina Costa. A conclusão a que chegamos é que palavras, narrativas e memórias não desaparecem, apesar dos esforços – menos ou mais violentos – de silenciá-las


2019 ◽  
Vol 20 (2) ◽  
pp. 104
Author(s):  
Everton Almeida Barbosa ◽  
Marta Helena Cocco

Neste artigo reunimos reflexões sobre o ensino de literatura, enfatizando a percepção do mundo como aspecto importante na preparação para a leitura da palavra. Essa proposição tem o intuito de oferecer um complemento aos estudos e pesquisas centradas no aluno/leitor e em sua relação direta com o texto, direcionando as reflexões para a relação eu/outro e para a figura do professor. O artigo consiste em uma discussão teórica, baseada em relatos de experiência de Paulo Freire (1989) e Tzvetan Todorov (2006). Partindo da afirmação de Freire de que a leitura de mundo vem antes da leitura da palavra, procuramos definir o status das atividades ética e estética, a partir de Mikhail Bakhtin (2006), mostrando os limites entre elas e como essa reflexão pode auxiliar no ensino de leitura do texto literário. Em outra via, a partir dos relatos de Freire e Todorov, propomos uma reflexão sobre o conceito de “experiência”, segundo Walter Benjamin (1994) e Jorge Larrosa (2014), no intuito de evidenciar a necessidade de afirmação do sujeito autor/leitor/professor.


Paragraph ◽  
2009 ◽  
Vol 32 (3) ◽  
pp. 382-399 ◽  
Author(s):  
Samuel Weber

This text, which is part of a project, ‘Toward a Politics and Poetics of Singularity’, explores the implications of a phrase used more or less simultaneously, although independently, by Walter Benjamin and Sigmund Freud, ‘the single trait’ (der einzige Zug). In his 1962 lectures on the problem of identification, Jacques Lacan focused on this phrase in Freud in order to exemplify the difference between the subject and the signifier. The use of the phrase by Benjamin in his essay on ‘Destiny and Character’ inflects the discussion toward questions of ‘comedy’ and ‘tragedy’, and thereby links the singularity of the signifying process to literary and theatrical forms.


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