Na nossa sociedade pós-moderna, um novo conceito surgiu com força: o de pós-verdade. Segundo o Dicionário Oxford, post-truth é um adjetivo que qualifica circunstâncias que denotam que os factos objetivos têm muito menos influência na formação da opinião pública do que os apelos à emoção e às crenças pessoais. Não parece plausível que Donald Trump tenha sido leitor de filósofos como Jacques Derrida ou Michel Foucault. É, contudo, evidente a ligação entre a pós-verdade e um clima de pensamento pós-moderno por eles propiciado. À parte os embustes de Trump e dos Brexiters, não deixa de denunciar-se a intensificação de campanhas desinfomativas noutros países como a Rússia, Hungria ou Turquia. E em Espanha, olhe-se para o chamado processo em Catalunha. O género romanesco das distopias conta já com um corpus considerável. Este assunto da pós-verdade encontra a sua primeira fundamentação distópica no romance 1984 de George Orwell, publicado em 1949, embora a primeira obra da série tenha sido Nós de Evgueni Zamiatin, de 1924. Entre ambas as distopias, Aldous Huxley tinha publicado Admirável Mundo Novo, de 1932, cujo título, tomado de Shakespeare, sugere uma tirania aparentemente amável. Porém, nela funciona já a pós-verdade.