Em 5 de novembro de 2015, a barragem de rejeitos de minério de ferro conhecida como Barragem de Fundão, de propriedade da Samarco Mining Inc. Company, uma joint venture envolvendo a Vale S. A. e a BHP Billiton Brasil Ltda, desabou no município de Mariana, Minas Gerais. Cerca de 50 milhões de metros cúbicos de resíduos de mineração foram lançados no Rio Doce e transportados por mais de 600 km até sua foz, no Oceano Atlântico. Entre as muitas comunidades profundamente afetadas estão as do povo indígena Krenak, que habitam a margem esquerda do Rio Doce. Com base na descrição histórica e etnográfica dos Krenak e dos conflitos que vivenciaram em seu território ao longo dos anos, o artigo analisa como esse povo foi afetado pelo desastre da mineração do rio Doce. Seis anos depois, o desastre prevalece como um processo constantemente renovado na vida cotidiana das privações a que todos os grupos afetados foram submetidos. Para o Povo Krenak, o Watu é muito mais do que um rio que proporciona alimentação, lazer, água para os animais e irrigação, enfim, um recurso natural para a sobrevivência. É um parente com quem estabelecem relações. Um familiar que acolhe, aconselha, protege e contribui para a construção da pessoa Krenak. Sua perda, portanto, coloca um desafio ao sistema de justiça ocidental: o reconhecimento de direitos que podem ser formulados a partir de outros sistemas de valoração, baseados em cosmovisões e ontologias que questionam o alcance das formas de comensurabilidade e tradução impostas pelo mundo ocidental.
Palavras-chave: Mineração; Desastres no Rio Doce; Povo indígena Krenak; Territórios Indígenas; Conflitos Ambientais.
Abstract
On November 5, 2015, the iron ore tailings dam known as the Fundão Dam, owned by the Samarco Mining Inc. Company, a joint venture involving Vale S. A. and BHP Billiton Brasil Ltda, collapsed in the municipality of Mariana, Minas Gerais. Around 50 million cubic metres of mining waste were released into the Rio Doce and carried for over 600 km to its mouth on the Atlantic Ocean. Among many communities deeply affected are those of the Krenak indigenous people who inhabit the left margins of the Doce River. Based on historical and ethnographic description of the Krenak and the conflicts they have experienced in their territory over the years, the chapter analysis how this people found themselves affected by the Doce River mining disaster. Six years on, the disaster prevails as a process constantly renewed in the everyday life of privations to which all the affected groups have been subjected. For the Krenak people, the Watu is much more than a river that provides food, leisure, watering for animals and irrigation, a natural resource, in short, for survival. It is a relative with whom they establish relationships. A relative that welcomes, counsels, protects, and contributes to the construction of the Krenak person. Their loss, thus, poses a challenge to the Western justice system: the recognition of rights that can be formulated from other systems of valuation, based on cosmovisions and ontologies that question the reach of the forms of commensurability and translation imposed by the Western world.
Keywords: Mining; Doce River disaster; The Krenak people; Indigenous territory; Environmental conflict.
El pueblo indígena Krenak y el desastre minero del Río Doce
Resumen
El 5 de noviembre de 2015, la presa de relaves de mineral de hierro conocida como Fundão, propiedad de Samarco Mining Inc. Company, una empresa conjunta que involucra a Vale SA y BHP Billiton Brasil Ltda, colapsó en el municipio de Mariana, Minas Gerais. Cerca de 50 millones de metros cúbicos de desechos mineros se vertieron en el Río Doce y se transportaron más de 600 km hasta su desembocadura en el Océano Atlántico. Entre las muchas comunidades profundamente afectadas se encuentran las del pueblo indígena Krenak, que habitan en la margen izquierda del Río Doce. A partir de la descripción histórica y etnográfica de los Krenak y los conflictos que vivieron en su territorio a lo largo de los años, el artículo analiza cómo estas personas fueron afectadas por el desastre minero del río Doce. Seis años después, el desastre prevalece como un proceso que se renueva constantemente en la vida cotidiana a partir de las privaciones a las que fueron sometidos todos los grupos afectados. Para la gente de Krenak, el Watu es mucho más que un río que proporciona alimento, ocio, agua para los animales e irrigación, un recurso natural para la supervivencia. Es un familiar con el que establecen relaciones. Un familiar que acoge, asesora, protege y contribuye a la construcción de la persona Krenak. Su pérdida, por tanto, plantea un desafío para la justicia occidental: el reconocimiento de derechos que pueden ser formulados desde otros sistemas de valoración, basados en cosmovisiones y ontologías que cuestionan el alcance de las formas de conmensurabilidad y traducción impuestas por el mundo occidental.
Palabras clave: Minería; Desastre del Río Doce; Indígenas Krenak; Territorios indígenas; Conflictos ambientales.