scholarly journals Estamira: à beira do mundo: a loucura como profanação do pensamento

Reflexão ◽  
2019 ◽  
Vol 43 (2) ◽  
pp. 205
Author(s):  
Giovanni Felipe Catenaci

O presente artigo tem como objetivo apresentar a plausibilidade da seguinte hipótese: a partir do cotejamento das reflexões de Giorgio Agamben, Gilles Deleuze e Félix Guattari, é possível concebermos a loucura como uma experiência de profanação do pensamento. Para tanto, se tomará como ponto de partida Estamira, protagonista do documentário de José Padilha e Marcos Prado, lançado em 2006, diagnosticada clinicamente como esquizofrênica. É a partir do encontro com esta mulher de 63 anos, catadora de lixo, moradora do Jardim Gramacho na Baixada Fluminense no Rio de Janeiro e louca, que se começara a formular a hipótese deste estudo. A fim de sustentarmos teoricamente essa asserção, este texto será divido em três seções. Respectivamente: “Introdução”: na qual se começará a demonstrar a pertinência de pensarmos a loucura na esteira dos estudos da religião, tendo nesse momento o conceito agambeniano de profanação como principal referencial teórico. Na sequência, se passará ao “Desenvolvimento”: que é composto de duas partes, estando a primeira voltada para a compreensão das “formas-de-vida” em Agamben, através das quais poderá ser possível se aproximar de Deleuze e Guattari e suas teses acerca da esquizofrenia como processo. Finalmente, em “Considerações finais”: arriscar-se-à a esboçar alguns traços de um pensamento profano.

Revista Prumo ◽  
2021 ◽  
Vol 6 (9) ◽  

Desde o início da Idade Moderna, a maneira como enxergamos a realidade à nossa volta esteve pautada por uma lógica inevitavelmente contextualista, linear e contínua. Fragmentação e anacronismo são, assim, propriedades inconcebíveis do espaço e do tempo, o que se reflete na maneira como se percebe e se age na cidade. Contudo, autores como Gilles Deleuze e Félix Guattari, Peter Eisenman e Robert Smithson (entre outros e outras), com seus respectivos conceitos de Rizoma, Diagrama e Site/Non-site exploram a potência e as múltiplas possibilidades de um espaço-tempo intermediado pela modernidade. O presente ensaio lança mão desses conceitos com o intuito de fazer emergir uma outra realidade. Para tanto, propõe um grid ficcional como ferramenta que opera sobre a cidade factual do Rio de Janeiro, que assim se transforma em um Rio aos Pedaços. Palavras-chave: Rio de Janeiro; Rizoma; Diagrama; Grid. Abstract Since the beginning of the Modern Age, the way we see the reality around us has been guided by an inevitably contextualist, linear and continuous logic. Fragmentation and anachronism are, therefore, inconceivable properties of both space and time, precluding the way one perceives and acts upon the city. Yet, authors such as Gilles Deleuze and Félix Guattari, Peter Eisenman and Robert Smithson (among others), with their respective concepts of Rhizome, Diagram and Site/Non-site, have explored the power and multiple possibilities of a space-time alien to the modern worldview. This essay makes use of these concepts in order to bring about another reality. To this effect, it proposes a fictional grid that acts upon the factual city of Rio de Janeiro, which becomes a Rio in Pieces. Keywords: Rio de Janeiro; Rhizome; Diagram; Grid.


Author(s):  
Icaro Ferraz Vidal Jr

O presente artigo explora algumas inflexões contemporâneas no estatuto do rosto. Na arte contemporânea, em sistemas de vídeo-vigilância, no marketing, na pornografia etc. as tecnologias de detecção e reconhecimento facial parecem espraiar-se sobre uma vasta gama de domínios. Sem a pretensão de esgotar este campo, propomos traçar algumas linhas de força que nos ajudem a compreender o que está em jogo nessa reconfiguração estética e política dos rostos. A partir de noções que buscamos no pensamento de autores como Michel Foucault, Giorgio Agamben, Gilles Deleuze e Félix Guattari, cartografamos algumas tensões entre ação e representação, cristalizadas no estatuto contemporâneo do rosto.


Muitas Vozes ◽  
2020 ◽  
Vol 09 (02) ◽  
pp. 509-533
Author(s):  
C. R. F. MARINHO

Este texto aborda a obra A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, tomando-a a partir de um trabalho de escrita literária pensado como operação de produção do sensível na existência. Um trabalho que, mais do que produzir sentidos ou gerar interpretações que nos ajudariam a entender o mundo, fazem mundos, produzem formas próprias, capazes de atribuir configurações diferentes à existência e ao seu pensamento. No caso da obra de Lispector, tal processo dá-se não pela construção de um novo mundo qualquer, mas pela derrisão das definições e das finalidades desse mundo, cuja possibilidade manifesta- se no encontro entre G.H. e a barata. Tal relação opera, então, uma altercação não apenas de G.H. com o animal, mas a colocação em questão da existência da humanidade, na medida em que ela se faz paradigma dessa relação. Para tanto, operamos por meio de quatro registros, evidenciando como desdobramento o procedimento dessa possibilidade: desabamento, aberto, devir e informe, partindo de autores como Giorgio Agamben, Gilles Deleuze e Felix Guattari e Georges Bataille. Mais do que uma parada da possibilidade de entender a humanidade em G.H., deparamo-nos com uma máquina reterritorializante profundamente deslocada, fora do humano e fora do sentido.


polemica ◽  
2018 ◽  
Vol 18 (1) ◽  
pp. 21-30
Author(s):  
Gian Cabral De Lima ◽  
Maria Helena Zamora

Resumo: O presente trabalho consiste no relato de uma experiência de campo ocorrida em uma escola estadual no município de Niterói. A discussão procura se pautar nas diretrizes da pesquisa interversão e da análise institucional para habitar o espaço existencial em questão com o objetivo de analisar as práticas educacionais exercidas neste campo. O método utilizado foi a cartografia de Gilles Deleuze e Felix Guattari. Foi analisada nesta instituição a possível emergência de um grupo sujeito e suas decorrentes práticas de liberdade exercidas através de um dispositivo criado pelos próprios participantes da pesquisa, um projeto pedagógico que visa uma educação libertadora e autogestionária. Todo o processo é pensado dentro do contexto socioeconômico brasileiro e fluminense, para, por fim, se dar a análise do que foi relatado.Palavras-chave: Experiência. Pedagogia. Escola.Abstract: The present work consists on the report of a field experience that occurred in a state school in the city of Niterói. The discussion tries to be guided by the guidelines of the interversion research and the institutional analysis to inhabit the existential space in question with the objective of analyzing the educational practices practiced in this field. The method used was the cartography of Gilles Deleuze and Felix Guattari. It was analyzed in this institution the possible emergence of a subject group and its resulting practices of freedom exercised through a device created by the participants of the research, a pedagogical project that aims at a liberating education and self-management. The whole process is thought within the Brazilian and Rio de Janeiro socioeconomic context, in order, finally, to give the analysis of what was reported.Keywords: Experience. Pedagogy. School.


Author(s):  
Anelice Astrid RIBETTO ◽  
Luma Balbi de Figueiredo CORDEIRO

este artigo é fruto da composição da pesquisa de mestrado “Cartografando gestos escolares de surdos em Rio Bonito: entre o Maior e o menor da educação”. Ela trata das tensões entre as Histórias, as Políticas da Educação de Surdos e as histórias escolares de quatro pessoas surdas de Rio Bonito, município localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Gilles Deleuze e Félix Guattari nos apresentam o conceito de literatura menor, como dispositivo para estudar a obra de Franz Kafka. Neste sentido, tentamos promover um deslocamento: usar esse conceito, operando com a noção de histórias menores, como dispositivo para pensarmos as trajetórias escolares dos surdos como formas de resistências às formas em que hegemonicamente vêm sendo inventados e em decorrência desta invenção, quais políticas educacionais vêm sendo promovidas para a escolarização deles.


2021 ◽  
Vol 10 (2) ◽  
pp. 35
Author(s):  
Cacio José Ferreira ◽  
Norival Bottos jr

Esse artigo discute o estatuto das imagens que são produzidas pelos humores líquidos do corpo de Macabéia, em A Hora da Estrela (1998), desregulando e desterritorializandoem filigranas as imagens capazes de sobreviver ao tempo, com destaque para a figura da ninfa, ao mesmo tempo representação da santa cristã ou das deusas pagãs em diversas culturas. Walter Benjamin (2011) denominou essas imagens como aquilo que resta e que é capaz de causar um rasgo ou uma fratura no tempo real, tratar-se-ia, portanto, de sobrevivência no tempo histórico. Como aporte teórico serão utilizadas, sobretudo, as análises de Gilles Deleuze, Félix Guattari, Jacques Derrida, Giorgio Agamben, AbyWarburg e Georges Didi-huberman, especialmente no que diz respeito ao papel da musa como condição sintomática do discurso que Macabéia exerce sobre o mundo patriarcal e racional, além de se efetivar como um diálogo onde Clarice Lispector busca refletir sobre o papel da arte a partir de uma perspectiva filosófica peculiar. Julga-se importante entender de que maneira Macabéia se configura como uma ninfa, especialmente no que diz respeito à importância das imagens carregadas de temporalidades dispersas e dotadas de características únicas, geralmente icônicas que ela desregula com seu discurso descentralizador.


2020 ◽  
Vol 13 (1) ◽  
Author(s):  
Daniela Lopes Oliveira Dourado ◽  
Cinara Barbosa de Oliveira Morais

O Livro Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade organizado por Eduardo Passos, Virgínia Kastrup e Liliana da Escóssia é uma obra de 207 páginas, em oito capítulos denominados por “Pistas” que são estruturados no formato de coletânea de artigos, resultado da produção de pesquisa dos professores do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense e do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro orientadas pelos fundamentos teóricos de Gilles Deleuze e Félix Guattari  a partir da obra Os Mil Platôs publicada em 1995. Apresenta um diálogo metodológico que discute sobre as lacunas das pesquisas quantitativas e qualitativas, visto que ambas podem constituir práticas cartográficas, desde que garantam acompanhamento de processos. E neste ponto tem-se o principal fundamento sobre a pesquisa com base no método da cartografia social, quer dizer, o processo da investigação orientado por um método igualmente processual. A perspectiva da obra não é definir regras ou protocolos de passos metodológicos de pesquisas, traz diversos estudos que apresentam pistas para o entendimento sobre a cartografia social que respeita as especificidades da autoria e dos diversos contextos de investigações. Por fim, seus artigos oportunizam a compreensão da expressão do método na prática com articulação teórica da pesquisa-intervenção, entendendo que, exprimem parâmetros importantes para todos que queiram compreender o método cartográfico e desenvolver pesquisa nesta fundamentação metodológica, como pesquisadores, professores e estudantes de graduação e pós-graduação das diversas áreas implicadas com as ciências sociais.


2019 ◽  
Vol 11 (3) ◽  
pp. 283-318 ◽  
Author(s):  
Simon Mabon

Abstract Amidst violent contestation across the Middle East leaving regimes facing – or fearing – popular protests, the regulation of political life became increasingly important. Across the past century, the development of political projects has been driven by regime efforts to maintain power, constructing regime-society relations in such a way to ensure their survival. As a consequence, security is not given; rather, it reflects the concerns of elites and embeds their concerns within society, using a range of domestic, regional and geopolitical strategies to meet their needs. These strategies play on a range of different fears and currents to locate regime interests within broader concerns. A key part of such efforts involves the cultivation and suppression of particular identities, often resulting in contestation and uncertainty within and between states. Drawing on the ideas of Giorgio Agamben, Gilles Deleuze and Felix Guattari, the article argues that the regulation of sect-based identities – and difference – has been a key part of governance strategies in divided societies across the Middle East, albeit varying across time and space.


2020 ◽  
Vol 6 (1) ◽  
Author(s):  
Ana Paula Parise Malavolta ◽  
Fernanda Monteiro Rigue ◽  
Camilla Baldicera Biazus

O presente texto é um convite para pensar possíveis percepções e enunciações sobre o corpo no campo da educação. Para tanto, nos aproximamos os escritos de Michel Foucault (1989), Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995), Giorgio Agamben (2014 - 2017) e Baruch de Espinosa (1998) para construir um pensamento que nos permita atentar para uma vivência da corporeidade no contexto escolar, além das fronteiras da escola tradicionalmente estabelecida. A partir da potência política da costura, damos ênfase à Pedagogia crítico-performativa e às oficinas desenvolvidas pelo NAT, para alargar o leque de possibilidades de agenciamentos sobre o corpo no espaço educacional. Propomos, ao fim, problematizações que se apresentam por olhares outros em defesa de um corpo-potência, atentando para suas dimensões poéticas e performativas.


2018 ◽  
Vol 14 (2) ◽  
Author(s):  
Rodrigo De Sales

RESUMO Considerando que os aportes que subsidiam teoricamente os sistemas de organização do conhecimento normalmente se amparam em perspectivas que consolidam visões estruturalistas, a fim de controlar e formalizar representações do conhecimento, ensaiamos neste artigo um possível limiar para organização e representação do conhecimento, baseado nos conceitos de devir e de rizoma definidos pelos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari. Tendo como horizonte a ideia de contemporaneidade de Giorgio Agamben, buscamos valorizar a potência dos devires e a intempestividade dos rizomas em prol de uma organização do conhecimento menos previsível e menos determinista. Alicerçado por um exercício de reflexão teórica, concluímos em defesa da realização de rizomas em oposição aos instrumentos já conhecidos e/ou praticados pela organização do conhecimento.Palavras-chave: Organização do Conhecimento; Representação do Conhecimento; Rizoma; Devir; Sistemas de Organização do Conhecimento.ABSTRACT Considering that the theoretical contributions that support knowledge organization systems usually rely on perspectives that consolidate structuralist approaches, to control and formalize knowledge representations, we elaborate in this article a possible opening for a knowledge organization and representation based on the concepts of becoming and rhizome developed by Gilles Deleuze and Félix Guattari. Based on the idea of contemporaneity by Giorgio Agamben, we seek to value the power of the becoming and the intempestivity of rhizomes in favor of a less predictable and deterministic knowledge organization. Supported by an exercise of theoretical reflection, we conclude in favor of rhizomes as opposed to systems already known and/or practiced in knowledge organization field.Keywords: Knowledge Organization; Knowledge Representation; Rhizome; Becoming; Knowledge Organization System.


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