“Estamos falando de quem chega a ter bi, eles não têm medo de pegar o coronavírus”: as festas e a pandemia, o que classe tem a ver com a percepção do que é um risco?
O presente artigo é parte de uma pesquisa sobre os impactos da pandemia entre DJs e músicos. A reflexão aqui proposta emergiu em uma das entrevistas realizadas para a referida pesquisa e o resultado aqui apresentado pode ser visto como um artesanato intelectual (no sentido de Wright Mills) que combina a entrevista com uma pesquisa em materiais jornalísticos on-line sobre a percepção e os efeitos da pandemia. O texto está dividido em duas partes. Na primeira parte, abordo as implicações teóricas e metodológicas envolvidas no estudo das elites. É dedicada especial atenção as dificuldades de acesso às elites, as consequências políticas, científicas e epistemológicas de uma agenda de pesquisa sobre as elites e como tais questões necessitam não só de ecletismo metodológico, mas também de criatividade para lidar com as dificuldades específicas da produção de conhecimento sobre grupos em que a assimetria de poder entre pesquisador e pesquisado é desfavorável para o pesquisador. Na segunda parte, exploro, à luz da discussão entre sociedade risco e sociedade de classes proposta por Ulrich Beck, como está se constituindo a percepção e a experiência dos riscos e formas de enfrentamento da pandemia entre as classes mais abastadas em comparação com as classes que não possuem as mesmas condições materiais.