O papel primordial da água nas paisagens do estuário guajarino, situado na foz do rio Amazonas, convida à investigação acerca da memória das comunidades ribeirinhas da cidade de Belém. Através da observação etnográfica das paisagens ribeirinhas do Porto do Sal, situado no centro histórico da cidade, analiso a relação dos habitués do lugar com o ambiente que, neste caso, representa a zona mestiça de água e de terra que define o lugar. A relação íntima e própria dos habitués do Porto do Sal com a baía influencia diretamente suas relações sociais dinâmicas e as suas expressões imaginárias. A partir da perspectiva da Antropologia Urbana e de acordo com uma abordagem “sensível” desenvolvida por Pierre Sansot (1973), realizada principalmente por meio das artes visuais é possível identificar aspectos do cotidiano de tais pessoas junto ao Porto do Sal e ao Rio Guamá, bem como as formas sociais que unem os sujeitos entre si e ao meio. A proposta de construção de uma reflexão considera o ambiente como elemento da experiência estética e ética com o lugar, com destaque ao registro sensorial na forma de habitar o mundo urbano e de senti-lo nos gestos mais cotidianos e no estar-junto em relação (Maffesoli, 1999; 2010), configurando as paisagens ribeirinhas da urbe na Cidade Velha. A descrição etnográfica visa produzir imagens do Porto do Sal enquanto um conjunto de paisagens com a intenção de estimular a reflexão sobre o imaginário no contexto amazônico, especialmente do mundo urbano belemense. Palavras chaves: Paisagens. Porto do Sal. Imaginário. Memória. Arte. Digging waters and exploring Porto do Sal: Essays on an ethnographic itineraryAbstractThe importance of water in the estuary landscapes of the Guajará Bay invites us to investigate the memory of the riverine communities of the city of Belém, Northern Brazil. Through an ethnographic observation of the riverine community of Porto do Sal, I propose to analyze the relationship of the inhabitants with their environment, in this case the encounter of water and land in the urban environment of Belém. The intimate relationship of the habitués of Porto do Sal with the Guajará Bay directly influences their social relations and imaginary expressions. From the perspective of urban anthropology and according to Pierre Sansot’s sensitive approach (1973), I propose a reflection that considers the environment as an aesthetic and ethic experience with the place based on a definition of the landscape as a phenomenon that originates from the human experience in the world. I put a particular emphasis on the sensitive register of the daily experience of the urban world, on the day-to-day gestures and the “being-together” (Maffesoli, 1999; 2010) that are specific to riverine landscapes of the waterside of Belém’s old port. In this case, the ethnographic description aims to produce images of Porto do Sal as an ensemble of landscapes, with the intention to stimulate reflection about the social imaginary in the Amazon region, specifically in the urban environment of Belém. Key words: Landscapes. Porto do Sal. Aesthetic. Memory. Art.
Mergulhar nas águas e trilhar o Porto do Sal: ensaios de um percurso etnográfico
